Dia de Portugal e das Comunidades
Antigamente, o 10 de Junho, era conhecido por “dia da raça”. Um dia, já depois do 25 de abril, mudou-se essa designação para a atual. Não liguei muito ao assunto mas percebi vagamente que havia algum desconforto, alguma inadequação política, com a celebração da “raça”.
Celebrações de raça é coisa que nunca me agradou; pressupõe sempre uma ideia de superioridade, induzindo no respetivo povo uma falsa, perigosa e dispensável ideia de domínio, alimentando nos outros povos uma reserva de conduta prejudicial ao relacionamento entre povos.
Mas faz sentido celebrar a Portugalidade, onde quer que se encontrem os respetivos nacionais, seja em Portugal, seja por esse mundo fora. Afinal, somos um estado-nação com quase nove séculos, com uma história de altos e baixos, mas riquíssima, invulgar, dos que mais cedo, em todo o mundo, definiram as fronteiras do seu território.
De há uns anos para cá, a extrema-esquerda, com o apoio implícito da esquerda moderada, trouxe para o espaço público a questão do racismo e a dos Descobrimentos insistindo, exclusivamente na vertente negativa, com se tivessem sido, exclusivamente, um mal para a humanidade, algo de que nos devamos envergonhar.
Por outro lado é hoje bem patente, de forma quase explícita, a hostilidade dos referidos setores ao mundo rural e à igreja católica. Uma tendência que ocorre desde a 1ª Revolução Liberal - 1820 -, que se acentuou com a 2ª Revolução liberal - 1834 - e na 1ª República – 1910/1926, atenuando-se na ditadura militar - 1926/1974 – voltando a afirmar-se, mais ou menos discretamente, depois do 25 de abril na democracia de pendor socialista que vigora.
Uma série de fatores tem contribuído para o declínio do Mundo Rural; migração das novas gerações para as cidades, excesso de regulamentação, falta de segurança, expansão do Estado, etc.
“Comam carapau”; exclamou uma ministra ao ser questionada publicamente acerca das consequências da brutal redução da cota de pesca da sardinha imposta por Bruxelas.
Recentemente, a ministra da agricultura fez gala em destratar os dirigentes da principal associação de agricultores justificando a falta de apoios governamentais com a não adesão ao projeto eleitoral do seu partido.
Incêndios e enxurradas devastam os campos deixando um rasto de destruição que expõe a inépcia das estrutura públicas de prevenção, coordenação e combate aos mesmos a despeito das avultadas verbas gastas e dos recursos humanos envolvidos.
Na 1ª República, apesar das promessas de democratização do Partido Democrático, o governo de Afonso Costa alterou a lei eleitoral restringindo o direito de voto ao campesinato e retirando-o às mulheres! O medo de perder as eleições foi superior ao seu “amor” à causa da democracia.
Atualmente, apesar do coeficiente de reposição populacional negativo, o apoio à maternidade, consultas de obstetrícia e partos, parece em crise permanente. Há demasiados partos em ambulâncias, há mulheres que morrem em transferências de hospitais, há falta de consulta médicas, etc.
Porém, aprovou-se o aborto e a eutanásia, não faltando apoios àquele, considerado, agora, uma questão de saúde pública. Quanto à eutanásia, negligenciam-se os planos nacionais de cuidados paliativos, mas não faltarão os incentivos à sua prática até porque, segundo referiu recentemente uma “ilustre” deputada, o “direito à vida não é um direito absoluto”, apesar de a Lei Constitucional o definir como inviolável.
Paralelamente, depois da adesão do Governo ao “Pacto das migrações” proposto pela ONU, à revelia da população, tem-se incentivado a imigração maciça e assumido a defesa incondicional dos imigrantes, mesmo em casos de banditismo ou homicídio.
Ao mesmo tempo, implicitamente, por vezes expressamente, acusam-se os portugueses autóctones de racistas, xenófobos, retrógados, obsoletos, homofóbicos, negacionistas, etc., relativizando as preocupações que se vão instalando nas várias comunidades afetadas por este fenómeno.
Foi neste ponto que comecei a convencer-me de que certos setores políticos não gostam dos portugueses e estão determinados em puni-los e até a verem-se livres deles, substituindo-os por gente mais ao seu gosto.
Percebi então que a acusação latente e por vezes explícita de racismo, aos portugueses, não tem a ver com o facto de estes gostarem ou não de povos de outras raças ou religiões, mas tão somente de quererem ser o que são; portugueses fieis à sua cultura tradicional e secular; maioritariamente cristãos, vinculados à família, à sua comunidade, ao trabalho e à propriedade, adquirida com esforço e abnegação. Numa palavra conservadores! Fascistas, no linguarejar rancoroso, persecutório, vingativo, das gentes vinculadas às ideias de Marx, Engels, Trotski e Cª.
Indo um pouco mais longe, apesar do caráter ideologicamente neutro do Movimento dos Capitães, a deriva socialista que se estabeleceu posteriormente, introduziu um conflito político-social, que agora emerge com maior nitidez e que se traduz numa espécie de revanchismo por parte das vítimas da ditadura sobre a restante população que lhes é contemporânea ou as novas gerações conservadoras.
Incapaz de resolver este problema, a democracia enfraquece ao estigmatizar e segregar a população não socialista criando e agravando fraturas sociais e descredibilizando os agentes políticos bem como as instituições da República.
Que o “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades” seja um momento de união entre todos os que amam Portugal, independentemente da sua origem e condição, mas jamais um pretexto para os grupos próximos do poder hostilizarem os restantes, como sucede nas comemorações do 25 de abril.
JOAQUIN SOROLLA
Peniche, 11 de Junho de 2023
António Barreto
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