Mário Bandeira é o “meu” livreiro;
é um tipo castiço, com talento e história. “Semos sócios” ! Volta e meia, antes
de levar o jornal, vamos lá para o canto do balcão onde ele verseja de
improviso e eu “guitarro” a preceito, respeitando o tom do “artista”.
Naquele dia, o Mário estava numa
espécie de “tertúlia científica” com alguns clientes.
– Se passar um cabo até à lua e ligar
a luz, quanto tempo leva a chegar lá? Perguntava veemente o bom do Mário
perante os silenciosos ouvintes! Logo que me avistou disse;
-Olha ali o Barreto deve saber!
Sabe, com certeza! Ó Barreto, quanto tempo leva? Respondi:
- Ó Mário, depende do tipo do
condutor, do seu comprimento, da sua secção, da potência da lâmpada e da
temperatura média ambiente. Posso calcular um cabo elétrico para esse fim se me
disser a potência da lâmpada e o tempo.
- Não, não, quanto tempo leva?
Repetiu, continuando:
- São sete segundos e meio, que
eu ouvi há dias num programa na TV!
-Ah! O que o Mário quer perguntar
é; quanto tempo demoraria a ser vista na lua, a luz de uma lâmpada desde o
momento em que é ligada na Terra! Repliquei, continuando:
Ora a distância da Terra à Lua é
de, aproximadamente, 374000 Km e A velocidade da luz acho que é 3000000 Km/s,
portanto demora aí…quase dois segundos, não é assim Maria? (é assim que trato a
minha sueca, ex-professora de física, química e matemática).
-É mais ou menos isso, acho eu!
Respondeu. (a distância exata entre a Terra e a Lua é de 384400 Km).
Estávamos nisto, quando se fez
notar um “jovem” baixote na casa dos sessenta, cabelo rapado, magro,
desempenado, com quem ganhei imediata empatia por se apresentar de camisola
amarela, ostentando com discreto orgulho o emblema do Glorioso, dizendo:
- Uma vez, estavam três gajos, um
deles Alentejano, a conversar, diz assim um:
-É pá o Capel é um ganda jogador! Sacana tem uma corrida que parece um
foguete! Respondeu outro:
- Não chega aos calcanhares do Nolito; esse sim, tem uma velocidade que
nunca vi, parece um avião! Diz então o Alentejano, subitamente inspirado:
- É pá; agora fora de
brincadeiras; qual será a coisa mais rápida do mundo? Após um breve silêncio
respondeu o primeiro:
-Cá p’ra mim é a luz elétrica. A
minha fábrica tem 100 metros, liga-se a luz numa ponta e no mesmo instante,
acende-se a luz lá no outro lado! Porra! Isto é que é velocidade! Diz o
segundo:
-É pá eu acho que é o telefone.
Já viram? Ainda há dias falai com o meu irmão que está na América, nem sei
quantos quilómetros são, vocês já viram bem? Falamos daqui e no mesmo instante,
estão a ouvir o que dizemos no outro lado! Já viram, uma distância daquelas? Eu
acho que o telefone é muito mais rápido! Diz então o Alentejano muito depressa:
- É a caganêra!
-A caganeira? Responderam os
outros em uníssono, meio ofendidos:
-Pois, a caganêra! Respondeu
convicto o Alentejano.
-Pronto, lá tás tu com as tuas merdas!
Nu vês que estamos numa conversa a sério? Ripostaram os colegas.
- É pá, vocês nem me deixam
falar, dass! Volto a dizer; é a caganêra! Repetiu com ênfase o Alentejano.
- Pronto, atão diz lá porquê!
Tinhas que estragar tudo, pá! Chiça! Nu se pode ter uma conversa séria contigo!
Gaita! Disse um dos outros.
- É que, quando ela vem,
não dá tempo nem de acender a luz nem de ligar o telefone!
Olharam-se os três e após um
breve silêncio, desataram às gargalhadas acompanhadas com mútuas pancadas nos
costados, retomando a conversa inicial;
- Atão que vai ganhar o
campeonato? Tenho cá uma fézada…
E lá fui, sorridente, ao cafézinho matinal, com o jornal debaixo do braço.
E lá fui, sorridente, ao cafézinho matinal, com o jornal debaixo do braço.
AB
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