A Operação Mar Verde foi uma ação militar secreta desencadeada em 20 de Novembro de 1970 em Conakry pelas Forças Armadas Portuguesas, planeada e liderada pelo Comandante Alpoim Calvão, com conhecimento e consentimento do General Spínola e de Marcelo Caetano. O seu objetivo inicial consistia na libertação dos prisioneiros portugueses - 26 - e no afundamento das lanchas do PAIGC e da Guiné Conakry. À data da operação, os objetivos eram mais vastos: capturar e levar para Bissau Amílcar Cabral, capturar o Presidente da Guiné Conakry, Sékou Touré e entregá-lo aos opositores do regime, com vista ao derrube deste, e destruir os dois aviões MIG que a URSS tinha fornecido ao PAIGC e ameaçavam a superioridade aérea das Forças Armadas Portugesas.
Os
objetivos iniciais foram alcançados; soltaram-se e trouxeram-se para Bissau os
26 soldados prisioneiros, entre os quais, o heróico e patriota sargento piloto aviador António Lobato - prisioneiro durante sete anos, recusou-se a trair Portugal a
troco da sua libertação - e afundaram-se ou incendiaram-se todas as lanchas do
inimigo. A captura de Amílcar Cabral e a destruição dos MIG falharam devido a
informação deficiente da secreta portuguesa. Removida
toda a resistência, nem Cabral estava no Quartel-General do PAIGC nem os MIG
estavam no aeroporto. Quanto a Sékou-Touré, alertado na véspera, fugiu apavorado para uma habitação próxima. Quando os
operacionais portugueses entraram no Palácio Presidencial depois de removerem a
respetiva guarda, encontraram-no vazio.
Marcelino da Mata participou nesta operação e teve ação de destaque no
assalto ao quartel da Guarda Republicana, transformado em prisão política e
rebatizado com o nome de Camp Boiro.
“Da LDG “Montante” larga às,
01h35’ o GA “Óscar”, em quatro botes sintex, conduzidos por pessoal de bordo, que abicam num local da margem próximo da Gendarmerie, o quartel da Guarda
Republicana recentemente transformado em prisão política e rebatizado como Camp Boiro. Este grupo era formado por
40 homens, integrando comandos africanos e membros do Front, comandados pelos Alferes Ferreira e Tomás Camará. Dele faz ainda parte um comando africano de
créditos largamente firmados, o furriel Marcelino da Mata. Levam como
missão principal neutralizar o quartel da Guarda Republicana.
Ao chegarem ao seu objetivo vêm a sentinela fechar o portão, alertada
por populares de que qualquer coisa de anormal se passava. Marcelino da Mata,
sem hesitar um momento, mergulha de cabeça pela janela da casa da guarda e
elimina com o sabre o sargento que lá se encontra. Vai abrir o portão para
permitir a entrada da restante força, mas nesse instante, o alferes Ferreira é
morto pela guarda com uma rajada de metralhadora. Investem de seguida pelas
casernas e abatem todos os que lá se encontram.
À medida que o alerta soa na cidade novos reforços começam a chegar à Porta de Armas do quartel, mas são eliminados à entrada. Dentro das instalações os portugueses deparam-se com cerca de 600 presos políticos do regime de Sékou Touré, vivendo, ou apenas sobrevivendo, amontoados em celas exíguas, enxovias sem quaisquer condições, muitos deles maltratados, outros cegos. Todos são libertados. Depois da missão cumprida, o grupo apodera-se de um jeep para transportar o corpo do alferes Ferreira e a saída do quartel faz-se por cima de uma barreira de cadáveres.
Resta-lhes ainda tempo para cumprir a ordem
inesperada do comandante Calvão para calar a rádio Conakry II, que ainda não
fora silenciada, muito embora tivesse sido enviada para terra a equipa “Hotel” exclusivamente destinada a essa missão. A equipa “Óscar” obedece, e dirigindo-se ao edifício onde se supunha encontrar a rádio, destrói-o.
No entanto, a emissão continua no ar, pois a transmitir estava, afinal, a
rádio Conakry I. Mais uma informação
que as forças portuguesas desconheciam.”1
Esta operação, considerada um dos maiores feitos militares das Forças
Armadas Portuguesas, está repleta de peripécias e constitui, ainda hoje, objeto
de estudo militar.
O infame silêncio dos órgãos de soberania relativamente ao falecimento
de Marcelino da Mata e aos insultos de que tem sido alvo, mostra o profundo
ressentimento que, 46 anos depois, continua a flagelar a sociedade portuguesa. Mal vai uma Nação quando os respetivos titulares dos órgãos de soberania não honram a sua História.
(1Alpoim Galvão, Honra
de Dever, de Rui Hortelão, Luís Sanches Baêna e Abel Melo e Sousa)
Peniche, 13 de Fevereiro de 2021
António Barreto
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