Desporto

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Luta sem tréguas

  
   Rogério Joia, presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) desde junho de 2014, sucedendo a Luís Horta no cargo, segundo crónica de Filipe António Ferreira no Correio da Manhã de 23 de Fevereiro de 2016, no programa Linha da Frente da RTP, terá acusado "responsáveis de instituições estatais ligadas à justiça de furtarem informações para as entregarem a pessoas ligadas ao desporto" e assim "tentarem condicionar e coagir decisões ou nomeações". Declarou ainda ter a ambição de colocar o futebol dentro do passaporte biológico, não só nas seleções, mas também nos clubes, considerando injusto que ao futebol não seja dispensado o mesmo escrutínio que às restantes modalidades. Do gabinete do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, informaram estar a proceder-se ao levantamento de toda a informação relevante "no sentido de dar o seguimento devido a este caso".
 
   Recordo, ainda que com poucos detalhes dado o considerável lapso de tempo decorrido, o estardalhaço que a atuação de Luís Horta provocou nos meios futebolísticos nos anos iniciais do seu exercício, logo que o trabalho da sua equipa começou a revelar a miséria que se adivinhava no futebol da paróquia. Uma guerra pública, intensa, prolongada e despudorada, foi-lhe então movida por Gilberto Madail, à época presidente da FPF - e, em minha opinião, protetor dos interesses do FCP -, com o propósito, suponho, de minimizar os danos consequentes para o "negócio" já de si objeto de graves suspeições, das quais, muitas viriam a ser oficiosamente confirmadas no processo do Apito Dourado.
 
   O que se passou nos bastidores não sei, mas, pela escassez de notícias sobre o tema que passou a verificar-se, desde então, fiquei com a ideia de que terá havido entre as partes desavindas, um entendimento no sentido de evitar a divulgação  pública dos resultados dos testes de dopagem, limitando-a aos diretamente interessados, sigilosamente. Cheguei a convencer-me, sem que nada em concreto o evidenciasse, que a ADoP, teria concertado a sua atuação por forma a não pôr em causa certos interesses do futebol. Desde então, deixou de haver notícias de doping nesta modalidade, pelo menos que eu tenha dado conta.
 
   A verdade porém, é que, quando o adepto observa  a exuberância física de certas equipas e atletas em todos os jogos e em épocas inteiras, contrariando a normalidade, tende a acreditar que há trabalho químico de bastidores em jogo. Ou seja, por muito que se tente fazer passar que tudo vai bem, o adepto percebe que não é verdade! A suspeição e o descrédito das instituições são o resultado da falta de transparência. 
 
   Extrapolando, este caso, a comprovar-se, constitui mais um exemplo de decadência institucional; um dos maiores males, senão o maior, de que, quanto a mim, padece a sociedade portuguesa e a condena, em última instância, à pobreza, tal como todas as sociedades terceiro-mundistas. Resta-nos acreditar  que tudo isto faz parte do processo de amadurecimento social que nos trará um futuro melhor. Mas quando é a própria justiça que está em causa essa esperança tende a desfalecer.
 
   Aguardemos a atuação da secretaria de Estado da Juventude e do Desporto neste caso. Palpita-me que deixaremos de ouvir falar nele e que  o senhor Joia não permanecerá no cargo muito mais tempo.

(William Turner, Eruption) 

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