Gosto do Ministro Álvaro Pereira; tem uma formação sólida em
economia, conhece muito bem a economia portuguesa - frequentava o seu excelente
blogue antes de ser ministro -, teve sucesso num país estrangeiro onde a meritocracia
reina, fala pouco, trabalha muito, não tem “peneiras” e sintetiza o Português
comum; honrado e trabalhador, sem vínculo às estruturas partidárias que quase destruíram
o País em 38 anos de oligarquia a que pomposamente dão o nome de democracia
representativa.
Rotinado nos hábitos culturais do seu País de acolhimento -
Canadá - foi alvo de chacota geral quando pediu que o tratassem, simplesmente, por
Álvaro! Até o ilustre professor Marcelo se pronunciou no seu programa semanal,
considerando desadequada tão inusitada
sugestão!
Ora este singelo ato representa, nada mais, nada menos, a
maior revolução mental de que a sociedade Portuguesa necessita. Estigmatizada e
bloqueada pelas “trincheiras” e “torres de marfim” cavadas e erguidas pelos
grupos que se julgam “donos de Portugal” e que teimam em vedar a ascensão
profissional e social aos outros, a sociedade portuguesa continua fiel às tradicionais
amarras da subserviência e do amiguismo.
Reproduzo um extrato de uma excelente crónica de João César
das Neves, acerca do livro “Matemática em Portugal” da autoria de Jorge Buescu patrocinado pela Fundação
Francisco Manuel dos Santos, que sintetiza muitíssimo bem esta realidade:
“Os verdadeiros
culpados são os catedráticos, o meio académico, as políticas de educação. Foi a
sua secular tacanhez, boçalidade e obscurantismo que estiolou a Ciência e
Matemática em Portugal. E não é preciso fazer arqueologia para saber do que se
trata. Repetidamente (págs. 23, 68, 79, 90), o livro nota a semelhança entre os
desastres antigos e os males que hoje se apontam ao ensino: "falta de
exigência e de rigor, ... facilitismo,...cultura de mediocridade" (págs.
68 e 69).
Mas a questão não se reduz ao campo
educativo, pois os tais lentes que sabotaram a ciência nacional estiveram ativos
em todas as áreas. A monstruosa falsificação histórica que o livro denuncia não
se limitou à Matemática, mas afeta todo o nosso imaginário coletivo. Podemos
dizer que fomos todos enganados em alguns traços da interpretação oficial da
nossa história.
As elites intelectuais dos séculos XIX e
XX construíram uma magna narrativa civilizacional para explicar não apenas para
a miséria educativa, mas todo o desenvolvimento nacional. Mas nesse relato os
heróis estão trocados com os vilões, as forças progressivas com as retrógradas,
as causas com consequências.”
Aqui chegados,
vejamos agora o caso dos famigerados pastéis de nata. Sugeriu o honrado Álvaro
a internacionalização do fabrico dos famosos pasteis através de franchising,
para a promoção do crescimento económico através das exportações, método que
poderia alargar-se a outros produtos de fabrico tradicional.
Caiu o carmo e
a trindade! Choveram anedotas de todos os setores quer políticos quer populares; exatamente os mesmos que exigem
governantes com toque de midas! Afinal, Álvaro, sugeriu “apenas” o que Michel Porter recomendou há cerca de vinte
anos,na sequência do estudo que fez sobre a economia portuguesa encomendado
pelo governo de Cavaco Silva, a que ninguém ligou qualquer importância! Recomendou
o cotado economista, que Portugal deveria concentrar-se em desenvolver o que
sabia fazer bem, ou seja, a sua economia tradicional! Ora é precisamente o caso
dos pastéis de nata!
Então vamos a
números. A famosa Fábrica dos Pasteis de Belém emprega 150 pessoas, fabrica 20
mil pasteis por dia e fatura, diariamente só neste produto, 21 mil euros! Para
termos uma ideia da magnitude do negócio, imaginemos um objetivo de 1000
estabelecimentos com semelhante produção em valor - cerca de 37 lojas por país membro
da EU. Teríamos então uma receita diária de 20 milhões de euros! 7300 milhões
de euros ano! Quase tanto como a receita turística total anual do país! Agora
imaginemos que era possível replicar este caso em mais 10 produtos…pois é…73000
milhões de euros! Quase metade do PIB - cerca de 160000 milhões de euros! Paremos
por aqui.
Afinal, quem é
o pastel nesta história? Bebam uma coca-cola a acompanhar um hambúrguer e
respondam vós próprios.
Por mim retiro
a lição de que, nem sempre é boa ideia rirmos das ideias dos outros, porque
pode dar-se o caso de, afinal, nos estarmos a rir de nós próprios.
Força Álvaro,
tens aqui um fã.
AB
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