"Este historiador (Vitorino Magalhães Godinho), ao passar em revista a posição deste grupo social e dos estratos dominantes perante a união dual, conclui que se é tentado a admitir que Filipe II foi anexado pelas classes dominantes portuguesas. Sobre elas recai, de facto, a responsabilidade de terem impedido que os acontecimentos fossem conduzidos num sentido diferente, isto é, da salvaguarda da independência nacional, como pretendia D. Henrique, as camadas populares e outros grupos da sociedade portuguesa" (em História de Portugal, dirigida por João Medina, volume VII, pág. 430)
Foram pois as elites, que, na defesa dos seus exclusivos interesses, rendas, altos cargos e chorudos negócios, entregaram o reino de Portugal a Filipe II de Espanha. Alto clero, alta aristocracia e alta burguesia não hesitaram em trair o seu país perante as benesses prometidas pelo pretendente espanhol ao trono português. Incapazes de enfrentar as fragilidades económico-sociais de Portugal, depois de terem expulso os judeus e perseguido os cristãos-novos apropriando-se dos seus bens, fracassadas as expectativas de enriquecimento depositadas na campanha africana de D. Sebastião, as elites nacionais venderam o país ao rei espanhol a troco do seu próprio bem-estar indiferentes ao sentimento patriótico da restante população; baixo-clero, ordens mendicantes, baixa aristocracia, baixa burguesia e povo em geral. Até D. António Prior do Crato, cuja candidatura ao trono português era apoiada por judeus marroquinos, franceses e ingleses expulsos de Portugal, chegou a oferecer, sem sucesso, os seus préstimos a Filipe II a troco de 400000 cruzados e do cargo de governador de Portugal, que se dispunha a exercer em seu nome! Triste povo historicamente condenado à traição pelos seus "melhores".
Perante tais factos históricos, não espanta que as elites portuguesas atuais tenham entregado Portugal pós-colonial aos "novos soberanos" europeus; os mesmos que as financiaram durante décadas - e aos guerrilheiros africanos -, e lhes proporcionam, hoje, direta ou indiretamente lustrosos cargos e chorudas rendas, a troco da venda dos seus "produtos".
Tristes elites, pobre Portugal!
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