As políticas
D. Trump definiu-se como conservador, nacionalista, defensor da
família tradicional, dos valores cristãos, do liberalismo económico e do
mercantilismo.
Imperialismo
Anti-globalista
defende o mercantilismo, o comércio internacional com regulação. É interessante
verificar como muitos dos que censuram o imperialismo americano passaram a
acusar D. Trump de, com o seu
nacionalismo, deixar os seus aliados externos sem referências abrindo espaço
geoestratégico ao avanço de potências não democráticas; a russa e a chinesa. É
certo que a abertura económica é fonte de progresso e tem contribuído
decisivamente para a erradicação da pobreza no mundo. Mas também é verdade que
o desequilíbrio da razão de troca agrava a desigualdade entre países pobres e
ricos, perpetuando a dependência daqueles relativamente a estes. Desse mal
ainda padece Portugal por, no século XVIII ter feito um acordo de comércio com o
Reino Unido - o Tratado de Methuen assinado
em de 27 de Dezembro de 1703 também conhecido por tratado de panos e vinhos -,
mediante o qual Portugal prometeu comprar os tecidos ao Reino Unido (RU) - o
maior produtor mundial de tecidos da época – e, este, os vinhos a Portugal. David Ricardo, o lendário economista da
época, demonstrou então como ambas as
partes ganhavam com o negócio; simplesmente a razão de troca era desfavorável a
Portugal - de 1 para 3 -, enquanto a do RU era de 1 para 5! O resultado
traduziu-se no empobrecimento relativo de Portugal e no atraso da sua
industrialização, de que ainda hoje padecemos. Também não deve perder-se de vista
que alguns historiadores consideram a política económica nacionalista de Roosevelt uma das causas da 2ª GM, por
impossibilitar à Alemanha os recursos de que necessitava para pagar as
astronómicas indemnizações de guerra que lhe foram impostas no Tratado de Versaillhes em 28 de Junho de 1919. Tudo
ponderado, considerando ainda o agravamento da dívida externa - atualmente
cerca de 100 % do PIB - e do défice orçamental - atualmente, cerca de 5 % do
PIB - dos EUA em razão da crise de 2008 e da política de desagravamento fiscal de
D. Trump, não é destituído de senso que a sua administração procure
inclinar a balança externa a seu favor atuando nas pautas alfandegárias e
cambiais relativamente aos principais parceiros, em especial a China. Trata-se,
afinal e sobretudo, de travar a desindustrialização do país e consequente
desemprego que se tem verificado nas últimas décadas devido à deslocalização
empresarial. A sabedoria reside na capacidade de encontrar o equilíbrio de
interesses. A tudo isto acresce a perceção geral de que a globalização é um
veículo político e económico para a instauração dum governo mundial gizado e
controlado pela ONU graças à maioria socialista dos seus membros controlados
pela China. Um propósito cujos contornos ganham nitidez a partir das repetidas
e explícitas declarações do socialista António Guterres concordantes com a conhecida
aspiração imperialista da 2ª Internacional e do Império do Meio.
Aquecimento Global
Crítico do Acordo de
Paris, D. Trump deu prioridade à
energia de origem fóssil em detrimento da renovável, propondo-se atingir os
objetivos de redução de emissões de CO2 por outras vias. Sustenta-se
no parecer científico, historicamente comprovado, segundo o qual as alterações
climáticas são naturais e que o impacto do aumento da concentração de CO2
na temperatura ambiente, sendo marginal, é, sobretudo, consequência do aumento
de temperatura dos oceanos e não causa do mesmo. Este tema engloba quatro
questões; a energética, a económica, a política e a geoestratégica. Com a
implementação da tecnologia do fracionamento - desenvolvida nos EUA - na
prospeção e exploração do petróleo e gás - natural e de xisto -, os EUA, que
são os maiores consumidores mundiais de petróleo, passaram, também, a ser os maiores
produtores mundiais, com baixos custos de produção unitários. De importadores
de produtos petrolíferos passaram a exportadores dos mesmos. Esta alteração
retirou à OPEP o poder de controlo das economias ocidentais através do controlo
do principal fator de produção; a energia. Deve-se à evolução tecnológica dos
EUA - ocorrida sob a presidência de Obama
- os baixos preços do petróleo nos mercados internacionais - uma grande ajuda
para países energeticamente dependentes como Portugal. A vertente geoestratégica
está ainda bem patente relativamente à União Europeia (UE) uma vez que esta
aposta, determinadamente, nas energias renováveis, sujeitando-se à perda de
competitividade da sua economia devido ao agravamento dos custos unitários de
produção. Finalmente a questão política reside no facto de a causa ambiental,
propulsionada pela ONU, ter sido “apropriada” pelos partidos de matriz
socialista com o propósito de identificar, isolar e combater os regimes capitalistas.
Um dever de convocação planetária cuja solução só parece alcançável com o fim
do capitalismo! Como se as ideias maniqueístas não estivessem testadas pela
História.
Imigração
Contrário à política
de fronteiras abertas D. Trump proibiu
a imigração de países com histórico de envolvimento em atividades terroristas -
com exceções - e impôs o controlo rigoroso do fluxo migratório pelo sul, de
matriz eminentemente mexicana. Os EUA enfrentam o drama demográfico
característico dos países desenvolvidos tipificado na fase quatro da Teoria da
Transição Demográfica (TTD). Com uma população de cerca de 330 milhões de
habitantes - 12, 7 % das quais nascidas no estrangeiro, 11,3 % de origem
mexicana, 12,3 % de afro-americanos e uma taxa de reposição de 1,82 -, a sua estrutura
demográfica encontra-se num processo de envelhecimento e reconfiguração étnica.
O México, com cerca de 123 milhões de habitantes - o 3º mais populoso das
américas, com uma taxa de reposição de 2,1, encontrando-se na 3ª fase da TTD -
contribui, anualmente, com cerca de 1,2 milhões de emigrantes maioritariamente ilegais.
Nesta cadência, em menos de 20 anos a população de origem mexicana ascenderá a
cerca de 50 milhões, quase 15 % do total da população americana atual - e cerca
de 40 % da população mexicana atual total. Esta reconfiguração social conduzirá
ao inevitável agravamento conflitos sociais e políticos no país. Contudo, com a
taxa de reposição da população no limiar da neutralidade e em queda no México,
o fluxo migratório mexicano tenderá a diminuir. Note-se porém que os Estados
Unidos têm uma dívida de gratidão para com o México que, por ocasião das duas
guerras mundiais lhes forneceu a mão-de-obra de que a sua economia carecia. Por
outro lado vigora entre os dois países um acordo de livre comércio entre as
cidades fronteiriças. Finalmente, há, no México, uma comunidade de cerca de um
milhão de cidadãos americanos. Com Presidente conservador ou democrata, com
mais ou menos discrição, a política de emigração dos USA será tendencialmente
de contenção acompanhada de incentivos à natalidade. É no entanto provável que
os democratas apostem no incremento migratório como forma de alterar a seu
favor o impasse eleitoral que se tem verificado no país nos últimos anos. A
demonstrá-lo está o diferendo entre democratas e republicanos em vésperas do
ato eleitoral, em que estes defenderam a exclusão dos imigrantes ilegais dos
cadernos eleitorais e aqueles o contrário. Por outro lado D. Trump defende a prioridade de acesso à carta verde aos
imigrantes mais qualificados em vez do modelo em vigor que privilegia a reunião
familiar. Está em causa não só o impacto económico do contributo imigratório mas,
sobretudo, o impacto político. Por outro lado, também a administração Obama repatriou de imigrantes ilegais,
incluindo dezenas de milhar de crianças - para cujo efeito a sua administração chegou
a pedir aprovação de financiamento ao Congresso - e se desenvolveram políticas
de combate aos traficantes envolvidos no fenómeno da imigração.
Peniche, 8 de Dezembro de 2020
António Barreto
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