PARABÉNS BENFICA!
O trigésimo oitavo campeonato do Benfica andava esquivo desde há dois anos, mas desta foi de vez e inteiramente merecido.
Foi uma época longa e difícil. Começou em agosto com a fase de apuramento para a Liga dos Campeões, onde a equipa encarnada deixou para trás outras financeiramente mais poderosas comportando-se dignamente, ao classificar-se em primeiro lugar na fase de grupos, soçobrando nos quartos de final perante o “velho conhecido” das lides europeias, o Inter de Milão, com algumas razões de queixa.
Na Liga portuguesa saiu como entrou, no primeiro lugar numa maratona de trinta e quatro jornadas. Apresentando um futebol de ataque e criativo, liderada por um treinador habituado a outro universo desportivo, que, além de competência, trouxe ética e liderança, a equipa foi cativando os adeptos e público em geral, com vitórias, um futebol ofensivo elegante, eficaz, e uma postura desembaraçada e confiante.
Vacilou no último terço do campeonato, supostamente devido a uma sucessão de circunstâncias desfavoráveis; jogos de elevada dificuldade - Braga e Porto - realizados imediatamente a seguir à participação dos seus jogadores nas seleções, afastamento do defesa dinamarquês - por lesão provocada pelo Uribe, que o retirou desse jogo e dos seguintes até à antepenúltima jornada - e uma série de decisões atrabiliárias dos árbitros em alguns jogos - Chaves - que levou a decisão do título até à última jornada.
Os confortáveis dez pontos de diferença para o segundo classificado reduziram-se a quatro e as habituais facilidades para o rival - penáltis e expulsões a “pedido” - alimentaram a dúvida até à última jornada. Nesta, a equipa não vacilou e confirmou, com justiça, o título de campeão nacional 2022-2023.
Pelo meio, alguns infortúnios - lesão do prometedor Draxler - e saída, no último dia da janela de transferências de inverno, do fantástico e campeão mundial, Enzo Fernandez! Com a saída deste a equipa perdeu algum do “perfume” futebolístico e do fulgor com que enche os relvados. Porém algumas revelações e adaptações compensaram esta perda.
António Silva, Gonçalo Ramos, Ursness, e João Neves, estes últimos cada um ao seu estilo, dois “moiros” de trabalho contagiando colegas e adeptos com a sua combatividade e eficácia, mas também Musa, ponta-de-lança temível que ainda há-de dar muitas alegrias ao clube.
Liderança no terreno do valente Otamendi, Grimaldo em versão melhorada, Alexandre Bah a dar solidez ao flanco direito, Chiquinho e Florentino sempre inconformados a varrerem todo o meio-campo, João Mário criativo e estabilizador da equipa, Rafa irreverente e diabólico várias vezes decisivo, Neres o criativo desequilibrador por excelência e o excelente Odisseias algo acima da época anterior.
Na segunda linha, Lucas Veríssimo, a recuperar de cirurgia, o prometedor Morato, sempre pronto a dar o seu contributo, o lutador Gilberto e os “nórdicos” ainda desconhecidos, de quem se espera bons contributos, tendo em conta o histórico do clube com atletas dessas paragens.
Pelo caminho ficaram as Taças de Portugal e da Liga, ambas com episódios de arbitragem recorrentes, que deixaram entre os adeptos a ideia de que teria havido intenção de afastamento da equipa destas provas.
Toda a época decorreu num ambiente hostil para o Benfica, quer pelo tratamento discriminatório das instituições desportivas, com sistemáticas sanções disciplinares e pecuniárias manifestamente exageradas, quer pela comunicação social em geral, com destaque para o CM e o Record, incansáveis a “desenterrar” temas desestabilizadores, quer algumas instituições da República, MP e PJ, com ações espalhafatosas contra o clube, geralmente coincidentes com períodos de apuros para o Governo.
Como pano de fundo de toda a época o tema da centralização dos direitos desportivos foi surgindo no espaço público. Espera-se com isso aumentar a receita global, melhorar a autonomia financeira dos clubes, diminuir o fosso competitivo entre eles, aumentar a imprevisibilidade das competições e com maximizar a receita global.
Devido aos antecedentes históricos nesta matéria não tenho a menor confiança nas instituições desportivas, Liga e Federação, para liderar este processo. Na verdade, o que está, sobretudo, em causa é a apropriação pela Liga do valor de mercado do Benfica para o enfraquecer e reforçar os seus adversários.
A intervenção do atual Governo nesta matéria, impondo a centralização, associada às sucessivas investidas do MP contra o Benfica, a prisão do anterior presidente - mais um -, consolida a ideia de que há setores partidários empenhados em denegrir e diminuir o Benfica, devido, creio, a traumas de natureza política. De outra forma não se compreende a passividade das autoridades perante certas ocorrências, de natureza financeira, judicial e desportiva.
“O Benfica é uma nação”; é uma expressão que se vulgarizou e que de quando em vez se repete em ar de brincadeira. Porém, o entusiasmo, a alegria, com que os adeptos festejaram esta conquista, em Portugal e por esse mundo fora, alguns chegando às lágrimas, mostra que há algo de verdade nela. E poderá ser um alerta para todas as instituições, desportivas ou da República, que agem ou colaboram, ainda que por omissão, contra o clube, denegrindo-o, pondo em causa a sua honorabilidade, enxovalhando-o na praça pública de forma sistemática, ignorando ostensivamente todo o contributo que o clube tem dado para o desporto nacional, profissional e não profissional em variadíssimas modalidades e múltiplos os estratos etários.
Viva o Benfica!
Peniche, 28 de Maio de 2023
António Barreto
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