Desporto

sábado, 27 de setembro de 2014

Estoril-Benfica (2-3)

     
E lá conseguimos os três pontinhos que nos permitem afastar-mo-nos dos nossos principais rivais. Mas penámos um bom bocado! Vá lá, parabéns ao Derley por ter ganho aquela bola no lance que acabou por nos dar a vitória com o precioso contributo de Lima. Fico sempre apreensivo quando o Benfica marca cedo mais que um golo; compulsivamente gera-se a ideia de facilidade que já nos tem saído bem cara. Foi o caso deste jogo; com 0-2 nos quinze minutos iniciais a equipa baixou a intensidade enquanto os jogadores do Estoril arregaçaram as mangas e foram à procura da sorte, que lhes acabou por sorrir nos dois golos que marcaram ainda na primeira parte. Primeiro num desvio infeliz de Máxi a trair Artur e depois devido a um "quilovate" que deve ter impedido o árbitro e o Juiz de linha de verem o fora de jogo do finalizador do Estoril. O Talisca trouxe um novo perfume à equipa do Benfica e ao futebol nacional; no seu estilo gingão e divertido lá vai marcando uns golinhos de belo efeito. Julgo que estiveram todos bem, com destaque para Luisão, Enzo, Gaitan, Sálvio, Lima, Derley, John e até Artur. É evidente a necessidade de melhorar o posicionamento e a movimentação dos jogadores na fase defensiva, assim como "acabar com os porquês" no momento de finalizar.
      O Estoril está de parabéns apesar da derrota, visto que fez tremer o Benfica e os seus adeptos, jogando sobretudo na 2ª parte com muita intensidade e agressividade, acreditando que podia mudar as coisas.
      Humildade e trabalho continua a ser a receita adequada para a equipa do Benfica.

A farsa do choque tecnológico

Quando José Sócrates anunciou o choque tecnológico como principal desígnio económico do seu governo, percebi que viriam tempos difíceis para ao Técnicos nacionais. Passados cerca de sete anos, posso dizer que não me enganei. Entendamo-nos; entre muitas outras, uma das debilidades do nosso aparelho económico reside na baixa qualificação técnica dos nossos trabalhadores, e, já agora, dos empresários. Por isso, a qualificação contínua de técnicos, gestores e empresas é necessária aos ganhos de produtividade e valor acrescentado que nos permitirão aumentar os salários, os lucros e assim contribuir para a felicidade das pessoas e para o equilíbrio das finanças públicas. Só que a reduzida eficiência geral da formação profissional em curso acaba por produzir efeitos contrários. De facto, a centralização na capital dos centros de formação, as propinas muitas vezes extorsionárias, o nalguns casos anacronismo dos conteúdos e a infantilização vexatória geral com formadores muitas vezes sem percurso profissional relevante, acaba por produzir efeitos perversos e muito graves. Assim, o processo em curso fomenta a  exclusão profissional e social afastando milhares de Técnicos da sua profissão lançando as suas famílias no desespero, concentra a oferta de serviços técnicos na capital em prejuízo do resto do país, à excepção do Porto e uma ou outra cidade, condenando o resto do território à desertificação cada vez mais profunda. Esta realidade constitui nada mais nada menos que uma violação grosseira de dois dos princípios nucleares da democracia, a igualdade de oportunidades e a abolição da posição económica dominante, consagrada constitucionalmente, imputando aos governos a responsabilidade da correspondente garantia. De facto, Técnicos e Empresários vivem "apavorados" perante a incapacidade de planearem as respectivas carreiras profissionais e empresariais, graças à sucessão de novas exigências, muitas vezes sobrepostas, que os colocam alternada e sucessivamente dentro e fora do sistema, para gáudio do lóbi da formação e afins que assim vão enchendo os bolsos, constituindo, afinal, mais um imposto indireto que um serviço.
      A formação e certificação deve ser profissionalmente relevante e acessível a todos reconhecendo as competências adquiridas no terreno, recorrendo a métodos presenciais e não presenciais e parcialmente financiada pela UE, contrariamente ao que se verifica actualmente nalguns sectores, como, por exemplo o da refrigeração, onde Técnicos e Empresários tudo pagam, afinal, para salvação do planeta!
      Constituindo a tecnologia avançada uma das áreas económicas de maior rentabilidade, característica dos países mais prósperos, e ideia do choque tecnológico seria boa se tivesse convocado especialistas económicos e universitários, capitalistas e governo, para a concepção, fabrico e comercialização global dos equipamentos e sistemas decorrentes. Como fazem, por exemplo, alemães, holandeses, suecos, noruegueses, franceses, ingleses, dinamarqueses, italianos, belgas, etc. Mas não!, demagogicamente, hipocritamente, atiraram-se aos Técnicos para mostrar serviço, quem sabe, ao já designado "partido invisível".
      Tudo isto vem a propósito das declarações no Correio da Manhã de hoje (pág. 47) do Bastonário da Ordem dos Engenheiros, segundo as quais a redução crescente dos alunos da área da engenharia se deve "à desvalorização da engenharia na sociedade" , à incapacidade das escolas "cativarem os alunos para as áreas tecnológicas", referindo o exemplo da série "Morangos com Açucar" onde diz não haver um único personagem interessado em Engenharia e finalmente, imputando ao Ministério da Educação a responsabilidade pela não inclusão na sua página infocursos das áreas de engenharia. A tudo isto acrescento eu que, quem destruiu o Ensino Técnico estigmatizando-o ao destinar-lhe os alunos mal sucedidos, não deve aspirar ao sucesso de qualquer "choque tecnológico" de meia tijela.
      Quem é incapaz de sobrepor ao fascínio da Física da Matemática e do Português ao facilitismo das exóticas e inúteis áreas de papel e lápis, fomentando uma falsa economia do conhecimento sustentada na cultura pós-moderna que se tem difundido como uma praga, não pode ter aspirações a qualquer espécie de progresso tecnológico. Primeiro é necessário dignificar a actividade técnica a todos os níveis, sem as quais emergiria a barbárie, dignificar o trabalho e fomentar o respeito de cada um e das instituições por cada trabalhador honrado. E é nisto que consiste aa essência da democracia. Nem todos poderemos ser "Chefes de Mina" como referiu Mandela, mas nem só os Chefes de Mina têm direito à consideração geral e sem Mineiros, a mina não funciona.
      É exigir muito da 4ª República?    
 
(Foto de Vaco Grilo)