Sinto uma repulsa compulsiva pelo centralismo venha ele de Bruxelas ou de Lisboa, venha dos organismos públicos ou das inúmeras entidades privadas onde aqueles lançam as suas longas e pesadas garras. Defendo a intervenção dos cidadãos na gestão da sua cidade e do seu país através do modelo representativo, inevitável nas sociedades actuais, com componentes participativas. É este, quanto a mim, o maior desafio das democracias, nomeadamente a europeia, em especial a portuguesa, nas quais, paradoxalmente, a par de um discurso apologético da participação cívica dos cidadãos por parte dos doutrinadores políticos, assistimos a uma crescente, asfixiante e inapelável concentração de poder em Bruxelas que, não só decide quase todos os detalhes da vida de cada um como os fiscaliza de uma forma obsessiva e persecutória trazendo-nos à memória o regime da ex-união soviética e outros totalitarismos nos quais os direitos dos cidadãos são totalmente subjugados pelo Estado.
A Regionalização é um desígnio constitucional com o qual, em princípio, estou de acordo, porém, perante os dislates a que temos assistido seja nas ruinosa gestão financeira ou no permanente confronto institucional e divisionista por parte dos principais dirigentes das nossas Regiões da Madeira e Açores, perante o desconforto causado pelo discurso incendiário, intolerante e discriminatório de gente promotora da Região Norte, concluo que o país ainda não tem condições para concretizar tal propósito. Os pressupostos dos regionalistas estão errados; regionalizar sim, para envolver os cidadãos na causa do desenvolvimento para todos sem esquecer a solidariedade trans-regional, num clima de tolerância, racionalidade, empenho e patriotismo.
O Povo de Cinfães, bem no coração da região norte, foi ver o jogo do clube da terra com o Benfica; os adeptos de ambos misturaram-se alegremente aplaudindo, cada um deles, o seu clube preferido, num jogo bem disputado. Pairou no ar um clima de convívio competitivo e festa. Como deve ser!
Pinto da Costa, instigado, creio, pelos regionalistas locais, pelo PS e, mais recentemente, por um crescente sector do PSD, levantou há décadas a bandeira regionalista transformando um clube de futebol num agente político, razão primeira da discricionariedade a que temos assistido em todas as competições em que o FCP participa, graças ao evidente conluio de múltiplas entidades desportivas e não desportivas.
Já todos sabemos que Pinto da Costa quer é ganhar, seja como for, revelando uma falta de ética a todos os títulos reprovável. Porém, o que me espanta, é verificar como, entre tanta gente respeitável à sua volta, ninguém parecer ver o óbvio! Como pode a causa da regionalização ganhar adeptos, num ambiente de hostilidade, com repetidas acções violentas associadas ao futebol na sequência de sistemáticos discursos provocatórios com laivos de chauvinismo? Como pode a causa da regionalização progredir querendo impor a toda a população regional um só clube, o FCP incentivando o ódio ao Benfica? Numa futura região norte os adeptos de outros clubes seriam perseguidos e ostracizados socialmente, como fizeram à criança de Braga? O que aconteceria aos Cinfanenses Benfiquistas, Sportinguistas, etc.? Teriam todos que abjurar dos seus clubes, abrindo-se a figura dos portistas-novos? Mas esta gente não se enxerga? não entende que o discurso de Pinto da Costa e seus apaniguados é contrário aos interesses da regionalização por ferir os princípios elementares das sociedades democráticas? Como é possível que tanta gente respeitável tenha embarcado nesta insensatez?
Pinto da Costa não serve a causa da Regionalização...serve-se dela!
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