Desporto

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O Momento do Benfica II


O Momento do Benfica II 

Das infraestruturas:
  
É este um dos ex-lbris da gestão de Filipe Vieira que por si só lhe garantirá lugar de relevo na história do clube. Estádio, pavilhões (2), piscinas (2), museu e complexo do Seixal. Uma obra e peras. As “peras”, são um passivo da ordem dos 400 milhões de euros que asfixia o clube (SAD) e degrada a sua capacidade competitiva. Sem uma equipa - de futebol sénior - forte, nenhum projeto tem futuro. A importância das infraestruturas é instrumental; são necessárias para construir uma equipa de topo europeu, conforme os pergaminhos do clube. Ainda não ocorreu. Já lá vão 15 anos de novo Estádio.

   Recordo que o projeto de Vale e Azevedo de recuperação do antigo Estádio, da autoria de Tomás Taveira, custava o equivalente a 20 milhões de euros. Para a constituição da SAD havia financiamento do equivalente a 100 milhões de euros. À época, o passivo do clube era da ordem dos 10 milhões de euros, equivalentes. Esta disponibilidade teria permitido recuperar o antigo Estádio, pagar a totalidade da dívida e investir de imediato na competitividade do futebol sénior, Quem sabe se não teria permitido quebrar o ciclo azul bem mais cedo - até porque a Olivedesportos estava em cheque na questão dos direitos desportivos da Liga.

   A componente imaterial também carece de consideração; o antigo estádio tinha um simbolismo não negligenciável; por um lado incorporava o esforço coletivo dos adeptos e populares que participaram com materiais, trabalho ou dinheiro para a sua construção; por outro era único, um dos maiores da Europa e do Mundo - só tinha equivalente no Maracanã; por outro ainda, tinha sido palco dos grandes feitos desportivos do clube que fascinara os adeptos do futebol em geral incluindo os jogadores adversários envolvidos. Dele emanava um poder galvanizador sem paralelo nos grandes momentos. Tudo isto ruiu com ele.

   Mário Dias, coordenador do projeto do novo Estádio, disse na entrevista à BTV por ocasião da comemoração dos 15 anos do novo Estádio, que os Bancos se tinham recusado a financiar a recuperação do antigo por não proporcionar retorno. Compreende-se o interesse dos bancos em vender 400 milhões de euros em vez de 20 milhões, concluindo-se que a construção do novo Estádio foi, sobretudo do interesse daqueles e não do Benfica. E também se conclui que o atual Estádio, simboliza a usura bancária e o messianismo de Filipe Vieira. Uma grande mudança deste “novo” Benfica: de Sport Lisboa e Benfica para Sport Lisboa e Vieira.

   Pelo referido, ao contrário do que tem sido propalado, a construção do novo Estádio dividiu os adeptos do Benfica, enfraquecendo-o.

   Há lugar para uma ressalva de natureza económica comparativa relativamente aos custos de manutenção e de exploração, bem como ao potencial de receita associada aos dois estádios.

   A considerar também o contexto da época em que o Benfica estava afastado da “febre” dos Estádios em marcha acelerada apontada ao euro 2004, para gáudio dos rivais e respetivos correligionários. Aliás, à época, fiquei com a convicção que um dos propósitos do euro 2004, até pela forma como vários jogadores encarnados foram tratados na Seleção, teria sido o de deixar o Benfica para trás face aos rivais diretos - havia dinheiro para todos mas não para o clube da Luz; que isto não é a Santa Casa da Misericórdia, como declarava o Tavares. O “ficar para trás” poderia deixar sequelas entre os adeptos Não sei. Mas sei que, o que efetivamente importa é ganhar; ganhando, a questão do Estádio não teria relevância.
Foto: Casario da Papoa em Peniche

Peniche, 6 de Novembro de 2018
António J. R. Barreto 
 

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