Comecei a dar formação em horário
pós-laboral em 1993 e, a partir de 2005 também em horário laboral.
Já tive turmas de formandos em cursos
com equivalência do 7º ao 12º ano, cursos profissionais para desempregados e
cursos de actualização de diversas áreas direccionados a trabalhadores e
gestores de empresas. Quase todos eles, excepto pouquíssimos exemplos, frequentaram
as aulas esperando simplesmente pelo final delas, completamente alheados e sem
interesse em tirarem algum proveito da aprendizagem, inclusivamente tentando
boicotar o raciocínio do formador e o consequente avançar da matéria.
Em 2008 fui convidado para um projecto
de formação na refinaria da Sonangol em Luanda e como era um novo desafio
resolvi aceitar. Desde então tenho ido a esse país quase todos os anos,
inserido em diversos projectos de formação a trabalhadores do sector da
indústria petrolífera.
Esta síntese tem a ver com as diferenças
de mentalidade entre os formandos portugueses e angolanos.
Os formandos portugueses, tanto
adolescentes como adultos, chegam aos centros de formação em transporte
próprio, bem vestidos com roupa de boas marcas, bons computadores, com
telemóveis da última geração com os quais passam o tempo de aula a tentar jogar
e enviar mensagens, enquanto os angolanos, chegam nos transportes colectivos,
ou transportes das empresas para as quais trabalham, vestidos modestamente e, pouquíssimos
com computadores.
Ao contrário dos formandos portugueses,
os angolanos têm sede de aprendizagem, desejam aprender o máximo possível,
apresentando problemas, questionando quando têm dúvidas, sem pressas, nunca
olhando o relógio, mesmo que a hora de final do tempo da aula já tenha
terminado.
Esta síntese tem a ver com uma futura
diferença de sociedade laboral entre o nosso país e Angola, pois há alguns anos
os angolanos vinham para o nosso país trabalhar nas obras, hoje somos nós, na
grande maioria, que vamos realizar esses trabalhos lá, quando as nossas
empresas de construção aproveitam as sobras deixadas pelas empresas chinesas.
Teremos rapidamente que mudar de
mentalidade e atitude, pois assim não iremos a lado nenhum e como costumo
dizer, “não somos o melhor país africano”.
António M. Rebordão Ribeiro
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