Em matéria de futebol, hoje, quase só acredito no de rua apesar da flexibilidade das regras, da ausência de árbitros e da formação espontânea das equipas. Julgo mesmo que é esta a origem do fascínio deste desporto, pela pureza e criatividade que encerra. Talvez tal se deva, também, à relativa importância do resultado constituindo a recreação e o convívio a principal motivação dos protagonistas. Isto para dizer que, desde há uns anos a esta parte, consequência de ocorrências várias em matéria de corrupção dentro e fora do país e de observações pessoais seja dos jogos seja de notícias dispersas na comunicação social, tenho muita dificuldade em acreditar no futebol profissional seja ou não nacional, com exceção, admito, do inglês.
É pois com desconfiança que vejo o investimento maciço do Porto em novos jogadores. É certo que investir para ganhar tem toda a racionalidade, porém, investir tanto sem ter com quê - salvo o erro, o resultado de exploração da época anterior foi superior a 30 ME negativos -, dá que pensar, sobretudo, perante a crise bancária e do Universo Oliveira. O certo é que parece não faltarem financiadores a este clube cujo presidente, perante o aparente caos diretivo, se viu forçado a assumir as rédeas do futebol imagino que com grande sacrifício pessoal. Diz-se por aí que são Jorge Gomes e o fundo Ayoken, os grandes mentores deste projeto. Não sei, mas temo que tal signifique confiança no fortalecimento do "sistema" que tem controlado o futebol nas últimas décadas em Portugal no qual o Porto tem sustentado as suas vitórias.
Consta que Lopetequi integra a "corte" de Angel Vilar, presidente da Real Federação Espanhola e ex-vice-presidente da UEFA e da FIFA; um velho tubarão do futebol europeu bem capaz de conhecer a preceito toda a correspondente máquina de bastidores. Máquina cuja existência somos forçados a suspeitar face ao que repetidamente assistimos nas quatro linhas e ao sistemático fechar de olhos da UEFA aos casos de corrupção que têm ocorrido em Portugal.
Na frente institucional, após todas as trapalhadas que se verificaram nas recentes eleições da Liga, os opositores de Mário Figueiredo lá conseguiram a repetição das mesmas e a aceitação da lista de Rui Alves, dirigente conotado com o "sistema", investigado e acusado em vários casos relacionados com corrupção no futebol e evasão fiscal. O isolamento de Mário Figueiredo constitui a demonstração de que o futebol português está moribundo; a maioria dos clubes ficou refém do "sistema" aceitando participar na farsa desportiva a troco de segurança de financiamento, apesar do projeto de Figueiredo ser o da efetiva libertação dos clubes. Não posso deixar de referir a reserva que me suscita a posição do Benfica, incapaz de assumir o apoio a Mário Figueiredo, cujas razões objetivas, deveriam ter sido sublinhadas. Compreendo a estratégia de não comprometimento de soluções por as assumir, mas não concordo, e tenho que enaltecer neste caso a posição do Sporting que não titubeou no apoio ao ainda Presidente da LPFP.
Curioso, mas não surpreendente, é constatar a ausência de resposta da ERC à queixa apresentada por aquela entidade contra o monopólio da Olivedesportos no acesso à concessão dos direitos desportivos - eu próprio fiz essa denúncia via net cerca de um ano antes, em cuja resposta os serviços da ERC me informaram não encontrarem irregularidades tendo encaminhado o assunto, para o Ministério público do qual nada chegou. O resultado, obviamente, traduz-se na asfixia financeira da Liga suscitando o agravamento da contestação dos clubes e, quiçá, a intervenção da Federação, com a cobertura legal proporcionada pelo atual governo mercê de recentíssima legislação proposta pelo atual Secretário de Estado do Desporto, adepto de um dos clubes mais ativos na contestação a Mário Figueiredo, o Vitória de Guimarães, de cuja cidade é natural.
Juntando a tudo isto a instabilidade que, mais uma vez, se verifica no Benfica a nível da constituição do plantel, pairando a incerteza até ao último instante da janela de transferências, temos, os benfiquistas, fortes razões para estar preocupados, descontando desde já o caso dos apoios mais ou menos explícitos ao Sporting, alegadamente, salvo in extremis da insolvência, pelo falido BES. Verdade ou não, a dificuldade de aquisição de jogadores de qualidade tem sido tal que há quem suspeite que o mesmo Jorge Gomes, estará nos bastidores a fazer o gosto aos rivais, desmantelando a equipa e impedindo aquisições de valor, mancomunado com Pinto da Costa, este, desesperado perante a iminência de sair do futebol por baixo e desacreditado.
Enfim, espero é que no Benfica, conseguindo ou não os reforços de que necessita, ninguém perca a cabeça e se concentrem, todos, em colocar no terreno o potencial, que, apesar de tudo permanece, embora, admito, com menor exuberância.
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