Desporto

domingo, 28 de outubro de 2018

O 25 de Abril Visto da História (notas P4)



O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais

…Quando Portugal dispõe, na América, de uma das maiores e mais ricas colónias do mundo - o Brasil - são empresários portugueses que controlam, cá dentro, a maior indústria portuguesa do tempo: os vinhos do Porto. …(JAS)

   É verdade. Foi pela 2ª metado do século XVIII, por ocasião da pré-revolução industrial em que a Inglaterra protagonizava um tremendo desenvolvimento da indústria da tecelagem, com envolvimento da sociedade civil e da Coroa – surgiram então as primeiras PPP na construção e desenvolvimento da rede viária e fluvial para escoamento da produção do carvão e dos têxteis, culminando na mecanização das máquinas de tecer com máquina a vapor, com a constituição das primeiras fábricas e consequente migração dos camponeses para as cidades – que a transformaria no maior produtor mundial. Foi neste contexto que Portugal – através do Marquês de Pombal que haveria de criar a primeira região produtora demarcada do mundo – do Douro, que acabaria por resultar no “Massacre dos Taberneiros”-, estabeleceu um contrato de comércio com a Inglaterra mediante o qual Portugal lhes compraria todos os têxteis de que necessitasse e lhes venderia todo o vinho que produzisse, em regime de exclusividade. O célebre economista David Ricardo haveria de defender os benefícios mútuos deste contrato calculando a razão de troca em 3 para 5; por cada unidade investida, Portugal ganharia três e a Inglaterra cinco. Aqui reside a desvantagem lusa, que haveria de conduzir ao empobrecimento do país ao excluir economias que possibilitariam melhores condições de comercialização. A verdade é que, por esta época, a Inglaterra já era o principal beneficiário do comércio do império colonial português; pelos fretes das mercadorias e policiamento das frotas, bem como pelos serviços de seguros das mercadorias, limitando-se Portugal a cobrar os direitos alfandegários e as taxas portuárias, sem intervenção direta na exploração colonial. Após a vitória sobre a célebre Armada Invencível, com a destruição e afundamento de numerosas naus portuguesas, A Inglaterra dominou os oceanos até à I GM, sendo então superada pelos EUA no domínio marítimo.

…Significativamente, há hoje quem defenda que Portugal morreu (deixou de ser viável) como país independente, na medida em que, como disseste, deixou de dispor de “válvulas de escape” – situa-se neste campo, por exemplo a União Ibérica, mas não só…..(JAS)

….Neste momento, na Europa, parece de facto em vias de constituição uma nova força – que seria formada por partidos comunistas, socialistas e mesmo sociais-democratas, quer de Leste quer de Oeste cujo combate se travaria em duas frentes: por um lado contra o conservadorismo de Moscovo e o seu papel de “Estado-guia”; por outro, contra a hegemonia americana na Europa e os partidos conservadores do Ocidente (como as Democracias Cristãs, os Conservadores ou os Liberais)….(JAS)

   Esta previsão deve ter-se, pelo menos em grande parte, concretizado, considerando o asfixiante centralismo que a União Europeia impõe aos Estados membros, transformando os seus governos em meros agentes executivos das suas intermináveis diretivas, sobrepondo estes à sociedade Civil, condicionando a liberdade económica ao “planeamento central” conforme a visão do mundo da elite constituinte do Conselho Europeu, imiscuindo-se, cada vez mais, em cada detalhe da vida dos cidadãos. Uma clara herança do extinto totalitarismo soviético, que, sobretudo a partir de 1989, deverá ter espalhado na Europa, algumas “metástases”.
Peniche, 25 de Outubro de 2018
António J. R. Barreto

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