Desporto

sábado, 11 de maio de 2019

Benfica, um caso político (Capítulo 2)


Benfica, um caso político

Capítulo 2
 
   As receitas da formação e o novo contrato dos direitos desportivos permitiram ao Benfica ultrapassar os constrangimentos de financiamento referidos no capítulo 1 - resolução do fundo de investimento de jogadores e liquidação substancial do passivo bancário. Porém há mais de uma década que a Administração da SAD procedia à diversificação e dispersão das fontes de financiamento; captação de novos patrocínios e recurso ao mercado obrigacionista. A independência financeira tornou o clube-SAD menos vulnerável aos jogos de bastidores do sistema bancário - recordo que BES e BCP congelaram as contas do Benfica no tempo de Vale e Azevedo atirando o clube para uma crise sem precedentes. Com este quadro percebia-se que o passo seguinte na guerra financeira movida ao Benfica seria de natureza reputacional. Era necessário promover a desconfiança de patrocinadores e dos investidores de forma persistente. Mais uma vez foi o ex-Presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, a dar o primeiro alamiré logo no início do seu turbulento consulado; em plena operação de subscrição pública obrigacionista do Benfica, aquele dirigente, afirmou na comunicação social, que o Benfica estava falido! Foi evidente a intenção de suscitar a retração da procura dificultando o financiamento do rival. Afinal, este caso, configura a metáfora dum certo Portugal; a inveja e a falta de nobreza que consiste em preferir enfraquecer o outro em vez de aceitar o desafio da superação. Fracassada a tentativa seguiu-se o assunto dos vouchers, com o labéu da corrupção agregado. Todas as instâncias jurisdicionais desportivas decidiram contra o requerente mas o que importou foi degradar a credibilidade pública do velho rival. Em geral, a comunicação social entrou no jogo, esmiuçando-lhe todos os detalhes com honras de primeira página. Esgotado o tema, logo emergiu o caso dos mails roubados, como que saído de um qualquer automatismo secreto; um marginal com habilidades tecnológicas, que se afirmou empenhado em combater a corrupção no futebol, acedeu, à margem da lei, a documentação do clube que acabou manipulada e exposta no espaço público. As autoridades, céleres, fustigaram as instalações do clube da Luz com sucessivas e espalhafatosas buscas, de que resultaram novos danos reputacionais deste. E tudo isto ocorreu quando, em certos jogos do campeonato, os indícios de corrupção eram percetíveis à vista desarmada do comum dos mortais, sem que tal tivesse suscitado - que saiba - qualquer reação por parte das mesmas autoridades! É este quadro que suscita reflexão mais ampla; será que “o regime” político vigente tem algum problema com o Benfica? Eu acho que tem e que é necessário denunciá-lo, olhos nos olhos. Até porque é um caso extrapolável a outros setores da sociedade.  

Peniche, 8 de Maio de 2019
António Barreto