Correio da Manhã, 15.12.2012, pág. 32
“Temos um campeonato muito difícil e a conjuntura
económica vai fazer com que o futebol português não vá ter tanta qualidade como
nos últimos anos", disse ontem Jorge Jesus. O técnico do Benfica frisou
que "muitos jogadores portugueses com qualidade" acabam por sair para
outros países, como a Roménia ou Chipre, por receberem mais, e vincou que esta
tendência se vai sentir cada vez mais no futuro.
"Às vezes oiço críticos perguntarem porque é
que o Rui Pedro está na Roménia e outro no Chipre ou Bulgária. Estão lá a jogar
porque esses países pagam três vezes mais do que em Portugal e o nosso jogador
médio vai sair para esses países", disse.
Depois, observou que as equipas de menor nomeada
vão sentir "cada vez mais dificuldades", mas manifestou-se convicto
de que os clubes vão encontrar soluções. "O povo português é muito
inteligente e vai procurar alternativas em outro lado, descobrindo jogadores em
outros mercados onde ainda ninguém lá chegou", vincou.”
Serenamente, aflorou-se-me ao espírito como se fosse uma
inevitabilidade o pensamento de que Jorge Jesus iria ser campeão europeu pelo
Benfica. Apesar da compatibilidade dos
notáveis pergaminhos do clube com este cenário, as conjunturas que desde há muito afetam o
futebol português e europeu fazem depender a conquista de títulos de outros
méritos que não os desportivos. De facto a corrupção desportiva é hoje uma
indústria altamente rentável para quem a pratica - ver “Máfia no Futebol” de Declan Hill, editora Saída de Emergência”
-, limitando-se as autoridades nacionais a um silêncio cúmplice ou
proporcionando aos tribunais os instrumentos necessários à absolvição dos
agentes da corrupção mais relevantes, na vã esperança de “lavar” a consciência,
tentando fazer crer aos cidadãos que o primado da Justiça lhes assiste
tratando-os como mentecaptos. Por outro lado, quer a UEFA quer a FIFA, entidades
altamente desacreditadas por sucessivos casos que têm
vindo a público, sabendo-se impotentes perante esta exemplarmente disseminada estrutura corruptiva,
vão lançando sucessivos planos de prevenção e combate do fenómeno, quanto a
mim, apenas para parecer que se preocupam. Se assim não fosse há muito que teriam
promovido a inclusão das tecnologias no jogo. Mas não; tais criaturas “corruptossáurias” entendem muito
doutamente que os erros de arbitragem, mesmo que grosseiros, ainda que
decisivos, ainda que denunciantes, fazem parte do jogo, pois proporcionam acesas
e apaixonantes discussões entre os adeptos, sobrelevando aqueles detalhes
ridículos eminentemente futebolísticos que costumavam deliciar os espectadores.
Entre a classe política
nacional vai-se instalando a “grave preocupação” da carência de futebolistas
portugueses nas formações nacionais, atribuindo-lhes a responsabilidade de tal
facto, enquanto anunciam “medidas” tendentes a corrigir esta “disfunção
desportiva”. Ignoram estas luminárias que tal se deve à livre circulação de
pessoas e bens no espaço europeu tornando inevitável a migração de atletas,
devido às tremendas diferenças salariais entre os vários países e fragilizando continuamente,
inexoravelmente, os clubes nacionais, grandes e pequenos, todos eles focados na
sustentabilidade financeira só possível pela rotação frequente de atletas, o
que impossibilita o desenvolvimento sustentado de qualquer projeto desportivo,
mesmo nos grandes clubes.
Graças aos atuais
dirigentes e à sua tremenda popularidade e prestígio, o Benfica conseguiu
reerguer-se e luta pela recuperação da sua inegável e desejável dimensão
europeia e mundial, contra uma estrutura que, inequivocamente, favorece o
projeto portista, beneficiando este de uma evidente convergência de interesses,
nomeadamente políticos e económicos, regionais e nacionais.
Voltando a Jorge Jesus,
é evidente que a espécie de “premonição” que me acometeu, emergiu na sequência do
evidente progresso do projeto desportivo que Jorge Jesus encabeça,
caracterizado pela coerência técnica implementada nos vários escalões e pelos
jovens valores que vão despontando oriundos da formação, que proporcionam
soluções desportivas de qualidade, estabilizando todo o projeto, também pela consequente
valorização económica global.
Jorge Jesus sabe disso,
interiorizou isso, adquirindo a serenidade necessária para desenvolver e
aperfeiçoar as suas ideias num projeto vertical. O Benfica cresceu com Jorge
Jesus e este...está a crescer com o Benfica. Tal realidade manifesta-se autonomamente,
instalando-se entre atletas, dirigentes, adeptos e…adversários, fazendo
renascer a temível mística Benfiquista, para desgosto do gerente de caixa e
seus correligionários.
Boa sorte para o
Benfica no jogo iminente com o Marítimo, equipa muito bem orientada e sempre
difícil de bater.
AB
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