Foram os Portugueses que,
em 1482, construíram o Forte de S. Jorge da Mina, na sua Feitoria da Mina, situada
na cidade de Elmina, tomada pelos Holandeses no século XVII - 1637, época
em que Portugal estava sob domínio Espanhol, por sua vez em
guerra com os Neerlandeses, os quais atacaram as desprotegidas
possessões Portuguesas por toda a parte, tendo conquistado algumas delas. S. Jorge da Mina foi tomada pelos
Ingleses em 1874 que constituiram a Costa do Ouro, a qual se tornou finalmente
independente em 1957.
Não pude evitar um breve arrepio
quando entrei no Forte de S. Jorge da Mina, perguntando-me que povo seria
aquele, que, há 570 anos, chegara àquele local e nele instalara a primeira
Feitoria Europeia em África a partir da qual desenvolveu intensa e proveitosa atividade comercial,
chegando mesmo a impor, durante quase 200 anos, a sua soberania na região.
O orgulho, porém, rapidamente deu
lugar à deceção ao constatar que uma das mercadorias mais valiosas que ali se
transacionara era…humana! Amontoada e agrilhoada nas exíguas, escuras e
asfixiantes celas que se veem nas fotos, através das quais “circulavam”, por
métodos desumanos, até sucumbirem, acabando enterrados na praça interior do
próprio forte, ou serem “despejados” nos navios que os aguardavam,
fundeados no exterior, paredes meias.
Bem no centro de todo este horror
uma capela portuguesa! Uma capela onde a guarnição do Forte celebraria as
homilias Católicas! Os valores de Jesus Cristo! Afinal, para que serviria a
capela? Perguntei-me perplexo, ensaiando uma explicação plausível; a Igreja Católica não
considerava os negros como seres humanos dignos de Cristo! Mas como? Se a principal revolução por ele
introduzida consistiu, precisamente, em pôr fim a qualquer tipo de discriminação humana! Recordei
como derrubou decidido, os dogmas da época, recusando-se a excluir os designados ímpios e blasfemos! Recordei Maria Madalena! Não; aquela não
foia Igreja de Jesus Cristo!
Mas então, uma das missões
atribuídas pelo Vaticano aos Portugueses não consistia, precisamente, na difusão
da Fé Cristã pelos indígenas dos “novos” territórios, razão da inscrição da
bonita Cruz de Cristo que a nossa Sagres, ainda hoje, orgulhosamente, ostenta?
Então porque se condenavam à escravidão os destinatários da evangelização
Católica? Que entendimento tinha a hierarquia Católica da Doutrina de Cristo? Consider-se-ia com poder para decidir quem era ou não, merecedor da
Cristianização? Que terá feito perante o escravo evangelizado? É este um dos paradoxos da História que
gostaria de compreender! E que a Igreja Católica tem obrigação de dar!
Compulsivamente, emergiu-me a convicção de que os europeus e os americanos
têm uma dívida profunda para com os povos africanos colonizados, pelo sofrimento
que lhes causaram ao escravizá-los, em nome do almejado progresso económico, que
acabariam por alcançar e lhes garantiu a supremacia global sobre os restantes povos.
Após entrarmos na primeira cela,
ouvimos a porta de ferro bater com estrondo! O Guia tinha-a fechado para dar
mais realismo ao horror que pressentíamos! Por momentos, enquanto procurava inexistentes entradas de ar exterior, pensei no que faria se
lá permanecêssemos fechados. Foi com alívio que vimos a porta a abrir-se, tendo prosseguido a visita, calcorreando todos os compartimentos do forte, os quais se apresentavam em
bom estado de conservação, incluindo os cadafalsos, testemunhos de uma das
maiores vergonhas da Humanidade e do Ocidente!
No exterior, mesmo junto à
muralha, um exuberante relógio de sol, presumo que, com a idade do Forte. Na
praia construía-se uma “bateira” tradicional, cujo o casco era um tronco de árvore escavado, sobreelevado lateralmente com
recurso a longas tábuas. De propulsão mista; a remos
e com motor fora de borda, cada embarcação poderia levar entre 10 a 30
tripulantes. A pesca era exercida tanto junto à praia - a que assistimos - como
a muito longa distância - geralmente na costa do Togo - a vários dias de viagem. Uns metros além, o porto de pesca,
onde as “bateiras” se aglomeravam, indiciando ser esta a principal atividade
económica apesar de pouco rentável, como se percebia pela visível pobreza
geral da população.
No piso reservado ao Governador
da Feitoria, sua família e guarnição, uma exposição de pintura, artesanato e literatura condizente, mais dirigida à captação de recursos do que à divulgação cultural.
Um pequeno bando de jovens no exterior, assedia com persistência incomodativa os visitantes,
tentando obter alguns cedi a troco de
pequenas bugigangas.
Regressámos a Tema, almoçando no terraço de um ótimo hotel
próximo, junto à praia, algo que tive dificuldade em tragar e de onde se avistava o Forte…e…as “sereias” que se
recreavam na piscina, as quais responderam com aparente entusiasmo aos
nossos patéticos acenos.
AB
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