Desporto

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O Bailinho da Liga

      O Benfica não devia participar na farsa em curso da eleição do Presidente da Liga cujo propósito é única e exclusivamente assegurar os interesses da Olivedesportos e do Porto, como se conclui das circunstâncias que condicionam as conversações entre os clubes. Se não vejamos:
 
      1) Mário Figueiredo (MF) liderando os Pequenos Clubes (PC) frustrou a estratégia dos "grandes"  vencendo o seu candidato, salvo o erro Carlos Marta anunciando o seu conhecido projecto de centralização da comercialização dos Direitos Desportivos, de pôr termo ao monopólio da Olivedesportos, de alterar os quadros competitivos e de propor uma redistribuição de recursos mais favorável aos "pequenos". Pretendia assim romper com o circulo vicioso do futebol actual e iniciar um círculo virtuoso do qual todos beneficiariam. Quanto a mim, este é o projecto de que o futebol português necessita.
      2) O primeiro movimento do sistema consistiu em passar os Conselhos de Arbitragem (CA) e de Justiça  (CJ)para a FPF onde já estava o ex-Administrador da SAD do Porto, cujo desempenho contempla, por coincidência claro, frequentemente, os interesses daquela SAD.
      3)  As receitas da Liga começaram a escassear dada a "conhecida" debilidade financeira da Olivedesportos e a manifesta dificuldade de captação de novos patrocinadores, eventualmente preocupados com represálias futuras.
      4) Mário Figueiredo avança com a queixa de abuso de Posição Dominante contra a Olivedesportos para a AdC, com o propósito de desbloquear o financiamento da instituição e fazer avançar o seu projecto. (eu mesmo, a título pessoal, já tinha apresentado queixa idêntica via net, cerca de um ano antes).
      5) Perante a proposta de MF  de alteração dos quadros competitivos, os "PC", sentindo-se prejudicados, afastaram-se dele dizendo-se enganados, uma vez que o projecto não permitia que todos jogassem contra todos, como atualmente acontece.
      6) A asfixia financeira da Liga contamina os clubes que, liderados por Porto, Braga, Guimarães, Estoril, Gil Vicente e Académica, radicalizam a sua contestação tentando forçar eleições antecipadas para afastar MF, que resiste a todas as tentativas, pedindo publicamente celeridade de decisão da AdC.
      7) Realizam-se as eleições e, num golpe de teatro o Presidente da AGL, afasta todos os adversários de MF devido a irregularidades processuais várias e MF é eleito por uma minoria de clubes.
      8) Perante a contestação o CJ anula os resultados das eleições por erros do Presidente da AGL na apreciação da candidatura de MF. (just in time!, uau!)
      9) Entretanto concluem-se os trabalhos de alteração da Lei quadro das Federações Desportivas que prevê a avocação da organização das competições profissionais pela FPF , sob pena de perda do Estatuto de Utilidade Pública Desportiva.
      10) Perante o pesado silêncio da AdC, o Secretário de Estado do Desporto, mais que uma vez referiu publicamente, a sua determinação em fazer cumprir a Lei. (Uma ameaça velada ao Presidente da Liga. Espanta não ter tido a mesma atitude no caso de violação da lei a propósito da queixa de MF à AdC).
      11) Perante a penúria financeira da Liga, dos clubes e dos árbitros Fernando Gomes fazendo alarde da pujança financeira da FPF, exige pagamentos em atraso a Mário Figueiredo e declara-se disposto a avocar a organização das competições profissionais.
      12) "Entalados" entre a descapitalização e a ilegalidade os clubes reúnem-se repetidamente, para negociar soluções consensuais. (Obviamente que esta conjuntura favorece um dos negociadores; o único que em caso de desacordo beneficia com a passagem do futebol para a FPF!, esse mesmo, o FCP!)
      13) Chegados ao alegado consenso com o SCP de fora, donde resultou a escolha de um "velho" e polémico personagem do futebol nacional, Luís Duque, parece garantido, finalmente o tão desejado afastamento de Mário Figueiredo dos destinos da Liga, bem como a ameaça que representa para "o sistema".
      14) Eis senão quando..."milagre"...aleluia...aconteceu o que eu previra há muito...a AdC, cujo Presidente, salvo o erro, é Portista assumido (Carlos Magno), tomou uma decisão impondo à Olivedesportos a alteração dos contratos com os clubes. Não conheço em detalhe o relatório da AdC, mas deveria providenciar a anulação dos contratos e o levantamento de um processo de inquérito ao Ministério Público (MP). A resposta à participação que apresentei com o mesmo teor, referia não ter sido encontrada irregularidade alguma e ter sido enviado o processo para o MP para onde eu já enviara a mesmíssima participação.
      14) O Benfica, que durante anos e anos criticou o Sporting por não o acompanhar no combate ao "sistema", perante a oportunidade de o fazer agora...deixou a posição expectante e juntou-se ao Porto!, posso até alinhar algumas razões possíveis; necessidade de pacificação para viabilização do negócio global, opção pela acção por dentro induzindo à mudança, negação de argumentos aos observadores para acusarem o Benfica de querer assumir o "novo sistema", propiciamento de uma saída digna a Pinto da Costa, que já cumpriu o seu ciclo no futebol....sei lá!
      15) Não podemos dizer que nada mudou no futebol, a profissionalização dos árbitros parece ter alterado significativamente as coisas; o padrão dos "erros humanos" já não é bem o mesmo. Mas na FPF continua o mesmo pântano sendo que a "missão" actual consiste em "limitar os danos" para voltar à carga logo que a máquina esteja pronta. Não me admiraria se nos próximos tempos surgisse um novo aliado financeiro da Sportinveste e fossem criadas as condições de dependência de qualquer outro seu concorrente aos Direitos da Liga. 
      16) Perante este cenário multifacetado e meticulosamente construído por múltiplas entidades em múltiplas frentes - lembremo-nos do caso da anulação da condenação de PdC - pelo mesmo CJ da FPF, agravado recentemente com o espetacular convívio de Proença com o chefe da claque azul, mais um passo no processo em curso de branqueamento das trapalhadas que vieram a público, o Benfica, serenamente, pela voz do seu Presidente, deveria não só afastar-se indicando os motivos mas opor-se decididamente apresentando o seu ponto de vista, juntando-se ou não ao Sporting. Não o fazendo, Filipe Vieira, mais uma vez, vai contribuir para a divisão da família Benfiquista, que não compreende porque, após dez anos de seca forçada, ainda temos uma dívida de gratidão para com o Sr Joaquim Oliveira nem tão-pouco que se acredite nas boas intenções de Pinto da Costa.

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