A estratégia de Filipe Vieira de construção de novas infraestruturas teve como contrapartida um endividamento "estratosférico" e a perda da capacidade competitiva do "core business" do clube; o futebol da sua equipa sénior A. Primeiro pela necessidade de canalizar recursos para as obras, depois, pelos elevados encargos do financiamento e esforço de amortização do capital.
Face a esta contingência, a Direção de Filipe Vieira, criou um fundo de investimento que permitiu ao clube - SAD - aceder, no mercado, a jogadores de elevado potencial e a mantê-los na equipa durante dois ou três anos, gerindo a venda ou recompra de direitos económicos de jogadores ao fundo, conforme as circunstâncias. Esta fórmula possibilitava a continuidade do núcleo da equipa, e, consequentemente, a ascensão da capacidade competitiva. Controladamente, ressarciam-se os investidores e o clube dispunha de almofada financeira para responder às necessidades de tesouraria.
Por decisão da FIFA, estes fundos foram proibidos a partir de 1 de Maio de 2015, com justificação na suspeita de que estariam a ser usados para lavagem de dinheiro. Um "murro no estômago" que ia levando o Benfica ao "tapete". Foi então que se deu o primeiro "milagre" do projeto da formação; vários dos talentos emergentes foram colocados no mercado europeu por generosas verbas - qual terá sido a intervenção de Jorge Mendes no caso? Bernardo Silva, João Cancelo, Ivan Cavaleiro, Hélder Costa e mais um ou dois que não recordo, proporcionaram ao clube (SAD) os ingressos financeiros necessários à resolução do fundo sem recurso ao endividamento bancário. "Just in Time"!
Pessoalmente, acredito que a motivação da FIFA tenha sido outra; a de proteger da concorrência os grandes clubes, garantindo-lhes acesso facilitado aos melhores jogadores, à competitividade desportiva e a maior fatia do bolo financeiro da indústria do futebol. Nunca me constou que, quer a FIFA ou mesmo a UEFA, tivessem qualquer tipo de escrúpulos quanto à origem do dinheiro que as financia. Os exemplos são bastos.
Avisadamente, dada a turbulência do sistema bancário, geralmente inamistoso para o Benfica e generoso para os seus rivais - os dirigentes encarnados, paulatinamente, trataram de dispersar o financiamento do clube (SAD), recorrendo a sucessivos empréstimos obrigacionistas, realizados sempre com grande sucesso em rotação de capital e com encargos sucessivamente decrescentes, que se mantém.
Na época transata, com o campeonato já a pender para Norte, a Direção do Benfica acordou a antecipação da receita de três anos - salvo o erro -, com que liquidou cerca de cem milhões de euros de passivo bancário, recorrendo ao serviço de factoring que custou cerca de 16 milhões de euros - precisamente o valor remanescente do passivo bancário.
A justificação foi a da redução do serviço anual da dívida antecipando a amortização do respetivo capital. Francamente, tenho a convicção que foi mais do interesse dos bancos, uma vez que, se o Benfica poupa cerca de 16 milhões de euros por ano em juros, priva-se da receita de 40 milhões durante três anos. Ora, tal implica, perda de capacidade competitiva. Como é que isso pode ser do interesse do Benfica? Mas é verdade que proporciona algum conforto aos adeptos. Porém, não deixa de ser estranho que, tendo obtido uma receita recorde de 240 milhões de euros na venda de jogadores, tenha sido necessário recorrer à antecipação de receita para efetuar a operação referida. Provavelmente os ganhos líquidos do clube terão sido bem menores e parte deles terão sido alocados à despesa corrente. Tal significa que o modelo económico de então não tem viabilidade para a consecução do Benfica campeão europeu. E é esta a fundamentação da indiscutibilidade da opção pela formação. E, já agora, a justificação da opção Rui Vitória; o suposto "mago" da formação. Sucede porém que, sem uma equipa competitiva, o projeto da formação é inviável. E tal requer competências que Rui Vitória não demonstra possuir.
O custo desportivo desta operação foi a perda de mais um campeonato. Tal terá sido também do interesse dos sindicato bancários - minha convicção - habitualmente hostis para com o Benfica, desde os tempos de Vale e Azevedo.
Ultrapassado mais este obstáculo, com o Benfica livre dos bancos e a formação a debitar fornadas de jogadores valiosos, surgem os casos dos "vouchers", dos "e-mails", e das "toupeiras", supostamente induzidos, em desespero de causa, pelos rivais, restaurando uma velha e iníqua aliança denunciada em tempos pelo senhor João Rocha. Os objetivos são claros; redução da capacidade competitiva da equipa pela indução de instabilidade geral no clube (SAD), manchar a sua reputação associando-o a corruptela e, mais grave, desacreditar o clube junto do mercado obrigacionista cerceando-lhe o financiamento.
Este é momento de, mais uma vez, recordar que a perda de Vale e Azevedo iniciou-se com o congelamento das contas bancárias do clube pelos mesmos bancos que têm derramado dinheiro sobre os rivais e que no ano passado parece terem exigido a amortização de capital ao Benfica, que o fez perder mais um campeonato.
Claro que os processos que correm na justiça contra pessoas com ligações ao Benfica - minha convicção - vão arrastar-se durante toda a época fazendo pairar um permanente suspense sobre o seu desfecho até que o campeonato em curso esteja, finalmente, decidido em conformidade com os desígnios da "radiosa" democracia de abril. Muitos são os indícios de promiscuidade na Justiça, com sucessivos casos de transparência duvidosa. Há adeptos de clubes, cuja militância não conhece fronteiras, independentemente, das funções e cargos que ocupem. São aqueles cujos clubes se constituíram em frente política das elites onde estão inseridos. Refiro-me ao Porto, sim.
Se nem os organismos desportivos, nem a tutela governamental, nem a Justiça, são imunes à natureza política de alguns clubes de futebol, é tempo de o Benfica usar, com inteligência, a força dos seus adeptos, lavando-os a votar em conformidade com os projetos para o desporto, dos candidatos políticos.
Filipe Vieira não o sabe fazer.
Foto: Falésias de Porto Novo
Peniche, 25 de Novembro de 2018
António J R. Barreto
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