A Greve de Gouveia
Em 1902, em Gouveia, rebentou a primeira grande greve. Os trabalhadores paralisaram,
exigindo a antiga tabela, o que se traduzia em aumentos salariais da ordem dos
75 % para as mulheres, 44% para os menores e de 70% a 33% para os homens. O
salário das mulheres, 80 réis, era inferior ao dos menores, 90 réis, e menos de
metade do dos homens, 200 a 300 réis.
Depois do fracasso do lockout e do recurso aos “amarelos”, perante o
vigor da comunidade, os patrões, assustados, pediram a intervenção da tropa.
Por seu lado, os operários defendiam-se tornando pública parte da carta que
tinham enviado aos patrões: “a nudez das nossas mulheres e filhas é que nos
leva a suplicar-lhes que nos haja por bem atender, porque nós não queremos
barulhos nem revoluções, mas sim vimos pedir que sejamos atendidos à boa paz,
pois só a nossa mesquinha vida e a pobreza das nossas famílias nos obriga a
este pedido.” Na sequência de inevitáveis confrontos entre grevistas e
“amarelos”, a que se juntou o povo quando o sino tocou a rebate, a tropa
disparou sobre a multidão matando dois trabalhadores.
A indignação espalhou-se por todo o país, pediu-se uma sindicância ao
ministro do Reino, acorreram 2000 pessoas ao funeral e Gouveia entrou em pé de
guerra. Alguns tecelões acabaram por se dedicar às vindimas no Alto Douro.
Hintze Ribeiro, o presidente do Conselho, confessou-se impotente para
interceder pela causa dos operários. Inesperadamente, os patrões acabaram por
aceder as reivindicações, despedindo, logo depois, 22 operários.
Fonte: "Os Pobres" de Maria Filomena Mónica
Peniche, 28 de Março de 2021
António Barreto
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