A goleada histórica do Benfica sobre o Nacional levantou um coro de indignação dos tradicionais detratores do clube encarnado, e de alguns "benfiquistas diferentes", considerando-o uma imoralidade inadmissível. Detratores que não se coíbem de invocar as derrotas daquele clube; de 7-1 com o Sporting e com o Celta de Vigo, ou de 5-o com o Porto, sempre que, desportivamente, a vida lhes corre mal, procurando assim, atenuar a frustração e humilhar o grande rival. O que os escandaliza, pois, não é a goleada em si mas ter sido o Benfica a dá-la numa magnitude histórica.
O que se viu nesse pleito foi a mais pura essência do futebol, em que, uma equipa dum clube mítico transfigurou o futebol amorfo, triste, denunciado e vulgar que vinha praticando, num futebol alegre, dinâmico, com amplitude e verticalidade, velocidade, criatividade, força, determinação e...muitos e bonitos golos. Isso sim, é que deve ser enaltecido.
Que o Treinador devia ter mudado a equipa. Disseram alguns. Não podia. Mas refrescou-a com jogadores menos rodados, baixando o ritmo e a eficácia do jogo. O resultado até poderia ter sido mais dilatado perante um adversário honrado, lutador, com conhecimento dos princípios de jogo, mas, naquele dia, incapaz de travar os "diabos vermelhos".
Ora, as declarações dalgumas figuras políticas a propósito do evento tornou, mais uma vez, evidente algo que para mim é claro desde há largos anos; que o grande e mítico Benfica não é bem visto nalguns setores da sociedade portuguesa a que chamam "democrática". Benfica sim, mas pequenino, não vá alguém associar este regime ao de Salazar. Já a recente sucessão de ataques a que temos assistido ultimamente, ao clube de Eusébio, além de agradar aos seus rivais diretos alimenta a aparência parola do empenho na defesa dos mais fracos. Proíbe-se e combate-se - e bem - todos os tipos de segregação,; em função da cor da pele, da religião, do género, da orientação sexual, do estatuto económico ou social, mas, é cada vez mais corrente assistirmos à segregação do Benfica e dos benfiquistas, seja com sanções desportivas excecionalmente duras e exclusivas, no caso do clube, seja com perseguição e espancamentos - nalguns casos conduzindo à morte -, no caso destes.
Mas, a grande metáfora da goleada traduz uma das características degradantes das democracias socialistas, o nivelamento por baixo. Ora, se o adversário do Benfica não tem capacidade competitiva equivalente, em vez de se cuidar de o melhorar, removendo as suas causas, exige-se que o Benfica baixe o nível do seu desempenho. Para evitar a humilhação do adversário? Não!, para não evidenciar a sustentação podre da organização deste desporto em Portugal em que, para satisfazer os caprichos de caciques locais, da economia e, ou, da política, se incluem na primeira liga clubes sem autonomia económica consentânea, deixando-os à mercê dos grupos detentores de financiamento. Algo que Mário Figueiredo quis abolir, preparando um bom projeto, abortado pelos hipócritas de ontem e de hoje.
Peniche, 14 de Janeiro de 2019
António Barreto
Sem comentários:
Enviar um comentário