Desporto

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O "desastre napolitano"

 
Edvard Munch obreros Camino de casa, 1913-5
 
Ponto prévio; não é novidade para ninguém que se interesse minimamente pelo tema, que o futebol italiano é, desde sempre, dos mais evoluídos do planeta. Sabem tudo da poda, seja nos planos técnico e tático, seja no plano chamado "jogo sujo". Um futebol enxuto mas sofisticado, cínico e preciso, a que acrescentam uma forte mentalidade que lhe advém duma história coletiva riquíssima.
 
Posto isto, tendo o Nápoles perdido a corrida do título da época passada nas derradeiras jornadas, a tarefa do Benfica, ainda debilitado no seu onze titular por falta de algumas "pedras" influentes e à procura de novos equilíbrios, não se afigurava fácil. Por outro lado, a menor exigência dos adversários internos, nos quais os níveis de eficácia são consideravelmente baixos relativamente "aos nápoles" conduzem à concessão de algumas "facilidades", agora fatais.
 
Uma derrota em Nápoles é normal; uma humilhação não! E foi o que aconteceu! Falhadas duas oportunidades flagrantes pelos encarnados, muito graças ao já mítico Reina, preocupados em fechar os espaços interiores, como explicou Vitória, a equipa do Benfica, caiu no tipo de jogo em que os italianos são exímios, abdicando das alas e dos lances de rotura. Com um posicionamento irrepreensível em todo o campo, exercendo permanente pressão sobre os "vermelhos" logo à saída da área, fechando todas as linhas de passe, trocando a bola com precisão de relojoeiro, os napolitanos, recuavam de imediato para a frente da área logo que perdiam a posse da bola, "roubando" os espaços de possível expansão do jogo do Benfica.
 
No lance do primeiro golo do Nápoles esteve em evidência a diferença essencial entre as equipas; concentração, técnica e sagacidade do lado dos italianos e desconcentração e até displicência dos portugueses. Um remate de dentro da área, desde que não seja à figura do GR, é indefensável. No caso dos cantos, uma vez que não há fora de jogo, o GR é pressionadíssimo pela proximidade dos adversários, beneficiando apenas da proteção de que goza na pequena área. Nenhum GR, consegue responder a tempo, desde o meio da baliza a um dos postes, a um remate rápido desferido nas proximidades da pequena área. Por conseguinte, o que deve ser feito é encurtar a baliza com um homem a cada poste, pelo interior. Porque não foi feito?, porque em Portugal não são necessários tantos cuidados!
 
Em cima disto, a "ratice" e excelência técnica do avançado azul, e do marcador do canto, fizeram o resto; Feysa assumiu a cobertura ao 1º poste, colocando-se ligeiramente à frente do avançado. Muito bem. Quando viu a bola vir na sua direção cometeu o erro fatal; ficou à espera dela, julgando-se senhor do lance. Pois é! O picolo napolitano agachou-se ligeiramente, deu meio passo em frente e "penteou" a bola metendo-a no buraco da agulha". Júlio César ainda apareceu...mas...demasiado tarde. Teve responsabilidade na formação defensiva; competia-lhe dar as ordens de posicionamento. Aquele é o seu território; ele é que manda!
 
Ainda assim, tendo a 1ª parte sido equilibrada, o golo do Nápoles não foi um golpe de sorte. As "papoilas saltitantes" apresentaram-se na 2ª metade com o mesmo "desgraçado" tipo de jogo - do tico tico saranico - a pensar não sei o quê, quando me parecia óbvia a necessidade de aumentar a velocidade, a intensidade, a amplitude e a profundidade do jogo. A vitória é dos ousados. Era necessário provocar desequilíbrios e o Benfica só o fez quando tudo estava perdido! Então viram-se ao adversários a terem de correr atrás da bola, a falharem passes e a encaixarem duas "mocas". Certo que, nesta fase, já tinham passado o computador a modo "sleep". De qualquer modo foi um regalo ver o sargalhão do Guedes a cortar o passe, bater o defesa em corrida, contornar o grande Reina e fazer o golo já de ângulo fechado. Aprendeu com o lance do Besiktas. Tem futuro. O golo do Sálvio, a passe do André, constituiu uma lição acerca do que deveria ter sido feito; passes de rotura sobrevoando o denso meio-campo do Nápoles, bem recheado com cinco craques. Ficou demonstrada  nos lances de rotura a debilidade da defesa napolitana. Os receios de Rui Vitória foram excessivos; lá diz o aforismo que a melhor defesa é o ataque.
 
Júlio César ficou afetado com o primeiro golo; foi-se abaixo. Não teve responsabilidades no segundo mas teve no terceiro e no quarto. Será que o histórico da sua carreira em Itália o afetou? Se afetou, deveria tê-lo dito ao Treinador.
 
O lançamento de Carrillo não funcionou. Vitória deveria ter mexido na equipa mais cedo.
 
As decisões vitais do árbitro aceitam-se, mas creio que pecou por excesso de zelo no lance da falta que resultou no livre do segundo golo, superiormente executado. O caso é que já antes se tinha portado mal com o Benfica "roubando-lhe" uma Taça da Liga Europa. Não é por este caso, mas há muito que não acredito da UEFA, nem na FIFA, e, já agora, nem na FPF.

É possível que este resultado sirva para unir ainda mais o grupo de trabalho otimizando o esforço de todos.
 
Conclusão; há que trabalhar mais e melhor. A festa deveria ter acabado há muito; esqueçam-se dos êxitos passados e concentrem-se nos objetivos desta época.
 
Força!

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