O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais
….constata-se claramente que grande número de partidos que enquadraram politicamente o Boom neocapitalista na Europa do pós-guerra se mostram hoje incapazes de responder, por um lado à dinâmica “integracionista”, e por outro, ao repto de uma esquerda que se adaptou ao terreno da democracia burguesa e aposta a sua cartada no jogo eleitoral….(VJS)
Em linha com AJS; parece que os socialistas modernos se caracterizam pela falsa adesão às democracias, com o propósito de, pela gradual e sistemática via reformista, atingir os objetivos da sua ideologia, garantindo a adesão do eleitorado graças à prática, insustentável embora, da redistribuição. (AB)
…..O poder operário, se existe - e existe - é, repita-se, nos países ocidentais industrializados – onde o operariado, de facto, tem já nas suas mãos (e não nas polícias do Estado) uma parte do poder…… (JAS)
Talvez seja esta a justificação do célebre “quanto pior melhor” atribuído ao tradicional comportamento político do PCP; o atraso económico garante-lhe maior audiência junto do eleitorado. “Com efeito, o estalinismo impõe-se como o reverso da medalha do salazarismo, enquanto totalitarismos de sinal diferente - e que reciprocamente se justificam – e enquanto expressões de atraso económico-social e político”. (AB/VJS)
…Na verdade, enquanto nos países onde o movimento social é forte, os partidos aparecem sobretudo como emanações do corpo social, como expressão das tensões existentes no seu interior, em Portugal, os grandes partidos surgem menos como “expressões orgânicas” do movimento social - que é débil - do que como figurinos importados do estrangeiro…(JAS)
É esta uma incontestável realidade; só agora - em 2018 -, graças aos efeitos da crise económica de 2008 e da consequente radicalização dos tradicionais partidos, a sociedade revela sinais de criar a sua genuína dinâmica política emergindo vários novos partidos e movimentos; é o caso do Democracia 21, do Partido Liberal, do Partido Nacional Renovador, do Partido Aliança, do Movimento Por Uma Democracia de Qualidade, do Movimento Não nos Calamos, do Movimento Chega, e outros. O domínio do aparelho estatal pelos “velhos” partidos e os constrangimentos da “engenharia” constitucional na esfera partidária, porém, eventualmente, inviabilizarão a sua ascensão. Tal, a verificar-se, constituirá a derradeira condenação à morte desta 2ª, ou 3ª, República.
….O PS, que até certa altura tinha vindo a atuar com muita cautela, evitando a todo o custo a marginalização - recorde-se o seu apoio à nomeação de Vasco Gonçalves para o cargo de primeiro-ministro …em prejuízo de Firmino Miguel, o candidato de Spínola - toma agora ele próprio a iniciativa de se demarcar em relação do Poder constituído, passando mesmo a afrontá-lo diretamente…. (JAS)
Fica pois assente a atenuação da responsabilidade de Spínola na desastrosa nomeação de Vasco Gonçalves para o primeiro-ministro do primeiro Governo pré-constitucional, que revolucionaria a estrutura económica e patrimonial do país conforme o modelo estalinista, ainda hoje não totalmente erradicado. Pelo contrário, confirma-se o alinhamento inicial do Partido Socialista com o Partido Comunista, tornando-o corresponsável pelo descalabro revolucionário. Por outro lado, a posterior dissidência do Partido Socialista teria tido mais a ver com a marginalização a que fora votado pelo PCP, que assumira o controlo do processo, do que por “amor à genuína democracia liberal. (AB)
(Praia de Peniche de Cima)
Peniche, 26 de Outubro de 2018
António J. R. Barreto
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