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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

USA - Eleições 2020 (IV)

 As políticas

   D. Trump definiu-se como conservador, nacionalista, defensor da família tradicional, dos valores cristãos, do liberalismo económico e do mercantilismo.

Imperialismo

   Anti-globalista defende o mercantilismo, o comércio internacional com regulação. É interessante verificar como muitos dos que censuram o imperialismo americano passaram a acusar D. Trump de, com o seu nacionalismo, deixar os seus aliados externos sem referências abrindo espaço geoestratégico ao avanço de potências não democráticas; a russa e a chinesa. É certo que a abertura económica é fonte de progresso e tem contribuído decisivamente para a erradicação da pobreza no mundo. Mas também é verdade que o desequilíbrio da razão de troca agrava a desigualdade entre países pobres e ricos, perpetuando a dependência daqueles relativamente a estes. Desse mal ainda padece Portugal por, no século XVIII ter feito um acordo de comércio com o Reino Unido - o Tratado de Methuen assinado em de 27 de Dezembro de 1703 também conhecido por tratado de panos e vinhos -, mediante o qual Portugal prometeu comprar os tecidos ao Reino Unido (RU) - o maior produtor mundial de tecidos da época – e, este, os vinhos a Portugal. David Ricardo, o lendário economista da época, demonstrou então como ambas as partes ganhavam com o negócio; simplesmente a razão de troca era desfavorável a Portugal - de 1 para 3 -, enquanto a do RU era de 1 para 5! O resultado traduziu-se no empobrecimento relativo de Portugal e no atraso da sua industrialização, de que ainda hoje padecemos. Também não deve perder-se de vista que alguns historiadores consideram a política económica nacionalista de Roosevelt uma das causas da 2ª GM, por impossibilitar à Alemanha os recursos de que necessitava para pagar as astronómicas indemnizações de guerra que lhe foram impostas no Tratado de Versaillhes em 28 de Junho de 1919. Tudo ponderado, considerando ainda o agravamento da dívida externa - atualmente cerca de 100 % do PIB - e do défice orçamental - atualmente, cerca de 5 % do PIB - dos EUA em razão da crise de 2008 e da política de desagravamento fiscal de D. Trump, não é destituído de senso que a sua administração procure inclinar a balança externa a seu favor atuando nas pautas alfandegárias e cambiais relativamente aos principais parceiros, em especial a China. Trata-se, afinal e sobretudo, de travar a desindustrialização do país e consequente desemprego que se tem verificado nas últimas décadas devido à deslocalização empresarial. A sabedoria reside na capacidade de encontrar o equilíbrio de interesses. A tudo isto acresce a perceção geral de que a globalização é um veículo político e económico para a instauração dum governo mundial gizado e controlado pela ONU graças à maioria socialista dos seus membros controlados pela China. Um propósito cujos contornos ganham nitidez a partir das repetidas e explícitas declarações do socialista António Guterres concordantes com a conhecida aspiração imperialista da 2ª Internacional e do Império do Meio.

Aquecimento Global

   Crítico do Acordo de Paris, D. Trump deu prioridade à energia de origem fóssil em detrimento da renovável, propondo-se atingir os objetivos de redução de emissões de CO2 por outras vias. Sustenta-se no parecer científico, historicamente comprovado, segundo o qual as alterações climáticas são naturais e que o impacto do aumento da concentração de CO2 na temperatura ambiente, sendo marginal, é, sobretudo, consequência do aumento de temperatura dos oceanos e não causa do mesmo. Este tema engloba quatro questões; a energética, a económica, a política e a geoestratégica. Com a implementação da tecnologia do fracionamento - desenvolvida nos EUA - na prospeção e exploração do petróleo e gás - natural e de xisto -, os EUA, que são os maiores consumidores mundiais de petróleo, passaram, também, a ser os maiores produtores mundiais, com baixos custos de produção unitários. De importadores de produtos petrolíferos passaram a exportadores dos mesmos. Esta alteração retirou à OPEP o poder de controlo das economias ocidentais através do controlo do principal fator de produção; a energia. Deve-se à evolução tecnológica dos EUA - ocorrida sob a presidência de Obama - os baixos preços do petróleo nos mercados internacionais - uma grande ajuda para países energeticamente dependentes como Portugal. A vertente geoestratégica está ainda bem patente relativamente à União Europeia (UE) uma vez que esta aposta, determinadamente, nas energias renováveis, sujeitando-se à perda de competitividade da sua economia devido ao agravamento dos custos unitários de produção. Finalmente a questão política reside no facto de a causa ambiental, propulsionada pela ONU, ter sido “apropriada” pelos partidos de matriz socialista com o propósito de identificar, isolar e combater os regimes capitalistas. Um dever de convocação planetária cuja solução só parece alcançável com o fim do capitalismo! Como se as ideias maniqueístas não estivessem testadas pela História.

Imigração

   Contrário à política de fronteiras abertas D. Trump proibiu a imigração de países com histórico de envolvimento em atividades terroristas - com exceções - e impôs o controlo rigoroso do fluxo migratório pelo sul, de matriz eminentemente mexicana. Os EUA enfrentam o drama demográfico característico dos países desenvolvidos tipificado na fase quatro da Teoria da Transição Demográfica (TTD). Com uma população de cerca de 330 milhões de habitantes - 12, 7 % das quais nascidas no estrangeiro, 11,3 % de origem mexicana, 12,3 % de afro-americanos e uma taxa de reposição de 1,82 -, a sua estrutura demográfica encontra-se num processo de envelhecimento e reconfiguração étnica. O México, com cerca de 123 milhões de habitantes - o 3º mais populoso das américas, com uma taxa de reposição de 2,1, encontrando-se na 3ª fase da TTD - contribui, anualmente, com cerca de 1,2 milhões de emigrantes maioritariamente ilegais. Nesta cadência, em menos de 20 anos a população de origem mexicana ascenderá a cerca de 50 milhões, quase 15 % do total da população americana atual - e cerca de 40 % da população mexicana atual total. Esta reconfiguração social conduzirá ao inevitável agravamento conflitos sociais e políticos no país. Contudo, com a taxa de reposição da população no limiar da neutralidade e em queda no México, o fluxo migratório mexicano tenderá a diminuir. Note-se porém que os Estados Unidos têm uma dívida de gratidão para com o México que, por ocasião das duas guerras mundiais lhes forneceu a mão-de-obra de que a sua economia carecia. Por outro lado vigora entre os dois países um acordo de livre comércio entre as cidades fronteiriças. Finalmente, há, no México, uma comunidade de cerca de um milhão de cidadãos americanos. Com Presidente conservador ou democrata, com mais ou menos discrição, a política de emigração dos USA será tendencialmente de contenção acompanhada de incentivos à natalidade. É no entanto provável que os democratas apostem no incremento migratório como forma de alterar a seu favor o impasse eleitoral que se tem verificado no país nos últimos anos. A demonstrá-lo está o diferendo entre democratas e republicanos em vésperas do ato eleitoral, em que estes defenderam a exclusão dos imigrantes ilegais dos cadernos eleitorais e aqueles o contrário. Por outro lado D. Trump defende a prioridade de acesso à carta verde aos imigrantes mais qualificados em vez do modelo em vigor que privilegia a reunião familiar. Está em causa não só o impacto económico do contributo imigratório mas, sobretudo, o impacto político. Por outro lado, também a administração Obama repatriou de imigrantes ilegais, incluindo dezenas de milhar de crianças - para cujo efeito a sua administração chegou a pedir aprovação de financiamento ao Congresso - e se desenvolveram políticas de combate aos traficantes envolvidos no fenómeno da imigração.



Peniche, 8 de Dezembro de 2020

António Barreto

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