OPA-2019 – Benfica
Ressarcimento do
investimento dos acionistas que responderam à primeira emissão acionista, restituição
da Benfica-Sad, na quase totalidade, ao clube, blindagem da Benfica-Sad a
intromissões indesejadas e viabilização de parceria futura, causas apontadas
para a OPA em curso, merecem-me os seguintes comentários:
(Gustav Courbet, Fishing Boats on the Deauville Beach 1866)
Fica bem ao Benfica esta
atenção para com os que acudiram à subscrição de ações e permitiram a
viabilização da constituição da Sad. Aos “sortudos”, investidores de percurso,
que beneficiarão desta generosidade resta dar os parabéns, considerando a
eventualidade do caráter acidental da respetiva aquisição. Certo é não haver
razões para afastar completamente a ideia de a atual OPA estar prevista desde
então, o que seria gravíssimo.
A detenção do
controlo total da Sad pelo clube sucede à recuperação, por este, da posse do
Estádio e da BTV, visando dissipar receios de apropriação funcional externa daquela.
Fica a dúvida quanto ao processo de tomada de decisão, no clube, das questões
estratégicas relativas à Sad; li por aí que, com 95 % do capital acionista,
deixa de haver obrigatoriedade de discussão em Assembleia Geral de sócios das
matérias estratégicas relativas à Sad, o que, a verificar-se, suscita fundadas
preocupações.
De todo o modo, não
me parece razoável que um eventual candidato à Presidência se dispusesse a um
investimento da ordem dos 30 milhões de euros para assumir uma posição
minoritária na Sad. Bastar-lhe-ia anunciar uma estratégia agressiva em termos
de competitividade externa, um ajustamento na política de formação e o
recrutamento de um ou dois jogadores de topo para a equipa principal.
Uma eventual parceria futura poderá
proporcionar um salto qualitativo significativo desde que se acerte com ela,
alguém que traga algo positivo; capital, conhecimento e uma boa rede de
contactos. Pode ser uma boa ideia. A verdade é que o atual quadro acionista não
acrescenta qualquer valor à Sad; nenhum dos atuais acionistas, à exceção de
Filipe Vieira, tem competências em matéria de gestão de entidade desportiva,
com a agravante de um deles ser inimigo do Benfica - uma das várias
vicissitudes das Sad.
Por outro lado, se
esta operação servir, nem que seja só para afastar a Olivedesportos, dou por bem
empregues os 32 milhões! Como foi possível ter-se mantido o inimigo entre portas,
durante 18 anos? Com o pretexto do alegado dever de gratidão, permitiu-se que
um dos principais rivais, a Porto-Sad, se mantivesse permanentemente ao
corrente de todas as decisões, estratégicas e operacionais da Benfica-Sad! Como
foi tal possível? Em simultâneo proporcionou-se à mesma entidade lucrativo
negócio com a entrega a pataco dos direitos desportivos que lhe permitiram financiar
rivais e adversários!
Finalmente o momento
escolhido para lançar esta OPA não foi o melhor; contribuiu para mais um
insucesso da participação da equipa de futebol na Liga dos Campeões, quando,
como se verificou, era possível ter passado à fase seguinte. E isso, não só
comporta perdas financeiras imediatas avultadas como desmoraliza as hostes
induzindo eventuais perdas futuras, desportivas e financeiras. É o chamado
custo de oportunidade. Só o futuro dirá se foi corretamente avaliado.
Mais avisado teria
sido reforçar cirurgicamente a equipa apostando num percurso mais longo na Liga
dos Campeões e depois então avançar com a OPA.
Peniche, 29 de Novembro de 2019
António Barreto
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