O escancaramento definitivo das portas do governo e do regime ao PCP e à geoestratégia soviética, segundo Mateus, teria sido proporcionado pela insensata renúncia de Spínola ao mandato de Presidente da República na sequência do fracasso do 28 de Setembro em que tentara "tomar o poder autoritariamente", criando, assim, as condições para o rocambolesco processo da pseudo-eleição de Costa Gomes para a Presidência da República, que viria a consumar-se graças ao decisivo voto de Rosa Coutinho então Alto-Comissário em Angola cujo poder entregaria ao MPLA e disso se vangloriaria mais tarde. Mais uma vez Rui Mateus culpa a direita destes incidentes. Em plena época de saneamentos, confiscos, perseguições, agressões e prisões discricionárias, atribuir à direita a responsabilidade de neutralização do avanço comunista é profundamente desonesto; afinal, foi o que Spínola tentou fazer quando percebeu o logro em que estava envolvido. Porém, é verdade que ainda hoje, a direita, tem medo de denunciar e se opor ao asfixiante e intolerante "complexo de esquerda" prevalecente judiciosamente plantado pelos comunistas e socialistas autoproclamando-se de verdadeiros vencedores de Abril e legítimos arquitetos desta exígua terceira República.
Interessante é verificar como, no primeiro congresso legal do Partido Socialista realizado de 13 a 15 de Dezembro de 1974, Mário Soares, que viria a integrar a lista vencedora dos históricos, fazia também parte da lista vencida de Manuel Serra, que tinha nomeado diretor de segurança e de propaganda do partido, e com a qual Partido Comunista planeara "colonizar" aquele. Tal, denuncia a incompreensão de Soares da dinâmica política interna e o seu alheamento da organização do partido, obcecado com a difusão da sua imagem externa, afinal, trave mestra de toda a sua carreira política. Talvez em razão do espúrio vínculo de "pacto de governo" que estabelecera com Cunhal ainda no exílio, afirmou Soares na sua visita a Moscovo enquanto Secretário Geral reeleito, que "Portugal adere à política de paz e segurança praticada pela União Soviética" e que Portugal "terá de reorganizar todo o seu anterior sistema socioeconómico e construir uma estrada para o socialismo" recordando que "nesse caminho, Portugal encontrou novos amigos dos quais um dos primeiros foi a União Soviética"! Aqui, eis, os fundamentos primordiais da constituição que em 76, manietaria o país, atirando-o por três vezes para a condição de exiguidade financeira e política, em que ainda nos encontramos.
Segundo Mateus, devemos a Salgado Zenha "um dos nossos raros homens de Estado", a derrota do "sonho bolchevique", por ter empunhado a bandeira da revolta contra a lei da unicidade sindical de Carlos Carvalhas, então Secretário de Estado, através de um artigo publicado no Diário de Notícias. Tal provocaria o abandono de Manuel Serra e mudaria o rumo dos acontecimentos salvando o país de uma ditadura e Mário Soares de vir a desempenhar o papel de Kerensky que Henry Kissinger lhe preconizara em Outubro de 1974.
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