O quarto poder
Há um consenso acerca
da influência da Comunicação Social nas democracias a ponto de ser considerada
como o 4º Poder. Um poder informal mas real e fácil de compreender. Em
democracia - um homem um voto - o espaço público é o local privilegiado de
debate e formação da opinião pública, das convicções do eleitor, daí a
importância de comunicação social. Importância crescente devido à proliferação
de plataformas e órgãos de informação, aumento da frequência de emissões e
publicações e alargamento do nível de escolaridade das populações. E é por isso
que muitos a consideram, não o quarto, mas o primeiro poder! Nunca tal foi tão
evidente para mim como nestas eleições; a declaração de vitória de Joe Biden
pela CNN, primeira entidade a fazê-lo, com as urnas ainda em alvoroço e a
comoção do anunciante, denunciam a guerra que a Comunicação Social,
maioritariamente democrata, travou contra o Presidente Republicano durante todo
o mandato. Não o posso afirmar, ninguém poderá fazê-lo, mas pergunto-me se não
terá sido a Comunicação Social americana a decidir estas eleições. E se foi
desvirtuou um regime onde cabe aos eleitores o primado da soberania política. Uma
democracia desvirtuada não é democracia.
A tribalização política
A degradação do
diálogo político interpartidário, fonte da criação de uma sociedade mais justa
e próspera esteve francamente exposta durante todo o mandato de D. Trump. Os partidos entrincheiraram-se
nas suas posições e passaram a considerá-las abomináveis quando adotadas pelo
oponente. Ignóbeis e absurdos ataques pessoais perpetraram-se continuadamente,
dum e doutro lado da barricada, deixando de fora os grandes temas da nação. A insana
e irracional luta pelo poder sobrepôs-se a todas as regras de boa conduta
democrática, dominando tudo e todos. Um fenómeno que não é exclusivo dos EUA
mas característico da maioria das democracias, comprometendo-as. Ou evoluem ou
morrerão. O monopólio partidário da representação política está em causa.
O Poder da Rua
O ativismo inundou a rua em toda a legislatura, com inúmeras
e violentas manifestações de minorias reivindicando direitos, amplificando e
extrapolando qualquer acontecimento negativo transformando-o em tragédia sociai
coletiva. Exigiu-se a destituição de órgãos legítimos vigentes. Imputou-se-lhes
a responsabilidade de todas as iniquidades sociais e económicas. Reivindicou-se
a legitimidade da ação direta. Criou-se um estado de pré-guerra civil
condicionando e bloqueando a governação sufragada democraticamente. Tudo
ocorreu num contexto de progresso económico notável, de pleno emprego e de
integração das minorias. O poder da rua, pré-revolucionário, atribui-se
legitimidade própria pretendendo sobrepor-se à legitimidade do poder
democrático. A entropia política e social foi uma constante, internacionalizou-se
e pôs em causa a legitimidade dos centros de poder. A anarquia social estabeleceu-se,
alimentada pelo partido derrotado anteriormente e, suspeita-se, por entidades
externas empenhadas na permanente luta pelo domínio geoestratégico. O direito
de manifestação, em muitos casos, extravasou as prorrogativas legalmente
consagradas. Um fenómeno que se verifica nas democracias e que dá lugar ao
paradoxo da subjugação das maiorias pelas minorias graças à grande intensidade
do ativismo destas.
Peniche, 6 de Dezembro de 2020
António Barreto
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