Desporto

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O SNS é tendencialmente insustentável.

(Texto de Henrique Raposo publicado no jornal expresso)
 
Esta feliz frase não é minha, é do professor João Lobo Antunes. Acrescento apenas uma coisa: não é matéria de opinião, é matéria de facto. Não querer ver isto é o mesmo colocar a vaidade ideológica à frente dos factos. Que factos? Para começar, a subida da despesa em saúde tem sido muitíssimo superior à criação de riqueza. No mundo das proclamações histéricas à la Arnaut 2 + 2 podem não ser 4, mas no mundo real 2 + 2 são mesmo 4. A conjugação da nossa já histórica regressão económica (estamos em divergência em relação à Europa desde 2000) com o aumento das nossas despesas de saúde cria um cenário de insustentabilidade do SNS. Isto é um facto, não uma posta de pescada ideológica.
 
Depois temos de olhar para o dramático envelhecimento da população e para o contínuo aumento da esperança média de vida. Em anexo, devemos ainda olhar para a natural pressão no sentido do SNS adoptar as últimas e caríssimas novidades tecnológicas e farmacológicas. Ou seja, estamos perante uma tempestade perfeita que vai varrer a nossa vida nas próximas décadas: a ciência médica continuará a criar tratamentos e tecnologias que, em teoria, melhorarão a vida das pessoas. Problema? O medicamente possível poderá ser financeiramente impossível. Se a tecnologia médica está a avançar, a demografia está a recuar, isto é, teremos cada vez menos jovens para suportar fiscalmente o SNS usado com mais frequência pelos mais velhos. Resultado final? Em 2010, o Estado português gastava 7,6% da riqueza nacional no SNS; se nada de fundo for feito (Macedo está apenas a gerir, e bem, o status quo), essa despesa subirá para os 11.1% em 2030. Esta será a quarta maior subida dentro da OCDE.
 
Ora, o nosso espaço público transformou estes factos em tabus. Se apresenta esta realidade crua e nua num debate, um sujeito é imediatamente acusado de "querer matar o SNS", um dos slogans indignadinhos da moda. Em Portugal, o debate sobre saúde é sempre o mesmo: chama-se o "pai do SNS", e pronto. O dr. Arnaut chega, faz as piruetas da sua vaidade ideológica e, prontinho da silva, está tudo debatido. Esta atmosfera histérica e afastada dos factos torna impossível uma discussão adulta sobre a reforma do SNS. Por exemplo, é impossível comparar o SNS com outros modelos europeus e até com o obamacare, porque essa comparação não é vista com bons olhos.
 
Consequência? Toda a gente julga que o nosso SNS é a representação portuguesa de um mirífico SNS europeu que se repete em todos os países da UE. Pouca gente sabe que o SNS português é a negação do sistema de saúde da Alemanha, Holanda, Áustria, França, etc. Tragédia? A sustentabilidade da saúde dos portugueses necessita de uma aproximação a estes modelos mais flexíveis, mais justos e menos caros. Mas, caluda, ah!, porque temos de ser escravos da vaidade de Arnaut e dos Arnautzinhos 

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