Desporto

quarta-feira, 27 de março de 2013

Grandes malhas

In Público de 27 de Março de 2013
Por M. Fátima Bonifácio
 
A Persistência de uma ilusão
 
"...Eis senão quando encontrei anteontem João Soares no ecran da SIC-notícias, como tantas vezes acontece. E vi-o jubilante ( o termo não é excessivo) agradecer ao Partido Comunista Português a ordem que tem presidido às manifestações de protesto em Portugal. Disse-nos que devíamos estar gratos, e atribuiu essa postura cordata , "responsável" ao "patriotismo" do PCP. Num ápice desapareceram - esqueceram-se - os pelo menos 14 milhões de pessoas que o nazismo e o estalinismo, em partes praticamente iguais, em meados do século XX assassinaram no que Timothy Snyder, um historiador brilhante e respeitado, chamou de Bloodlands - onde fica hoje em dia a Ucrânia, a Bielorússia, a Polónia, a Rússia Ocidental e a costa báltica oriental. Timothy Snyder, apoiado na mais exigente cobertura arquivistica disponibilizada nas últimas décadas, abre portas para que possamos compreender a "banalidade do mal" não apenas canonizada pelo nazismo, mas também pelo comunismo.
 
Dizem-me que a Utopia era Bela, e isso tem, miseravelmente, servido para todas as desculpas! Em primeiro lugar não era Bela: que horror, sermos todos iguaizinhos, todos dependentes do Estado, vivendo com Polícia Política e com Censura (não há Socialismo sem estes "ingredientes"); em segundo lugar, que Utupismo, mesmo celestial, vale a morte de dezenas de milhões de seres humanos?
 
Caro Dr João Soares: puxe pela memória de tudo quanto sabe dos regimes e dos partidos soviéticos. Não é nenhum patriotismo que move o PCP quando este tenta impedir a degenerescência anarquista das demonstrações. É, apenas e singelamente, a necessidade imperiosa de controlar tudo e de submeter, a cada momento, o movimento social aos superiores imperativos daquilo que eles, na sua narrativa mítica, ainda imaginam ser, o Comunismo Internacional. Para os comunistas apenas interessa a História, as pessoas contam nada - nada! Ou já se esqueceu da "homenagem à Catalunha" do Orwell?"
 
 
In Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
Licenciou-se em História em 1977 pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Doutorou-se em História em 1990 pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde também realizou a Agregação em 1997.

Ingressou no G.I.S. (Gabinete de Investigações Sociais) em 1978 e posteriormente no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (1981), onde exerce actualmente as funções de investigador-coordenador. De 1980 a 2006 exerceu funções docentes na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

O início da sua carreira de investigadora foi marcado pela agenda historiográfica doméstica, então dominada pela Nova História e vários estruturalismos. Na sua tese de doutoramento (A via proteccionista do liberalismo português: política e economia nas relações luso-britânicas, 1834-43), rompe com as teses então consagradas sobre a sociologia do “cartismo” e “setembrismo”, mostrando que ambos os “partidos” eram dogmaticamente proteccionistas, por convicção ou pragmatismo, e que os tão encarecidos interesses livre-cambistas se limitavam afinal à produção e comércio do vinho do Porto, exclusivamente sediados nesta cidade e na região do Douro, e em contradição com os interesses (proteccionistas) do restante conjunto nacional.

A partir daí divorciou-se dos modelos de escrita da história então consagrados e enveredou naturalmente pela história narrativa, interessada em recuperar a liberdade e autonomia relativas dos indivíduos e reabilitando estes como actores conscientes da história. Toda a sua obra subsequente, da História da Guerra Civil da Patuleia (1846-47) à biografia D. Maria II (1819-1853) pode e deve ser lida como uma reabilitação da “velha história”, ou seja, como uma exploração das virtualidades da narrativa para tornar inteligível as acções dos homens no contexto dos constrangimentos a que estavam sujeitos. Sobre esta opção pela história política narrativa – o seu estatuto epistemológico e a sua legitimidade disciplinar – M. Fátima Bonifácio explicou-se detalhadamente num longo ensaio publicado em 1999, Apologia da História Política.
 
António Barreto

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