A Morte de Amílcar
Cabral
Ouvi há dias, num debate na rádio em que
participava Jaime Nogueira Pinto, um dos participantes, que não identifiquei,
referir que Amílcar Cabral teria sido assassinado pela PIDE. Esta afirmação,
apesar de falsa, vai-se consolidando junto do incauto cidadão comum, crente na
honestidade dos alegados progressistas que a propagam com o intuito de denegrir
o Antigo Regime, atribuindo-lhe atos vis, e com isso prevenir eventuais
recidivas políticas.
No seu livro “Em Nome da Pátria” João José Brandão Ferreira explica as
circunstâncias do assassinato de Amílcar Cabral e identifica os seus autores
(pág.. 469 e 470).
Amílcar Cabral foi morto em 20 de Janeiro de 1973 pelo guerrilheiro do
PAIGC Inocêncio Kani, ao reagir à
tentativa de detenção no Quartel-general daquele grupo armado na Guiné Conakri. Cabral, sua mulher Ana
Maria, Aristides Pereira acompanhados por um jornalista russo, foram
surpreendidos no regresso de uma receção a que tinham assistido na embaixada da
Suécia em Conakri, tendo, por essa
razão, faltado à conferência de Samora Machel em Bokê. Aristides Pereira foi,
previamente, preso e metido numa embarcação pelo mesmo Inocêncio Kani, acompanhado dos, também
guerrilheiros, Mamadú Touré e
Aristides Barbosa. Ana Maria, de
imediato, avisou as autoridades guineenses e os restantes dirigentes do PAIGC
que se encarregaram de mandar fuzilar os três guerrilheiros envolvidos.
Diga-se porém, que um dos objetivos da operação “Mar Verde”, planeada e
chefiada por Alpoim Galvão em 22 de Novembro de 1970, consistia na prisão ou
morte de Amílcar Cabral - fracassada por não se encontrar onde era esperado. Por
outro lado, num contexto de guerra declarada, é legítimo a qualquer das partes
matar o opositor.
Cabral, ex-funcionário público na Guiné Bissau, era um moderado, cuja
morte não foi benéfica para os interesses portugueses - militares e políticos.
Opôs-se à utilização, pela guerrilha, dos mísseis SAM 7, por considerar
prejudicial aos interesses do partido a escalada bélica daí resultante e por
estar convencido de que as forças portuguesas sairiam em vantagem. Amílcar
Cabral declarou publicamente em vários fóruns, considerar esvaziada a
justificação da luta armada pela independência, num contexto de plena integração
de cada parcela do território português, onde a igualdade de direitos fosse
total e universal.
Dois meses após o assassinato de Amílcar Cabral, a 20 de Março de 1973
foi disparado o primeiro míssil. A morte do líder foi uma das razões invocadas
pelo PAIGC para a intensificação do esforço de guerra, numa tentativa de
moralização das suas tropas. Seguiram-se os ataques continuados aos
aquartelamentos de Guilege - a sul - e
de Guidage - a norte -, com
flagelação continuada de artilharia - os guerrilheiros furtavam-se ao combate de
proximidade. O comandante da guarnição de Guilege, major Alexandre Coutinho
Lima, em consequência do ataque, ordenou a retirada, da guarnição e da
população, sem autorização superior, em 19 de Maio de 1973, facto que o levaria
à prisão e julgamento em Tribunal militar, por ordem do general Spínola.
Em Guidage, as tropas
portugueses resistiram graças ao reforço de uma companhia de para-quedistas. A
retaliação surgiu de imediato, em 19 de Maio do mesmo ano, com a destruição da
grande base do PAIGC em Comumbori, no
Senegal.
A declaração de independência do PAIGC, a 24 de Setembro de 1973 em Madina do Boé, zona despovoada do leste,
abandonada pelo exército português por ser desprovida de interesse militar, não
passou de manobra de propaganda política. Na ONU, controlada desde 1961 por
países afro-asiáticos de matriz socialista, o “Estado Fantasma” acabou reconhecido
por cerca de 60 países.
Há quem diga que foi aqui que começou o 25 de Abril, porém parece-me que
tal ocorreu com a subida de Marcelo Caetano ao poder.
Peniche, 21 de Dezembro de 1979
António
Barreto
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