Rui Costa e o Benfica
De Florença para Milão. Rui
Costa, graças a uma transferência milionária - 35 milhões de euros -, ingressou
no célebre clube “rossonero” onde se
notabilizaram Baresi, Savicevitch, Boban
e Cª, e onde, em cinco anos, conquistou uma Taça de Itália, uma Liga dos
Campeões, uma Supertaça de Itália, um campeonato italiano e uma Supertaça UEFA,
bem como a admiração unânime.
O futebol italiano, um dos mais prestigiados na Europa e no mundo,
consagrou Rui Costa, para orgulho dos benfiquistas e adeptos portugueses em
geral, como um dos príncipes dos relvados da sua geração.
Foi em 2006, pela mão de Filipe Vieira, que o “Maestro” regressou ao
Benfica a custo zero, abdicando duma receita de cerca de 700 mil euros,
correspondente a mais um ano de contrato, ao rescindir, amigavelmente, com o
clube de Milão.
Vivia-se então, em Portugal, o rescaldo do sucesso, algo amargo, da
seleção nacional no euro 2004, no qual Rui Costa fez a última participação ao
serviço da Seleção Nacional.
No Benfica, fustigado desde o verão quente de 93 por uma espiral de
instabilidade, a construção do novo Estádio gerara uma nova esperança entre
adeptos. Anunciava-se o saneamento financeiro e administrativo do clube e um
projeto desportivo ambicioso, sustentado na credibilidade e no investimento em diversas
infraestruturas.
O regresso do “Maestro” reforçou, junto dos adeptos, a esperança num
futuro radioso para o clube. Dois anos antes, na época de 2003/2004, o Benfica
terminara um jejum de 11 anos do título de campeão nacional.
Após duas épocas nas fileiras do clube da Luz, em que o perfume do seu
futebol, mais uma vez, deliciou os adeptos, Rui Costa - eleito jogador do ano
em 2008 -, com pena de todos, cessou a sua carreira de futebolista ingressando
no mesmo ano na de Dirigente, que tem exercido até aos dias de hoje, com o pelouro
da Vice-Presidência para a área do futebol.
Na época seguinte à da saída de Rui Costa, o clube volta a conquistar, em
2009/2010, o título nacional, ficando em muitos a ideia da saída prematura do
“Maestro” e de que se perdera a oportunidade dum merecido final de carreira
apoteótico.
Nestes 11 anos, muitas foram as dúvidas que assolaram o universo
encarnado; o passado algo nebuloso de Filipe Vieira, onde se contam velhas
amizades e cumplicidades com os principais inimigos do Benfica, o recrutamento
para os quadros do clube de gente com fortes ligações aos rivais e a implacável
perseguição movida a Vale e Azevedo, ao menor desaire da equipa, punha em causa
a bondade do projeto em marcha.
A presença de Rui Costa, o “Maestro”, o
jogador-adepto, na estrutura dirigente da SAD, funcionou, e ainda funciona,
junto dos adeptos, como garante da fiabilidade do projeto de gestão do
clube-Sad. A sua presença, “dando a cara” pela Direção, nos momentos críticos, apazigua-os,
constituindo um voto de confiança no projeto de Filipe Vieira.
Para a grande maioria dos benfiquistas, que vêm em Rui Costa uma espécie
do provedor do adepto, é impensável considerar a sua conivência com agendas
ocultas, irregularidades, ou mesmo a submissão a orientações destituídas de
racionalidade económica e, ou, desportiva.
Cinco anos depois do adeus de Rui Costa aos relvados, após uma época
desastrosa seguida de debanda geral - na sequência do inesperado desastre da
época 2012/2013, o clube perdeu, nada mais, nada menos, que 95 mil sócios - chegou
o ansiado ciclo de vitórias, sob a batuta de Jorge jesus, Rui Vitória e Bruno
Lage.
Peniche, 17 de Novembro de 2019
António Barreto
(Camille Pissarro, La cosecha, 1883)
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