O 25 de Abril Visto
da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José
António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em
vésperas as primeiras eleições presidenciais
Diga-se, em abono da verdade que o PCP rejeitou, desde o início, ao
recurso à via armada para combater o Estado Novo, tendo optado pela guerra de
subversão. Tal provocou a cisão do partido com a criação da FAP cujos membros defendiam
a intervenção armada. Quando, em 1963, MNI, PCP, MAR e ARS, constituíram a
Frente Patriótica de Libertação Nacional liderada por Humberto Delgado, que, por
divergência de métodos estratégico e orgânico, a abandonou, fundando a Frente Portuguesa de
Libertação Nacional com a qual pretendia desencadear uma intervenção armada em
Portugal (após a “vitória moral” nas eleições de 1958, Humberto Delgado,
considerava-se o líder incontestável da oposição, defendendo a luta armada
contra o regime de Salazar, causas da dissidência com os restantes membros da
FPLN). Quanto ao 25 de Novembro pensava eu que o PCP tinha sido o instigador da
insurreição. JAS acha que não; perante os danos políticos provocados pela
entropia que estava a induzir nas Forças Armadas o PCP “abandonou” taticamente
os seus correligionários, os quais, em desespero de causa, quais párias,
tentaram dar o salto em frente iniciando um golpe de Estado do qual saíram
derrotados. (AB)
MNI: Movimento Nacional
Independente (de Humberto Delgado)
MAR: Movimento de Acção
Revolucionária (de Lopes Cardoso e Ramos Costa)
ARS: Acção Republicana e
Socialista (de Mário Soares)
FAP, Frente de acção Popular (de
João Pulido Valente) atual UDP: União Democrática Popular (de Mário Durval e
João Pulido Valente)
…Na verdade, o 25 de Novembro
significa, no plano político, a reconstituição do bloco cujas primeiras linhas
de clivagem se dão a 28 de Setembro - daí que haja quem fale de um regresso ao
“espírito do 25 de Abril”, isto é, de um regresso ao antes do 28 de Setembro….(JAS)
Percebe-se a ideia e, em parte,
será verdade, no entanto, hoje, 43 anos depois, na Assembleia da República,
celebra-se o 25 de Abril e não o 25 de novembro “para não ferir suscetibilidades”,
o que quererá dizer que, de então para cá, de certo modo, terá havido um
retrocesso ao 28 de Setembro; os derrotados de Novembro regressaram em 2015, e
isso tem um significado nada lisonjeiro para o tipo de democracia que se
constituiu. (AB)
Praia de Buarcos: autor desconhecido
Peniche, 2 de Dezembro de 2018
António J. R Barreto
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