Segundo Mateus, a influência de Frank Carlucci terá sido decisiva para o desfecho do 25 de Novembro. Contrariamente a Henry Kissinger que preferia sacrificar Portugal aos comunistas a título profilático, Carlucci, então ao serviço da CIA, ter-se-á empenhado na defesa do regime democrático, dissuadindo as altas patentes marxistas (Costa Gomes) dos seus intentos totalitários e congregando aliados internos e externos na promoção da democracia, quer na frente diplomática, quer na mobilização de meios militares a partir dos EUA e do Reino Unido através do designado "Plano Callaghan". Pouca importância atribui Mateus ao "Plano Global de Operações" no desfecho do 25 de Novembro, liderado por Ramalho Eanes na frente militar e Manuel Alegre na frente partidária, tendo aquele organizado a reação das forças militares e civis democráticas à investida comunista. Um processo donde emergiria, a coragem e lealdade de Edmundo Pedro na sequência do caso das armas entregues por Ramalho Eanes ao PS, que o haveria de conduzir à cadeia, perante o vergonhoso silêncio de Ramalho Eanes, Mário Soares e Manuel Alegre, alegadamente co-responsáveis nesse processo, tendo sido adoptado pelos dirigentes socialistas um vergonhoso pacto de silêncio.
A palavra a Rui Mateus:
"Mas, graças ao acordo de governo com o PCP, Brown (Irving Brown; agente da CIA para o controlo da Federação dos Sindicatos Livres) acabaria por considerar Mário Soares "um traidor à causa ocidental"....
"Mário Soares, então perfeitamente alinhado com o PCP na sua verborreia anti-imperialista, ainda acreditava mais no seu antigo partido do que no seu próprio e afirmava a quem o quisesse ouvir que "se não temos, em Lisboa, um programa comum, a falta deve-se unicamente aos comunistas, que recusaram todos os convites para progredir nesse sentido."...
"É muito provável que a estratégia Carlucci, ao triunfar em Portugal com o 25 de Novembro de 1975, tenha mesmo representado o primeiro passo para a queda do muro de Berlim e para o descrédito do comunismo em todo o mundo."...
Interessante é a revelação do apelo ao voto em branco de Jorge Sampaio e do seu grupo (MES) nas eleições para a Assembleia Constituinte realizadas em 30 de Setembro de 1974, com o intuito de favorecer as posições do MFA e PCP, demonstrando uma peculiar e tardia conversão à democracia representativa. Por outro lado, terá sido o resultado eleitoral desfavorável ao PCP e seus aliados, nestas eleições, que precipitou a cavalgada totalitária que se lhe seguiu. Quanto à descolagem de Mário Soares relativamente ao PCP, defende Mateus ter-se devido à sua imensa vaidade pessoal em virtude de, no 1º de Maio, ter sido afastado da tribuna onde Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Álvaro Cunhal, colhiam o aplauso delirante da multidão. Diz Mateus que, a não suceder tal divergência, ter-se-ia assistido à cisão do Partido Socialista em 1975, com o afastamento do seu Secretário-Geral. Também o egocentrismo político e o pseudo-patriotismo de Soares ficaria bem expresso na recusa que impôs à Internacional Socialista de convidar "outros políticos" e representantes do MFA para a sua reunião ordinária que se realizaria em Londres a 5 de Setembro, sob os auspícios de Harold Wilson e James Callaghan, zeloso da exclusividade do seu partido. Tal como revelaria o seu entendimento de "ética republicana" quando, perante a proibição interna de financiamentos estrangeiros a partidos políticos e face à menção aos donativos daquela organização ao Partido Socialista, recomendar o uso do termo "Democracia" em vez de PS. Por esta altura, o dinheiro, informalmente, das mais variadas proveniências, entrava a rodos, "Naquele período, a resistência ao PCP representava um verdadeiro sorvedouro de dinheiro, que Mário Soares ia mandando entregar por intermédio dos seus colaboradores", permitindo-nos perceber o histórico desprendimento de Soares relativamente ao vil metal, bem patente na escandalosa expressão "o dinheiro logo aparece", com que respondeu ao repórter, que, por altura da inauguração da Casa da Música o questionou sobre a não menos histórica derrapagem orçamental respetiva.
Da escalada que conduziria ao 25 de Novembro, refere o cerco ao Ministério do Trabalho ordenado pelo PCP a 7 de Outubro, a ordem deste de contra-ofensiva das forças populares a 9 do mesmo mês, a destruição do emissor da Rádio Renascença a 7 de Novembro ordenada pelo Conselho da Revolução, o sequestro durante 36 horas do Primeiro-Ministro e dos Deputados da Assembleia Constituinte - findo o qual os Deputados comunistas terão sido aplaudidos após terem recebido tratamento especial -, seguido de imponente manifestação do PCP com a extrema esquerda contra o Governo. Refere a revelação de Melo Antunes a 23 do mesmo mês ao Nouvelle Observateur acerca dos planos do PCP de tomada do poder contra a democracia e a convocação da Intersindical para uma greve geral a realizar a 25 de Novembro. No comício realizado na Alameda D. Afonso Henriques o PS exige a clarificação de Costa Gomes, afeto ao PCP, e na madrugada de 25 de Novembro, Mário Soares, sua família e Manuel Alegre retiram para o Porto enquanto as sedes do PS armadas por elementos do Grupo dos 9 se preparam para o confronto. O golpe militar iniciou-se com a tomada das bases aéreas à volta de Lisboa pelos paraquedistas, tendo o Conselho da Revolução declarado a sua oposição pelas 1800 horas e pelas 2100 horas a declaração de Estado de Sítio pelo Presidente da República. Em consonância com o relato do Capitão Sousa e Castro, Costa Gomes inviabilizaria o golpe ao mandar chamar Otelo a Belém - por Sousa e Castro - onde aquele ficaria detido, batendo o PC em retirada estratégica, tendo-se seguido a detenção em Belém do Capitão Dinis de Almeida no dia seguinte, seguindo-se a rendição dos soldados revoltosos.
Estranhamente, ignora Mateus o precioso contributo da Companhia de Comandos da Amadora que, comandada pelo, injustamente esquecido, José Apolinário, chegou em tempo recorde ao quartel da Policia Militar, então sob comando do famoso Major Tomé, cercando-o e impedindo a saída dos seus ativos, operação da qual resultou um ferido mortal. Mas refere a fatídica declaração de Melo Antunes perante as câmaras da RTP da indispensabilidade da participação do PCP na construção do socialismo o que nos remete para a histórica expressão de Cunhal perante os seus acólitos - testemunhada por Zita Seabra - de que, para o PCP, se tratava de dar um passo atrás para mais tarde dar dois passos em frente e, perante a imprensa, de que Portugal nunca teria uma democracia parlamentar normal. E assim aconteceu. Com o país à porta da insolvência, está o PCP a tentar o fatídico segundo passo.
Diz Mateus que, em resultado da intensa ação diplomática de um tal Comité de Apoio à Democracia Portuguesa, o poderoso Leonid Brezhnev, perante a ameaça de denúncia dos acordos de Helsínquia, terá aconselhado moderação ao seu camarada e amigo Álvaro Cunhal (esse grande patriota).
Diz ainda Mateus, e segundo Sousa e Castro, é verdade, que, se o PCP tem mandado avançar os seus aliados militares e a Intersindical, de nada teria valido a Lisboa o "Plano Global de Operações" (de Eanes) mas acionaria o Plano Callaghan, a partir do norte do país. Plano este que, conduzido pela CIA e o MI6, após identificar as forças militares e civis anticomunistas, lançariam uma série de operações clandestinas e garantiriam apoio logístico aos militares portugueses fiéis ao regime democrático. Tal plano, teria sido negociado por Mário Soares e utilizaria meios aéreos e marítimos para abastecimento e manutenção da resistência da zona norte efetuando-se raides aéreos contra posições comunistas na zona de Lisboa, tendo ficado no ar a dúvida quanto ao verdadeiro líder do contragolpe. Quanto a mim, não tenho dúvidas; Eanes esteve na frente de combate coordenando as forças leais à democracia e Soares foi para o Porto com a família.
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