Na atual conjuntura de
emergência económica e social que vivemos, quer os partidos da oposição, quer
largos setores da sociedade, advogam como solução para ultrapassar a crise, o
crescimento económico pelo aumento da procura interna provocada pelo aumento dos
salários. É o modelo que a CGTP, o PC, o BE e o PS defendem, associado ao
investimento público.
Tal não é possível e não acredito que se trata de ignorância. Não é possível que pessoas altamente qualificadas, mesmo em áreas diferentes da económica, não compreendam os mecanismos básicos de funcionamento da economia. Trata-se sim, quanto a mim, na maioria dos casos, da "assassina" demagogia política que manipula a opinião pública com vista à obtenção de dividendos politicopartidários, violando os mais elementares princípios de ética política.
Vamos então fazer uma
breve análise do processo, imaginemos que fazemos parte do Governo, queríamos descalçar
esta “bota” e acreditávamos neste processo:
1. O salário mínimo atual
é de €485,00 e a taxa de inflação é, salvo erro, 3,2 %. Então, decidíamos um
aumento de 5 %, passando o salário mínimo para €509,25. Arredondávamos as
contas para €510,00 após verificarmos a viabilidade financeira de projeto.
2. Este aumento
repercutir-se-ia em toda a cadeia salarial, naturalmente, com nuances de vária
ordem, que não vou agora escalpelizar.
3. Paralelamente,
decidíamos avançar com algumas obras públicas já agendadas, depois de
assegurado o seu financiamento.
4. Lembremo-nos agora que
temos uma pequena economia de mercado aberta:
a. Pequena; o nosso PIB é
de cerca de 160 MME, o da Espanha é de 900 MME e o da Alemanha é de quase 4 BE.
Há uns anos, o excedente da produção francesa de carne de pato, era suficiente
para abastecer todo o mercado nacional!
b. De mercado: Vende-se o
que o cliente consome e não o que cada um quer produzir (economia de produção).
c. Aberta; No espaço
europeu não há alfandegas nem câmbio, tosos podem vender tudo em todo o lado.
5. Conjugaríamos o
aumento de salários com o aumento de investimento público, financiados pela troika,
de modo a provocarmos um aumento da procura interna global de 4 %.
6. Como somos pessoas
responsáveis, convocaríamos as confederações patronais e outros analistas
económicos idóneos, para avaliarmos a capacidade de aumento da oferta interna,
chegando à conclusão que nesse ano o limite de tal crescimento seria de 2 %.
7. Assim sendo,
ficaríamos com um défice de 2 % que iria agravar o défice crónico da nossa
balança comercial e o endividamento, uma vez que teria de ser a oferta externa
a responder ao excedente de procura.
8. Por outro lado, aumentando
os salários aumentariam os custos de produção que as empresas teriam que
refletir no preço final, perdendo competitividade face aos seus concorrentes
externos.
9. Assim, O agravamento
do défice da balança comercial seria superior a 2 %, talvez 3 %.
10. Do mesmo, modo o
índice de preços ao consumidor seria correspondentemente agravado, retirando
poder de compra à população, absorvendo parte do aumento salarial.
11. Seguiríamos com este
processo até se esgotar o financiamento.
12. Foi exatamente o que
nos aconteceu.
13.
REGRA DE OURO DO CRESCIMENTO ECONÓMICO: A SUSTENTABILIDADE DO CRESCIMENTO ECONÓMICO SÓ É POSSÍVEL DESDE QUE OS GANHOS SALARIAIS
SEJAM INFERIOR À PRODUTIVIDADE.
14. Assim sendo, o
primeiro passo a dar consiste em descer à microeconomia e perceber quais são os
bloqueios ao crescimento empresarial, diagnóstico que, grosso modo, está feito.
15. O segundo passo é
convocar todas as partes e obter o contributo de todos para desobstruir o
crescimento empresarial.
16. Assegurados os ganhos
de produtividade, poderão então subir os salários.
17. O crescimento económico
pelo aumento da procura interna é o processo de compensar uma conjuntura
recessiva, desde que o endividamento seja relativamente baixo, 40 % a 50 % e o
investimento seja reprodutivo, infelizmente, não fomos suficientemente
inteligentes e competentes; agora, quem nos financia impõe a sua própria
terapêutica, que não podemos rejeitar sob pena de nos faltar o dinheiro para
pagar os salários e as pensões.
18. No entanto
lembremo-nos que neste período de aflição para a generalidade dos portugueses,
há setores que negoceiam aumentos salariais, outros promoções e outros já
compensaram os cortes com as “alcavalas” do costume, demonstrando o défice
Democrático que reina na sociedade portuguesa, em que alguns, se julgam com
mais direitos que outros, característico afinal de qualquer ditadura terceiro-mundista.
AB
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