Rui Costa e o Benfica
Rui Costa faz parte de um grupo restrito de ex-jogadores do Benfica com
lugar especial no coração dos adeptos. Não tanto pelo que fez no clube enquanto
jogador, mas por, em momento conturbado, lhe ter sido leal, ter agido como seu
embaixador oficioso num dos grandes palcos do futebol europeu - o italiano -,
pelo vínculo afetivo que sempre ostentou com orgulho, e por ter regressado,
incondicionalmente, quando o Benfica ainda fazia, angustiadamente, o “caminho
das pedras”.
Graças à perspicácia de Eusébio, Rui Costa ingressou nas camadas jovens
do Benfica, em 1981, aos 9 anos de idade - após quatro anos nas escolas do
Damaia Ginásio Clube -, onde, durante oito anos, com os seus dotes pessoais, assimilou
a singularidade e excelência que caracterizam o futebol do Benfica.
Findo o ciclo da formação, após uma época - 90/91 - ao serviço da
Associação Desportiva de Fafe, onde permaneceu a título de empréstimo, a jovem
promessa regressou ao “clube do coração” em 91, ano em que se sagrou campeão do
mundo de sub-20 - em pleno Estádio da Luz contra a seleção do Brasil -, onde
permaneceu até 1994, tendo então vencido uma Taça de Portugal - 92/93 - e um campeonato
de Portugal em 93/94.
A qualidade do seu futebol, caracterizada pela superior cultura tática,
a elegância e inteligência com que se movia no terreno, a suavidade com que
recebia e conduzia a bola, a eficácia que conseguia nos passes longos e no
forte remate de meia distância, perfumava os relvados, para gáudio dos
espectadores e orgulho dos benfiquistas. Às qualidades futebolísticas, Rui
Costa juntava um cavalheirismo invulgar, graças ao qual granjeou o respeito geral,
dentro e fora do clube, entre colegas e adversários, entre os adeptos do
futebol, independentemente da respetiva simpatia clubista.
Rui Costa pertence a uma estrita elite de jogadores de futebol que,
intrinsecamente vinculados a um clube, alcançaram o respeito e admiração geral.
O caráter leal de Rui Costa não vacilou no verão quente de 1993, quando,
contrariamente a outros colegas - António Pacheco, Paulo Sousa e João Pinto -
declinou o convite de Sousa Cintra - à época Presidente do Sporting - para
rescindir o seu contrato com o Benfica e ingressar no clube de Alvalade.
Vivia-se então grande turbulência no clube da Luz, sob a presidência de Jorge
de Brito, histórico e indefetível benfiquista, a braços com grave crise de
tesouraria e um passivo de 4,5 milhões de contos - equivalente a 22 milhões de
euros!
Um gesto que nenhum benfiquista que viveu esses temos, esquecerá,
reconhecido.
Referenciado na Europa, o
“Maestro” ingressou na Fiorentina em
1994, onde, em sete temporadas, conquistou a admiração dos tiffosi, duas taças de Itália e uma supertaça, tendo sido
considerado, por várias vezes, o melhor 10 do campeonato[p1] [p2] ,
no qual, ao serviço da Juventus, pontificava, nada mais nada menos, que Zinedine Zidane.
Memorável foi o ocorrido no jogo de apresentação da equipa do Benfica
para a época 94/95, com a Fiorentina
como equipa convidada, em que o “Maestro”, atuando pelos “violas”, se comoveu,
às lágrimas, ao marcar o golo que daria a vitória à sua equipa.
Algo que consolidou o vínculo afetivo ao clube e calou fundo no coração
dos benfiquistas.
Peniche, 17 de Novembro de 2019
António Barreto
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