Desporto

domingo, 16 de junho de 2013

O FIM DA ILUSÃO de Medina Carreira

Advogado e ex-Ministro, Medina Carreira, cedo percebeu que Portugal caminhava na direção do abismo. Patriota, alicerçando-se em estatísticas irrefutáveis, empenhou-se com afinco na divulgação da realidade económica, com o propósito de alertar consciências e abrir o caminho à exigência de políticas que evitassem o descalabro que haveria de suceder em 2010 com o pedido de assistência financeira externa e o país exangue. Ignorado e enxovalhado pelas principais forças políticas e pela população em geral - que chegaram a apodar de senis, os seus alertas -, Medina Carreira, ciente da sua razão, nunca esmoreceu e continua a sua cruzada por cidadãos, governantes e governados, mais responsáveis, em nome de um Portugal próspero e independente. Um exemplo, para todos os Patriotas.
 
Na verdade, o desfecho económico a que chegámos em 2010 era previsível há cerca de duas décadas a qualquer cidadão que não se tivesse deixado embalar nos cantos de seria partidários e reparasse na persistência das duas grandes tendências "assassinas"; aumento contínuo da pressão fiscal e asfixia crescente da atividade empresarial; uma função decrescente que, mais uma vez, haveria de nos conduzir às portas da insolvência e do opróbrio internacional, desta vez sem a desculpa "fassista", graças à ganância partidária que não hesita em sacrificar a Pátria aos interesses das suas clientelas. Afinal, os autoproclamados campeões da liberdade e fundadores desta democracia, revelam-se agora como lobos em pele de cordeiro, teimando no anúncio de projetos insustentáveis, indiferentes à sorte de Portugal, como se dele fossem donos.
 
"O fim da Ilusão" - edição da "Objetiva" - é uma síntese do pensamento de Medina Carreira e uma compilação de várias crónicas, que resumem o essencial da evolução económica de Portugal dos últimos anos. Destaco:
 
"Numa palavra, o parasitismo clientelar, instalado nos principais partidos, está e vai continuar a devorar o nosso país."
 
"O Estado social não pode sobreviver sem a base financeira mínima que só uma economia dinâmica pode oferecer."
 
"A inevitável assistência financeira internacional chegou demasiado tarde, a situação piorou mais do que o necessário, as dívidas cresceram e, com elas, também as taxas de juros."
 
"Haverá sempre mais austeridade e ninguém saberá dizer-nos quando terminará."
 
"Numa Democracia, num espaço de desejável esclarecimento e de liberdade, para que serviram os partidos, os parlamentares, os comentadores, o acesso previlegiado aos meios de comunicação social, os comícios, os jantares, as conferências de imprensa, as inaugurações, as intrigas, as provocações, as insinuações, os permanentes golpes baixos, os programas televisivos de todos os dias?
   Aparentemente e como se vê, para nada."
 
" O exorbitante número daqueles que têm direito a prestações públicas constitui, finalmente, um grande ambaraço para o nosso Estado social."
 
"Entre 1990 e 2012 a média anual e real do aumento do PIB português foi de 1,8 % enquanto o das 'despesas sociais' foi de 3,9%.
   E no período de 2000 a 2010, o PIB registou +0,6 % anuais as 'despesas sociais' +2,2 %, respetivamente."
 
"Projetando para 2020, com base na economia de 2000-2010, teríamos uma situação inviável: as 'despesas sociais', só por si, corresponderiam a 100 % daquelas receitas - nz; contribuições e impostos - (35% a 36% DO PIB)."
 
" É igualmente inusitada a expansão do universo de servidores e de beneficiários do Estado, como atestam estes números: de cerca de 450 mil funcionários e de 1 780 000 pensionistas em 1980 (2 230 000 no total), passámos a contar, mais recentemente, com cerca de 700 mil funcionários e uns 3 500 000 pensionistas (4 200 000 no total)."
 
"Na totalidade, podemos falar de uns seis milhões de indivíduos que, ainda e durante muitos anos, caberá ao Estado sustentar financeiramente."
 
"É óbvio, para quem saiba analisar o problema, que, 'neste momento, a economia portuguesa não só não consegue sustentar este Estado, como está a ser aniquilada por ele."
 
"A reforma do Estado social português é, portanto, muito urgente."
 
"Efetivamente, das circunstâncias favoráveis existentes quando foi arquitetado o atual modelo de Estado social, já nenhuma vigora hoje."
 
"...e, por fim, o esmagador peso dos impostos, o maior da Europa, se se tiver em conta o rendimento médio de cada português."
 
"Ficou criado mais um sorvedouro de despesas, agora sob a forma de juros, porque os credores não prescindem do seu reembolso."
 
"O problema é demasiado sério para, como habitualmente, os responsáveis (?) encolherem, nesciamente, os ombros, em nome de um otimismo fundado na ignorância e no oportunismo político."
 
"Há assim, sinais claros da nossa presente incapacidade para enfrentar com êxito, e com as políticas atuais, o processo de integração. Isto resulta da perda de competitividade, em boa parte gerada pela reduzida taxa de crescimento da produtividade e pelos elevados aumentos dos custos unitários do trabalho."
 
"O pequeno e o médio empresário refletem, em geral, a própria impreparação que resulta da escola ou, em muitos casos, da falta dela."
 
"Os empresários portugueses de maior dimensão só recentemente vão retomando uma experiência que nasceu muito atrasada e que foi interrompida pelas nacionalizações. De qualquer modo, sem a continuidade nem o hábito de uma concorrência como aquela a que, há muito tempo, estão sujeitos os empresários da 'outra´Europa."
 
"Figuro entre os que rejeitam a ideia de que o mercado resolve tudo."
 
"...as forças partidárias só agem corretivamente quando não há atos eleitorais à vista, ou quando os desiquilíbrios externos se tornam insustentáveis."
 
"Foi o desregramento do gasto público, em geral, conjugado com o gasto privado - estimulado pela queda dos juros - que desiquilibraram a tal ponto a balança externa, proporcionaram a subida da inflação e nos levaram à difícil situação atual das finanças públicas."
 
"Creio estar esgotado o modelo 'aparelhístico' de 'ocupação' do Estado que temos na nossa frente."
 
"A limitação dos mandatos, por outro lado, é indispensável para desencorajar a profissionalização dos políticos, conducente a um calculismo sistemático destinado a assegurar apenas a 'ocupação' do Estado."
 
"E porque não estabelece o exclusivo financiamento público dos partidos?"
 
"É nossa firme convicção que, sem as várias e sérias reformas do sistema político e da Administração Pública, Portugal não conseguirá, no tempo desejável, atingir os níveis de desenvolvimento a que legitimamente aspira."
 
"Aquela - nz; a Justiça -, não funciona de todo em relação à criminalidade económica."
 
"A Educação, com a reserva de alguns casos de excelente qualidade, é uma lástima."
 
"Há trabalho para que não existem executantes e diplomados que servem para tudo menos para o que se diz estarem "oficialmente" habilitados."
 
"O Estado Português está convertido num "pântano", onde ninguém quer exercer a autoridade legítima e onde muitos aspiram apenas a permanecer tanto tempo quanto lhes seja permitido."
 
"Deve ser hoje, o maior devedor do país - nz; o Estado. Não me recordo de uma desordem como esta e talvez seja mesmo necessário recuar à I República para encontrar algo semelhante."
 
"Se a economia crescer mais, a questão da despesa pública fica facilitada; para que esse crescimento ocorra, é preciso que a despesa seja contida."
 
Eis pois, um contributo valioso para compreender a economia portuguesa atual e os caminhos de volta à independência, por todos os que recusam meter a cabeça na areia e se limitan a exigir aos sabastiões ou salazares, a satisfação dos seus anseios, recusando, teimosamente, envolver-se no processo de desenvolvimento sustentado de Portugal e enfrentando a realidade.
 

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