Benfica, um caso político
Capítulo 7 (conclusão)
Somos diferentes, ouço dizer por aí aos adeptos do Benfica. E não gosto.
Não gosto, antes de mais, porque parece significar que nós somos os bons e os
outros os maus. E não é verdade; há maus entre nós e bons dos outros lados. Mas
compreendo que se pretende aludir a limites comportamentais que nos recusamos a
ultrapassar por ser essa a cultura do nosso clube. É certo que - pelo menos
para mim -, o Benfica é sinónimo de arte, excelência, coragem e respeito pelos
outros, valores que devem nortear o mundo benfiquista no dia-a-dia.
Mas é verdade que “somos diferentes” no sentido da militância; por
exemplo, do arrumador de carros ao magistrado, passando pelo agente das forças
de segurança, pelo professor universitário, pelo político, pelo escritor,
enfim, pelo profissional anónimo, os adeptos do Porto defendem,
incondicionalmente, sistematicamente, o seu clube, cada um há sua maneira.
Nós somos diferentes de duas formas; em geral temos um grau de
militância comparativamente baixo, por outro lado concentramo-nos quase
exclusivamente na crítica interna. A nossa militância raramente vai além da
refilice, do desabafo, do impropério; fazemos barulho inconsequentemente,
apesar dalgumas iniciativas individuais mais afoitas nunca efetuámos uma ação
coletiva em defesa do nosso Benfica e, ou, dos seus Dirigentes.
O nosso Estádio foi alvo de sucessivas interdições - cinco ou sete? -
ainda pendentes nos processos judiciais
em curso e consta que o Ministério
Público pede a suspensão do clube das competições desportivas entre 6 meses a 3
anos. Isto demonstra que os inimigos do Benfica tudo têm feito para o destruir
e têm sido secundados institucionalmente. Devem ser levados a sério, pois as
instituições em causa têm poder para o efeito.
Confiamos nelas e aguardamos, de braços cruzados, o desfecho dos
processos, esperando que tais absurdos não cheguem a concretizar-se por
ocorrência dum acesso de bom senso em qualquer estádio do processo. Não estou
certo disso.
Não posso deixar de recordar que foi um juiz, ao que constou, dragão de
ouro, que condenou Vale e Azevedo ao cúmulo jurídico de 17,5 anos de prisão -
diz-se por aí que tem mais 10 anos para cumprir! Um sério aviso à “nação
benfiquista” do poder do longo braço do rival do norte. Uma afirmação de poder institucional.
Recentemente, o assassino de um jovem adepto benfiquista foi, condenado a 12
anos de prisão “por ofensas à integridade física agravadas por morte da
vítima”! Em seis anos, ou menos, estará em liberdade condicional!
A Vale e Azevedo, perseguido como um animal
raivoso, foi negado, desumanamente, esta prerrogativa geral, tendo cumprido
toda a pena até ao último minuto! Donde vem tanta raiva? Se a filosofia penal
moderna radica na reabilitação social do condenado, no caso do malogrado ex-Presidente
do Benfica, a motivação é a vingança, o castigo, o desejo de fazer sofrer. É,
acima de tudo, o Benfica que se pretende atingir. Estou contra e acuso os
fautores desta barbaridade.
Aldrabões muito piores, hoje mesmo, andam por aí a rir-se na cara dos
portugueses na sequência de falcatruas avultadíssimas, penalizadoras de todos
os cidadãos honrados! Alguns até foram agraciados com as mais altas
condecorações da República! Que país este!
A não interdição dos estádios de Alvalade e do Dragão revela
discricionariedade por parte da FPF, intenção de fazer mal ao Benfica - só os
prejuízos de bilheteira situar-se-iam entre os 1,5 a 3,5 milhões de euros,
acrescidos dos cerca de 500 mil euros de multas anuais; idênticos atos dos
rivais foram “agraciados” com penas de multa marginais, ridículas.
Enquanto isso os adeptos encarnados são implacavelmente esmifrados para
ver o seu clube jogar, com a cumplicidade da LPFP, e, muitas vezes, impedidos
de usar símbolos do clube e até de o apoiar de forma mais exuberante, como
sucedeu recentemente em Braga! E ninguém se escandaliza! Andam a gozar
connosco.
Não tenho a menor dúvida de que, tivessem sido os rivais penalizados de
igual forma, assistiríamos a vigílias à porta da FPF (Federação Portuguesa de
Futebol e da LPFP (Liga Portuguesa de Futebol Profissional), manifestações,
declarações públicas inflamadas de vários quadrantes na defesa das “vítimas”, e
sabe-se lá que mais.
Nós aguardamos pacientemente que o sistema funcione apesar de sabermos
que, ele, “o sistema” é contra o Benfica. Temos gente qualificada entre nós,
podemos, por exemplo, fazer um abaixo-assinado e, ou, uma petição para
apresentar na FPF, na LPFP, até na Assembleia da República, denunciando as
arbitrariedes praticadas sistematicamente, contra o clube do qual somos sócios,
exigindo a demissão dos responsáveis implicados, fazer comunicados à imprensa,
fazer manifestações pacíficas às portas da FPF e LPFP, etc.. Podíamos
constituir um movimento cívico de apoio ao Sport Lisboa e Benfica. A nossa
passividade é a força motriz dos inimigos do nosso clube.
Privilegiamos a crítica interna, muitas vezes irrefletidamente.
Responsabilizamos os Dirigentes, em particular o Presidente, por tudo o que é
negativo e exigimos-lhes, insensatamente, resposta a todas os casos, a
superação de todas as adversidades, esquecendo, muitas vezes, que o seu êxito
depende da qualidade do nosso apoio.
É certo que a crítica interna é, antes de mais, um recurso que um bom
gestor não deve dispensar, apesar do inevitável desconforto que provoca. É
dessa turbulência de ideias, mesmo as mais disparatadas, que surgem combinações
donde brotam princípios de bons projetos. Aliás é este o princípio da criação
de sinergias, base da gestão moderna, que permite a ultrapassagem da decadência
inerente aos ciclos naturais das instituições sujeitas à gestão tradicional.
Crítica interna sim, com ideias estruturadas ou amalucadas, sem dúvida,
recusa do messianismo, sim, exigência máxima, sim, mas sem prejuízo do apoio
institucional e da defesa externa do clube. Muitos de nós exercemos a crítica
interna como forma de fuga ao desconforto do confronto externo perante os
detratores do nosso clube, havendo até casos, paradoxais, em que se chega ao
ponto de elogiar sociopatas que fazem da disseminação do ódio ao Benfica o seu
projeto de vida. A dissidência interna não deve implicar ausência de
solidariedade e, muito menos, implícita ou explicitamente, alinhar no jogo dos
inimigos do Benfica.
Por mim, não tenho dúvidas; rejeitando o messianismo, sem prejuízo do
dever de dissidência, solidarizo-me com os órgãos do clube na defesa externa
este. E, no âmbito político não perdoo; penalizarei nas urnas do voto os que
prejudicam ou permitem que outros prejudiquem o meu clube. Sei que não passo dum
grão de areia, mas, como diz o poeta, também sei que: “l’areña es un puñadito…pero hay montañas de arenã!
Peniche 12 de Maio de 2019
António Barreto
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