Desporto

domingo, 28 de julho de 2013

AS 10 QUESTÕES DA RECUPERAÇÃO; extratos (João César das Neves)

Na sequência do seu excelente livro "As 10 questões da crise", João César das Neves lançou recentemente este "As 10 questões da recuperação", que, com o rigor e lucidez que lhe são habituais, nos ajuda, fundamentadamente, a perceber as consequências associadas às várias propostas de saída da presente crise económica. Seguem-se alguns extratos significativos desta obra:
 
 
QUEM TEM CULPA DISTO?
 
Na economia, não está mais ninguém a não ser os agentes económicos. Mesmo quando se fala do Estado, pelo menos no regime democrático, ele é aquilo que os eleitores fizeram e sobrevive apenas agradando-lhes.
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Precisamente por este sistema descentralizado de milhões de elementos não ser fácil de aceitar, a grande maioria das pessoas que sofre a crise prefere atribui-la a monstros maléficos.
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O mundo é realmente um undo cão, como eu posso ver olhando-me ao espelho. E todos somos vítimas e culpados dele.
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 Para explicar a crise, devemos primeiro livrar-nos dos nossos fantasmas, aqueles expetros que povoam as nossas raivas.
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Mas a maldade e a tolice dos poderosos são da mesma natureza que a minha.
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Em vinte anos quase multiplicámos por dez o nosso endividamento.
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O nsso problema de fundo, a causa última da crise, está na mentalidade instalada, laxista e gastadora que o acesso ao crédito fácil gerou.
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A máquina empresarial nacional viu-se coberta com uma camada de atividades falsamente produtivas que pareciam rentáveis porque viviam à custa de empréstimos.
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Equanto a dívida privada pode ser, e normalmente é, "capital produtivo da nação" a dívida pública para pagar gastos correntesé sempre retirada desse capital.
Por tudo isto, o nsso problema político está realmente numa dívida excessiva do Estado.
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Uma casa nova, um carro, uma roupa um bocadinho melhor, uma viagem ao estrangeiro, presentinhos para os netos. Pequenas coisas que antes não tinhamos, e que multiplicadas por dez milhões de pessoas dão uma grande dívida.
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Mas a verdade é que não nos podemos libertar da nossa dose de culpa na orientação do país.
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Em Portugal, nunca houve nem pode haver pensamento liberal. Há críticos e defensores do Governo,mas da extrema-esquerda à exstrema-direita toda a gente só fala do Estado.
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Não há roubos, desfalques ou corrupção suficientes para levar a dívida externa acima do dobro do produto nacional.
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A recessão e o ajustamento não são uma questão de polícia, mas um movimento económico de fundo. Essas queixas são apenas confusões ingénuas, formas convenientes de descarregar os nervos ou álibis para esconder a verdade.
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Só existe uma entidade com poder suficiente para provocar uma crise destas: o povo português.
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O problema do país é que todos vivemos anos a gastar um bocadinho mais do que podíamos. Não era muito e não parecia mal, mas esse pouco multiplicado por milhões de cidadãos honestos dá uma fortuna.
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Uma nuvem de gafanhotos come muito mais do que meia-dúzia de elefantes.
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   - somos o terceiro dos 15 países da Europa  com mais quilómetros de auto-estrada por habitante-
   - em 2008 éramos o terceiro dos Quinze com mais subscrições de telemóveis por habitante.
   - segundo os dados do Benco Mundial, em 2007, éramos o quarto país dos Quinze com mais despesas em saúde, em percentagem do PIB.
   - pelo segundo ano consecutivo, Portugal ocupou, em 2010, o primeiro lugar na tabela da comissão europeia sobre utilização de serviços públicos online.
   - em 2010, Portugal era o décimo país mais atrativo do mundo para energias renováveis.
   - há vários anos que a formação em Gestão das Universidades Católica Portuguesa e Nova de Lisboa está entre as melhores do mundo, segundo os rankings do Finantial Times, tendo, em 2012, entrado também para a lista a Porto Business School.
   - Portugal, com a Via Verde, foi o primeiro país do mundo a aplicar um sistema de teleportagem em toda a sua rede de autoestradas.
   - o Multibanco é o melhor sistema da Europa nas funcionalidades disponíveis.
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Tudo isto significa que o problema não está tanto na gravidade da situação mas na disparidade entre realidade e expectativa.
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Dizemos que a solução nacional está na agricultura, pesca e indústria, mas poucos querem ir para os campos, embarcar ou ser operário.
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Não será fácil encontrar a saída. Mas só a vamos ultrapassar se mudarmos de atitude.
 
(Continua) 

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