Desporto

sábado, 6 de junho de 2015

A parábola do vintém

   Jorge Jesus pode ter todas as legítimas razões para não ter renovado pelo Benfica; pecuniárias, de incompatibilidade com o novo projeto, de incompatibilidade com dirigentes ou atletas, enfim, o que mais houver, mas nada, jamais, apagará a desconsideração que, com a sua atitude, teve para com os adeptos do Benfica! Nada! Ficará como uma mancha indelével na sua carreira, por mais brilhante que venha a ser. 
 
   Longe de suscitar consensualidade desde o primeiro momento e apesar de alguns amargos de boca, os adeptos não lhe regatearam o apoio que, como ele próprio reconheceu por diversas vezes, foi fundamental para os sucessos alcançados. Apesar de o saberem sportinguista, ganharam-lhe afeto revelando nobreza de caráter; viam-no como um ícone do clube, defenderam-no...e foi esse afeto, essa nobreza, que Jorge Jesus traiu, não por ter saído do Benfica, mas pela forma como o fez. Falta de coragem e desprendimento afetivo, ingratidão e mercenarismo, caracterizam a sua atitude revelando a fraqueza de caráter que muitos lhe atribuem.
 
   Nestes seis anos à frente dos destinos da equipa sénior do Benfica há pelo menos dois momentos em que o afastamento de Jorge Jesus deveria ter sido equacionado:
 
   Um aconteceu na 2ª época, que se iniciou com grande turbulência devido ao assédio de que vários jogadores foram alvo na sequência da sua participação no mundial, mas também devido à estúpida insistência do Treinador em Roberto, excelente guarda-redes que apenas necessitava de algum tempo de adaptação à equipa e ao país. Mas foi o ultimato de natureza remuneratória que parece ter feito ao Presidente do Benfica por indução de Pinto da Costa, que o pretendia nas suas fileiras,  que abalou a confiança dos jogadores e degradou o entusiasmo e a competitividade que caracterizaram a época anterior.
 
  O outro foi na antepenúltima época, em que poderíamos ter ganho tudo e tudo perdemos! Ainda hoje pairam muitas dúvidas no ar, mas houve uma circunstância que teve efeitos especialmente negativos na equipa; o excessivo tempo que levou a renovação do contrato com o Treinador! A 2ª volta realizou-se sob esta permanente dúvida e tal não foi benéfico para a moral da equipa pelas mesmas razões aduzidas anteriormente. Hoje poderemos perguntar-nos se Jorge Jesus teria renovado caso o desfecho desportivo tivesse sido outro. Estou convencido que não.
 

   Luís Filipe Vieira apostou na continuidade e ganhou, como todos reconhecemos, mas por elevado preço; veremos se não demasiado. O Benfica chegou a ter nas suas fileiras, 103 jogadores!, uma barbaridade!, alguns deles nem os vimos, outros foram fracassos totais, outros ainda, inexplicavelmente, foram borda fora, enquanto os da formação ficavam apeados, com uma ou outra exceção. O projeto de formação de futebol do Benfica tem que ter continuidade, controlada embora, na equipa principal, e se Jorge Jesus não estava disponível para participar, fez bem em ir embora. Nenhum benfiquista aceitou a saída, entre outros, de Bernardo Silva, um génio da bola e um fervoroso adepto do clube. Gonçalo Guedes estava na calha de saída!


   Quanto aos amargos de boca já referidos, recordo a exigência de afastamento de Chalana e Diamantino, figuras emblemáticas do clube, de cuja sombra Jorge Jesus parecia ter medo, tal como agora de Inácio; a copiosa derrota em Liverpool por opção estratégica do Treinador e que afastou a equipa da final para desgosto dos adeptos, onde teria uma palavra a dizer; A saída precoce de Quim, que desestabilizou a equipa nessa época; a não demarcação inequívoca das insinuações de Pinto da Costa, deixando pairar a dúvida acerca da sua lealdade; a final da Taça perdida para o Guimarães onde o desempenho da equipa foi afetado pelo afastamento de Melgarejo devido, ao que constou, a incompatibilidades pessoais com o Treinador; o campeonato perdido para o Porto nos últimos instantes da partida pela simples razão de ter mandado subir a equipa, supostamente à procura da vitória, mas sem apoio defensivo adequado, queimando a carreira de um jogador promissor como era Roderik; o empurrão a Shéu numa das muitas escaramuças que o caracterizaram; o desencorajamento dos jovens da formação e de todo o correspondente projeto, com a referência pateta às célebres nove vidas a que tão bem respondeu Bernardo Silva, etc. Resta ainda saber qual a origem do aparente apagamento de Rui Costa e do rumor da sua saída do clube, não sendo disparatado supor tratar-se, mais uma vez, de incompatibilidades com Jorge Jesus, que não tem capacidade de integração num projeto coletivo. Tal como resta saber se a aversão deste aos atletas da formação tem a ver com opções técnicas, com vantagens de natureza pecuniária, ou com preconceitos clubistas. Hoje, todas as dúvidas são legítimas.


   Porém, este caso constitui um alerta para Filipe Vieira relativamente às suas criticadas opções, pela contratação de pessoas com ligações afetivas a outros clubes, cuja importância sempre desvalorizou fiado nas suas relações pessoais. As características humanas que Jorge Jesus agora revelou relativamente ao Benfica e também a Marco Silva, estavam lá desde o início, atenuadas posteriormente, estou certo, por imposição da Direcção, funcionando como uma espécie de "colete de forças" de bom comportamento. Sob o manto do falso benfiquismo e da hipócrita gratidão fermentava o oportunismo abjecto. Por várias vezes me perguntei, na sequência dos repetidos fracassos nos momentos decisivos, se toda a gente no grupo de trabalho estava, efetivamente, empenhada em ganhar. E essa dúvida permanecerá!


   A mística do Benfica reside nos benfiquistas, não nos adeptos de outros clubes!Salvaguardando as questões da competência técnica e a importância de trazer para o clube novas experiências e conhecimentos, o benfiquismo traz consigo o empolgamento de jogadores e adeptos com as consequentes sinergias alavancadoras da competitividade.  

   Por experiência própria, sei que o risco de fracasso de uma contratação é bem menor quando se define com precisão o perfil técnico, humano e social necessários à função e se identifica com competência o correspondente candidato. 

   Defendo a contratação de Marco Silva, apesar de reconhecer perfil a Rui Vitória pelas provas dadas na formação e no campeonato da época transata, porque:
  • Demonstrou competência técnica invulgar, sobretudo no Estoril, construindo rapidamente equipas competitivas com jogadores desconhecidos, valorizando-os, mas também no Sporting, conseguindo dar alguma coerência desportiva a um conjunto fustigado pela instabilidade e a descrença.
  • Demonstrou lealdade ao seu empregador, como ficou patente pelo campeonato que nos "roubou" com o empate na Luz no jogo que antecedeu a fatídica derrota com o Porto.
  • Demonstrou resiliência e elevação, desenvolvendo sem desfalecimentos o seu trabalho num ambiente fortemente hostil, unindo os jogadores e conduzindo-os a uma vitória considerada perdida por quase todos, na recente edição da Taça de Portugal.
  • Demonstrou capacidade de liderança invulgar pelas razões já aduzidas.
  • Tem rara capacidade de identificação do potencial desportivo dos jogadores e de os adaptar à sua ideia de jogo.
  • Tem o carisma necessário ao empolgamento dos adeptos, multiplicador da competitividade.
  • Inverteria o recente efeito de deceção em prejuízo dos nossos rivais, provocando-lhes instabilidade e ao seu Treinador.
  • É BENFIQUISTA! 
SOU DE UM CLUBE LUTADOR!
PS: Ponham lá a figura do homem onde estava, junto da equipa. Apesar da decepção, não deixaremos de recordar os bons momentos que nos proporcionou, sendo que, tal, se deve menos ao seu trabalho e mais à alteração da conjuntura desportiva em Portugal.

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