(in DN 2013.02.04)
Parte é perfeitamente compreensível e justificada. Muitos de nós também não
percebemos de medicina mas não estamos dispostos a aceitar tudo aquilo que os
tratamentos nos querem impor. Uma coisa é a recomendação técnica, outra a nossa
vidinha que a tem de suportar. Curas dolorosas são fáceis de recomendar aos
outros, mas difíceis de engolir.
Apesar disso, admitimos que os médicos é que sabem. Mesmo quando não lhe
ligamos, reconhecemos-lhe autoridade. De médico e de louco todos temos um pouco,
mas poucos se atreveriam a apresentar e discutir com especialistas as
terapêuticas e teorias de leigo que inventaram no duche. Na economia, porém,
isso é habitual. Porque será?
Primeiro porque a economia, afinal, parece ser uma ciência rudimentar, como a
própria crise manifesta. Tantos estudos e teorias e afinal estamos na miséria.
Mas serão os economistas culpados? Afinal o País ignorou os sucessivos avisos
que eles fizeram durante décadas. Além disso não nos passa pela cabeça acusar os
meteorologistas pelo recente furacão ou os médicos pela morte do doente. A razão
é que se compreende que clima e corpo humano são sistemas complexos e difíceis
de controlar, mas não se entende que empresas e mercados são sistemas ainda mais
complexos e difíceis de controlar. Dez milhões de pessoas, cada uma a puxar pelo
seu lado e a tentar melhorar a vida, é algo indescritível, enigmático e
insubordinável.
Apesar disso, a economia, como meteorologia e medicina, conseguiu avanços
espantosos. Não só a recessão é muito menor do que se esperava e do que
costumava ser há cem anos, mas o nível de vida que temos, mesmo com crise, é
muito superior ao que se podia imaginar há uns anos. Só que ninguém dá valor a
isto, dado as coisas estarem pior do que deviam ser. Todos se acham com direito
a uma economia próspera e não vêem que isso é tão tolo como exigir um dia de sol
ou uma vida longa e saudável.
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