Desporto

sábado, 10 de novembro de 2018

O momento do Benfica (III)


Das Infraestruturas (cont):

  
O Complexo do Seixal é a segunda obra emblemática do consulado de Filipe Vieira no Benfica. Um tremendo sucesso. Apesar de fugazmente a equipa principal tem beneficiado do contributo direto da formação do Seixal - nalguns casos de forma decisiva Por essa Europa fora, nos muitos torneios em que participam, várias equipas, com destaque para as dos juniores, têm deixado boa imagem do futebol que por cá se pratica. O mesmo sucede com uma “mão cheia” de “jogadores da casa” que “perfumam os relvados dos melhores campeonatos do velho continente depois de terem proporcionado generosas receitas ao clube. Não negligenciável é o contributo direto para o futebol nacional aumentando a oferta de jogadores de qualidade - por vezes amarga para o clube formador - de que os adversários do Benfica tiram partido.

   Vem a propósito recordar que foi o produto da venda dos jogadores da formação - cerca de 95 milhões de euros, salvo o erro - que permitiu ao clube – sem recorrer a financiamento bancário - ressarcir, in extremis, os investidores do Fundo de Investimento - que durante alguns anos permitiu ao Benfica, recrutar e manter nas suas fileiras jogadores de alto nível. Uma malfeitoria imposta pela FIFA sob o pretexto da origem suspeita destes capitais. Na prática, defendendo os interesses dos clubes que mandam no futebol europeu.

   Se tudo isto é verdade - o Benfica tem, hoje, a melhor escola de formação do país e uma das melhores da Europa -, tal não nos impede de vermos “o outro lado”.

   Comecemos por ter em conta que a ideia do Seixal foi de Vale e Azevedo - que já tinha efetuado a compra dos mesmos à Euroárea, do “desaparecido” Artur Albarran -, Filipe Vieira deu continuidade ao processo.

   Por outro lado há que ter em conta os inerentes encargos financeiros - de investimento e de exploração - que estimo em cerca de 10 a 12 milhões de euros por ano. Tal impõe a necessidade de venda de um jogador da formação anualmente, o que implica constrangimentos nos períodos recessivos, com reflexos no “produto” principal; o futebol da equipa sénior.

   Ora convém não perder de vista o propósito primordial da formação; aumentar cumulativamente a competitividade da equipa sénior de forma a elevá-la ao que foi no passado longínquo. O caso é que, paradoxalmente, pode ocorrer o oposto; a necessidade de colocar os jogadores da formação na equipa sénior pode induzir à exclusão de jogadores estruturantes. Este será um dilema permanente a exigir níveis de competência da superestrutura historicamente voláteis. Até porque, inevitavelmente, suscitará divisão regular entre os adeptos; nunca todos estarão de acordo relativamente à dispensa ou integração de um jogador da formação. Tomemos o caso como os “ossos do ofício” inerentes à direção de um clube altamente escrutinado a exigir competências à altura.


   Neste preciso momento, vive-se, no Benfica uma crise suscitada por equívoco associado à formação e que consiste no recrutamento de um Treinador pelas suas qualificações e experiência em pedagogia desportiva, pelas suas qualidades humanas, relativizando a importância da capacidade de preparação de uma equipa de topo. O efeito pode ser devastador, seja na decadência competitiva da equipa sénior, seja na desvalorização e debandada dos jovens da escola do clube.

   Não há como evitar dizê-lo; a excelente qualidade dos Treinadores da formação contrasta com a mediocridade técnica e mental do atual Treinador da equipa principal, a despeito de todas as outras qualidades que possui. O topo da pirâmide da formação está  a pôr em causa a qualidade da mesma acarretando prejuízos incalculáveis no curto e médio prazos.

   Ora, isto mostra que, a formação no Benfica, se transformou numa obsessão do seu grande mentor, Filipe Vieira, a ponto de esquecer a fim primeiro da mesma; tornar a equipa sénior cada vez mais competitiva. Tal como as obras físicas, também a formação é instrumental e nunca, por nunca ser, um fim em si mesmo. Isso era no Alverca - com todo o respeito -, que é onde ao atuais Presidente e Treinador ainda “têm a cabeça”. O Benfica é algo que nenhum dos dois, efetivamente, sabe o que é, apesar de muito falarem no Grande Eusébio da Silva Ferreira; aquele que, estarrecido pelo fascínio dos jogadores do Real Madrid disse: Mas eu queria ganhar!  


 PS: o recente jogo na luz contra a equipa do Ajax para a Liga dos Campeões, mostrou que a equipa está a desempenhar muito abaixo do seu potencial, não por falta de empenho dos jogadores, mas por falta de qualidade tática; desagregamento, défice de velocidade, de intensidade e de antecipação, falta de profundidade e de sincronismo dinâmico, etc. Os jogadores estão lá...o Treinador, não.

 
Foto: Peniche, Marginal Norte (vista a sul da Berlenga

Peniche, 10 de Novembro de 2018
António J. R. Barreto

Sem comentários:

Enviar um comentário