Desporto

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A dura realidade

      

   Tinha baixas espetativas para este jogo do Benfica com o Nápoles; no jogo em Itália ficou clara a diferença de qualidade entre ambas. Esta equipa napolitana tem todas as virtudes do futebol italiano; taticamente irrepreensível, qualidade individual muito alta e homogénea, elevada e persistente concentração e domínio total dos truques úteis. Apesar de tudo, quando pressionada, comete erros; tinha-se verificado isso mesmo na ponta final do jogo em Nápoles e confirmou-se nos últimos minutos do jogo agora findo. Movimentação, passe, intensidade e sincronismo estiveram muitos furos acima do que a equipa do Benfica mostrou durante os noventa e três minutos.

   Visto isto, a vitória dos italianos não tem contestação, felicitando-se os encarnados pelo apuramento para a fase seguinte, muito graças ao brio dos ucranianos do Dínamode Kiev. Algo que parecia inalcançável nas primeiras jornadas do grupo. Este é o mérito. Tenhamos em conta que, salvo nos anos dourados do Benfica e, mais tarde, do Porto, o futebol português sempre esteve num patamar inferior ao do italiano. 

   Contudo desgostou-me a forma como fomos derrotados; sem intensidade, empastelando o jogo com passes dormentes para o lado e para trás, renunciando à procura de roturas, de verticalidade! Era por aqui que se abririam brechas no tremendo bloco defensivo contrário. Sem bola, em menos dum fósforo os napolitanos posicionavam-se frente à sua área em 442. Os nossos extremos, além do marcador direto tinham mais dois à dobra; um na linha, outro por dentro! É obra! Besiktas, Marítimo e Moreirense fizeram o mesmo. É necessário mudar algo. O quê? Renato Sanches deixou um vazio impreenchível apesar de todo o génio de Pizzi; Renato, inderrubável no um para um, fechava espaços, recuperava a bola, protegia-a, transportava-a, distribuia-a e rematava-a...para golo! Galvanizava os colegas. Gaitan era o "abre-latas" capaz de passar por dois ou três adversários, várias vezes, e cruzar com precisão, resolvendo um jogo. Não tem seguidor à altura. Para mim, era óbvio que, com avançados rápidos, os defesas encarnados deveriam ter optado por lançamentos longos e precisos para as costas dos defesas contrários, aproveitando os períodos em que os napolitanos subiam à área encarnada com cinco, seis jogadores. Foi o que aconteceu no golo do Jimenez; o defesa falhou o corte! Isto revela, reiteradamente, a incapacidade da equipa, durante o jogo, procurar novas soluções para novos problemas. É o que distingue as boas, das grandes equipas.

   O primeiro golo resultou da lentidão de Lindeloff em reagir ao movimento inteligente e rapidíssimo do avançado; quando arrancou já tinha meio metro de atraso. Deve ter a cabeça noutro lugar. Ederson nada podia fazer. E fez muito em várias ocasiões. O segundo golo resultou da apatia geral dos defesas com a maior responsabilidade a caber a Luisão. "Adormeceu", quando esticou a perna, já lá não estava a bola. A retificar. Por vezes percebeu-se a falta de referência na área; nenhum avançado tem o dom da ubiquidade. Jimenez esteve bem, tal como Semedo. Muita cerimónia geral ao visar a baliza contrária; péssima qualidade na marcação dos cantos, frequentemente, má leitura de jogo. Cansaço? Falta de consolidação tática? Défice de conhecimento? Não sei. Nos sessenta minutos iniciais do jogo com o Besiktas na Turquia vimo-los praticar um futebol de alto gabarito. Serão dias? Treinadores pachorrentos criam equipas pachorrentas? O futuro dirá; mais uma vez.

   Fui ouvindo os comentadores da BTV e discordo veementemente da cultura da apologia incondicional da equipa e do clube. Não vale a pena tentar fazer passar a ideia de que tudo está bem e que as críticas não são benvindas! Sem crítica não há evolução! Não esquecer! E tal não significa desamor; pelo contrário. Falo de crítica construtiva e não de maledicência, intriga ou verborreia. 

   Força Benfica!

PS: No lance do golo do Benfica,  a perda de bola do defesa do Nápoles é tão patética e a passividade do Reina é tão evidente, que me pergunto se não terá sido voluntariamente consentido. 

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