Desporto

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O Momento do Benfica (IV)

                                                                                   Das Infraestruturas (cont.)

  
  Dois pavilhões e duas piscinas asseguram o ecletismo do clube e a disputa, em geral, os títulos internos. Apesar da persistência e do sucesso interno de algumas modalidades, à exceção do hóquei em patins e do futsal, nenhuma outra se destaca no plano europeu. Não será por falta de instalações. Suponho que seja uma inevitabilidade do tipo orçamental.


   Destaque-se a metódica persistência com que o clube reage às adversidades, nas modalidades ditas amadoras, sempre com o fito na vitória, que nem sempre ocorre. Nunca desiste. Há uma certa nobreza nisto que me agrada.

   O Museu é outra obra emblemática a qual, apesar de muito desejada pelas Direções precedentes, nenhuma delas teve engenho de concretizar. Preservar a memória dos feitos do clube é um fator de agregação de adeptos e simpatizantes e de difusão dos valores daquele.

   Simultaneamente, constitui um permanente gesto de reconhecimento aos que construíram a saga benfiquista. Crédito a Filipe Vieira. E um voto de censura à Câmara Municipal de Lisboa e à sua vereadora Helena Roseta, pelas dificuldades que criaram à concretização do projeto, apesar dos evidentes benefícios dele decorrentes para a Capital. Mais uma vez veio ao de cima a incapacidade de certas entidades públicas ultrapassarem velhos preconceitos contra ao Benfica. Como se estivesse a mais na nova ordem “democrática”.

   Tão importante como o novo Estádio e o complexo do Seixal, foi a Benfica TV. Suponho até que terá sido mais importante.

   Antes de mais foi motivo de união da “nação” benfiquista graças ao pioneirismo interno e ao aprofundamento da interação dos adeptos com o clube e com algumas das suas figuras carismáticas, em especial as antigas glórias.

   A Benfica TV abanou um dos principais pilares do poder portista; a Olivedesportos. Os direitos desportivos, obtidos, segundo creio, de forma fraudulenta, permitiam-lhe atribuir os recursos financeiros correspondentes pelos clubes conforme a adesão destes do à causa azul. Foi nisto que consistiu a democracia no futebol. 

   A recusa de renovação do contrato de cedência dos direitos por parte do Benfica - após doze longos anos de dependência -, fez ruir este processo. Durante uns anitos. Os anos que culminaram no histórico tetra campeonato. E foi a entrega desses mesmos direitos à mesma entidade - por mais dez penosos anos - a causa, quanto a mim, já se vê -, do falhanço do mirífico penta.

   A justificação terá sido o aumento substancial da contrapartida financeira. Quarenta milhões por ano! A contrapartida não financeira foi a perda da independência do clube, a deceção dos adeptos e o fortalecimento dos rivais. Um erro crasso. Uma espécie da hara-quiri. Desnecessário. Imprudente. Um novo operador, a Elevensports, estava à porta, dirigida a um mercado bem mais amplo, com uma oferta persuasiva e disponibilidade bem mais generosa. A cedência à MEO, foi providencial… para a recuperação da Sport TV e…dos rivais. O Benfica é a Santa Casa do futebol nacional e, paradoxalmente, uma espécie de filho bastardo.

   Pacientemente reformulada na sequência das mudanças políticas verificadas em 2015 agregando históricos aliados, a Sport TV, através da MEO - para não escandalizar adeptos - obteve o precioso contributo dos dirigentes do Benfica viabilizando a empreitada. Filipe Vieira fez-lhes a vontade. Sem consultar os adeptos. O penta foi-se. Esta época “vai bem encaminhada”, rumo ao “p’ró ano é que é!”. Um novo e longo ciclo de betão foi já anunciado; uma nova seca de títulos vem a caminho. Erro de cálculo? Ou cálculo errado?

   Errado para uns, certíssimo para outros. Quer no anterior campeonato quer no atual, escandalosamente adornados com o patético VAR, as “anomalias” sucedem-se com tal frequência que se tornaram normalidade. Sejam assistências ridículas de defesas a avançados que resultam em golo fácil, seja ajuizamento escandalosamente errado de lances decisivos - para que serve o VAR? -, seja pela assimetria de sanções a atletas e dirigentes, o campeonato português transformou-se numa orgia, para deleite dos velhos barões da bola que uma justiça esclerosada e cúmplice deixou, injustificadamente, impune, constituindo-se, ela mesma, como a causa primeira do desmoronamento do futebol nacional. E do descrédito do regime político, que nem merece o nome de democracia.

   Se, até 2017, a BTV foi um fator de união dos adeptos, hoje tem o efeito contrário; a crítica ou a dissidência são recusadas insultuosamente ainda que fundamentadas. O messianismo é alimentado continuamente com insuportável retórica laudatória. A BTV de hoje é uma deceção; fechada em si própria é o espelho da Direção, negando a realidade por mais evidente que seja. O terceiro anel caiu com o velho Estádio e com ele, um pedaço do velho Benfica.

Peniche, 15 de Novembro de 2018

António J. R. Barreto

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