Desporto

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O 25 de Abril Visto da História (notas, P7)


O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais
 
…E esse é um traço característico do atraso português, uma constante da nossa história dos últimos cento e cinquenta anos. Durante o liberalismo, durante a República, e também durante o Estado Novo e ainda depois do 25 de Abril, os quadros políticos dirigentes são recrutados em grande parte - e até em maioria relativa - entre elementos das profissões liberais, entre advogados…. (VJS)

…A necessidade de legislar surge, no fundo, de certo modo, como alternativa à incapacidade de transformar…..(JAS)

Começo a duvidar da utilidade dos intelectuais na vida política dos povos. (AB)

…A Inglaterra…fazendo no fundo as vezes de uma “burguesia dominante” que nunca apareceu em Portugal. De França importava-se a ideologia da Revolução….não apenas a mentalidade, o estilo, o discurso político, o radicalismo verbal, o anticlericalismo radical, mas mesmo as organizações revolucionárias (como é o caso da Maçonaria e da Carbonária), importava-se o jacobinismo – que haveria de ter um papel decisivo na implantação da República em Portugal. (JAS)

   Inglaterra e França encontra-se hoje ensarilhados nas teias das suas próprias contradições face ao fenómeno da imigração, e Portugal parece apostado em seguir-lhes as pisadas, aprofundando os seus equívocos e a coesão social. (AB)

…Ao longo dos últimos dois séculos, a sociedade portuguesa, vive permanentemente entre dois impulsos: um de natureza exterior, que se faz de fora para dentro e de cima para baixo, e que é de sinal desenvolvimentista, transformador, que caminha no sentido da implantação de relações capitalistas; ou outro, de natureza interior, que se verifica de dentro para fora e de baixo para cima, que se faz no sentido da preservação das relações tradicionais contra a tendência invasora da ordem capitalista. (JAS)

   Isto passa-se em qualquer sociedade minimamente aberta, não é exclusivo de Portugal, e é bem mais complexo; o caso da Inglaterra no século XIX ou dos USA no século XX são exemplos dos poucos países que mudaram as suas estruturas económicas a partir de dentro. A ameaça castelhana induziu Portugal à dependência militar externa  - da Inglaterra; a conjugação destes dois fatores aliado à implacável perseguição dos Jesuítas pelo Marquês de Pombal - fechando-lhes as escolas – e à atuação da Ordem do Santo Ofício - que só viria a ser formalmente extinta em 1842 -, talvez ajude a explicar a fraca dinâmica transformadora a que JAS alude e que parece perpetuar-se. Hoje, assistimos a uma transformação estrutural da economia portuguesa, imposta pela União Europeia, com recurso a subterfúgios como o do aquecimento global, do ambiente, ou da produtividade, sem que se perceba bem quem são os efetivos beneficiários desta transformação. (AB)

…Ora…a pequena burguesia constitui uma manta de retalhos…e não pode segregar, de facto, o que Gramsci chama “os intelectuais orgânicos” de uma classe, os partidos. Daí que os partidos surjam em Portugal como fatos que, depois de acabados no alfaiate, partem à procura do corpo social. (JAS)

   Talvez esta seja uma das causas do fechamento dos partidos portugueses à sociedade, devido ao medo de perderem as suas referências doutrinárias, e da distorção da democracia devido ao empenho partidário na mudança dos cidadãos e, absurdamente, na substituição da população, para sustentação dos seus projetos de poder.
Foto Praia de Peniche de cima
Peniche, 01 de Novembro de 2018
António J. R. Barreto

Sem comentários:

Enviar um comentário