Peniche, 19 de Dezembro de 2018
Por, António José Rodrigues Barreto:
Sócio nº 34689
Exmo. Sr. Presidente do Benfica, Sr. Luís Filipe Vieira
Tendo em conta que por várias vezes lhe reiterei o meu apoio à frente
dos destinos do Benfica, impele-me o dever de consciência a comunicar-lhe que
não me é possível mantê-lo.
No universo Benfica sou um grão de areia e, nele, a nada mais aspiro, mas
tal como diz o poeta: “la areña es un
puñadito pero hay montañas de arena” (Atahualpa
Yupanki - El Payador Perseguido).
A minha perceção mudou na época transata perante uma sucessão
incompreensível de desastrosas decisões; tantas e tão más que, até prova em
contrário mantenho a convicção de que “o Benfica” não quis ganhar o campeonato.
Vejamos:
Vendeu-se tudo o que tinha mercado dizimando a equipa; desguarnecendo-a
na baliza, na defesa, no meio campo e no ataque. Fomos enxovalhados na Liga dos
Campeões deixando uma nódoa que perdurará por muitos anos entre os adeptos do
futebol, e em especial, no coração dos do Benfica.
Depois do desastre europeu, perdemos o campeonato - “por uma unha negra”;
teria bastado por exemplo, trazer o Odisseias em Janeiro ou não ter deixado
sair Júlio César - que sabe tudo de técnica de baliza -, ou ter recuperado o Mitroglou - o homem dos golos,
insatisfeito e triste no Marselha -, ou o Gaitan
em Janeiro - o “abre-latas” deslocado no Atlético. Enfim, de uma estrutura
competente esperavam-se melhores decisões. Os empréstimos - Douglas e Gabigol - foram um fracasso. As baixas de Krovinovick e Jonas, situando-se no espetro das contingências previsíveis,
não foram compensadas. Um tremendo fracasso de gestão desportiva.
O anúncio da amortização da dívida bancária prenunciava o desastre, e o
do novo ciclo de obras confirmou-o. Num primeiro tempo pensei: - caramba! O
Benfica está imparável; vamos dar o salto qualitativo que faltava. A pouco-e-pouco
porém, à medida que iam sendo conhecidos os detalhes, foi-se desvanecendo o
entusiasmo. Tudo não passou, afinal, de uma estratégia de compensação da
frustração dos adeptos, tentando induzir-lhes a ideia de que “perdemos por uma
boa causa”, “o futuro será glorioso”. Algo que já ouvíramos durante cerca de
onze anos. Vejamos agora mais de perto alguns eventos recorrendo apenas ao que
é do conhecimento público, único recurso de que disponho:
A amortização da dívida bancária foi do interesse dos bancos não do
Benfica - os mesmos que têm financiado os rivais através de empréstimos,
doações e reestruturações. O clube-SAD poupa cerca de 16 milhões de euros por
ano em juros, em contrapartida, durante o período do contrato, o clube-SAD abdicou
de 40 milhões de euros anuais. Um saldo negativo de 24 milhões de euros por ano;
a diferença provável entre sucesso e fracasso.
Por outro lado, o recurso à antecipação de receita para liquidação de
passivo bancário quando, salvo o erro, na época correspondente se faturou cerca
de 240 milhões de euros em jogadores, foi uma enorme deceção. Se a mais-valia
desta receita foi alocada à despesa corrente, significa que o clube-SAD está
mal, muito mal. E, nesse caso, o futuro do Benfica é preocupante. Um bom método
de gestão aconselharia a que a dívida fosse paga sem pôr em causa a
competitividade da equipa principal; por exemplo, alocando ao serviço da dívida
50% da mais-valia da transação de jogadores e o restante à atividade
operacional; 25% para investimento e o restante para despesa corrente.
Relativamente às anunciadas obras, apesar da exuberância do projeto, que
analisarei em detalhe mais à frente, há que enquadrá-lo no objetivo primordial,
a saber; contribuir para a melhoria da competitividade desportiva da equipa
principal de futebol, pedra de toque de todo o universo do clube rumo ao mais
alto patamar. Quer o investimento, quer os custos operacionais associados,
poderão comprometer por muitos anos a desejada ascensão desportiva da equipa.
Algo que deverá ser bem fundamentado e explicado aos associados, acionistas e
investidores. Como é que um colégio, mais 16 campos de treino - salvo o erro -,
um hotel, um lar e um centro de alto rendimento, contribuem para formar uma
equipa de futebol sénior de nível mundial? Essa é a questão primordial.
O Presidente enfrentou a época em curso sob a égide da credibilidade
institucional, estabilidade e lealdade ao treinador. Responsabilizando-se pelo
desastroso desfecho da época transata, decorrente da sangria de efetivos,
acreditou que, dotando a equipa dos recursos humanos adequados, esta recuperaria
o sucesso desportivo rumo à “reconquista”. Infelizmente enganou-se; a época
está a falhar e, se nada for feito entretanto, espera-nos, de novo, rotundo
fracasso. A equipa técnica não consegue implementar o seu modelo apesar dos
bons jogadores de que dispõe. Estes, desorientados com a falta de liderança,
jogam como sabem, com empenho mas desarticuladamente, incapazes de provocar
roturas nas defensivas contrárias - a não ser, em combinações ocasionais de 2,
3 jogadores e graças ao talento de alguns deles. O desânimo apossou-se da
equipa. Os adeptos afastam-se deixando o Estádio vazio e a BTV sem audiência.
Isto não é o Benfica, o grande Benfica com que os adeptos sonham.
Perante os persistentes ataques de que o clube-SAD tem sido alvo, a
necessidade de união entre benfiquistas é óbvia, motivo pelo qual reconsiderei,
porém, a recente inversão duma decisão coletiva relacionada com a mudança da
equipa técnica em sede de Conselho de Administração justificada por uma alegada
e solitária revelação, foi a gota de água; fiquei a perceber que, no Benfica,
os membros do Conselho de Administração não passam de adereços, sujeitando-se,
obedientemente, à ditadura presidencial. Cabe aqui dizer que o Presidente não
foi eleito para tomar decisões; foi eleito com uma equipa, para, co-responsavelmente,
tomar boas decisões. Manter a atual equipa técnica em funções é, quanto a mim, uma
péssima decisão. Veja o meu caso; toco umas peças de música clássica na
guitarra mas não sou capaz de tocar Paganini.
Relativamente ao seu projeto para o futuro do Benfica-SAD; considero
correta a aposta na formação, porém não tenha ilusões; sem um Treinador
carismático e sem uma equipa capaz de ganhar, “perfumando” os relvados, o
projeto ruirá sem apelo nem agravo. Ninguém da formação interna - ou fora dela
- quererá jogar num benficazinho, conformado, resignado às derrotas, quando, no
processo de formação, aprenderam as virtudes do inconformismo, da ousadia e da
vitória.
Do “novo ciclo de betão”, completando o que disse atrás no caso da
formação, o aumento do número de campos de treino e o melhoramento das condições
de apoio aos formandos - residencial e colégio -, aumentará a base de
recrutamento e, consequentemente, a emergência de novos e melhores talentos. É
verdade. Mas também é verdade que, a partir de certo ponto, por mais campos de
treino de que se disponha, o retorno desportivo será marginal face do
investimento efetuado. De todo o modo, uma rede de “olheiros” bem montada é
vital para o sucesso do projeto. Investir recursos infrutiferamente é um mau
ato de gestão. Por outro lado, assumir publicamente o recurso da formação como
condição exclusiva da competitividade europeia da equipa, como o Presidente fez
recentemente, é uma imprudência que desmobiliza todos os outros contributos,
afinal, imprescindíveis. Imagino o estado de espírito dos atuais jogadores
externos perante tal propósito.
No caso do Centro de Alto Rendimento, julgo que se destinará ao desenvolvimento
da secção de atletismo, com vista a consolidar o domínio interno e a disputar
os grandes torneios internacionais. Muito bem. O Benfica e o país carecem de
melhor representatividade nestas disciplinas. Mas não se iluda; se a
competitividade da equipa principal de futebol for afetada, ninguém, entre os
benfiquistas, quererá saber do atletismo.
Quanto ao hotel; se é uma forma de viabilizar economicamente um edifício
histórico do clube, cuja alienação nunca seria compreendida pelos sócios, desde
que não ponha o essencial em causa, é uma boa decisão.
Fazendo agora uma breve retrospetiva à sua
gestão e começando pelo fim:
O tetra campeonato foi
conquistado quando o Benfica se tornou independente em termos de direitos
desportivos. Essa independência enchia os benfiquistas de orgulho, um orgulho
que se refletia na motivação da equipa e na qualidade de jogo. Os bons resultados
brotaram desta força. O recente contrato com a NOS, anunciado com exuberância,
foi o princípio do fim, uma “machadada” no orgulho dos benfiquistas, que, estou
certo, prefeririam aumentar a sua contribuição, a sujeitar-se ao garrote
portista.
As consequências não se fizeram esperar; com uma conjuntura governativa
favorável e a paciente reconstituição do grupo que detém a Sport-TV - com os
tradicionais aliados, Amorim, Sonae, angolanos e um “ponta de lança” do foro
político-desportivo – alegadamente, reativaram-se os processos de
condicionamento das equipas concorrentes através do controlo do respetivo
financiamento.
O resultado está à vista; sucessivos casos de assistências para golo à
equipa opositora, árbitros a aplicar as leis do jogo de forma arbitrária e a
comunicação social cantando loas aos “heróis” da democracia. Enquanto isso, o
Benfica e seus Dirigentes são enxovalhados na praça pública, quase diariamente.
Cabe aqui assinalar a débil reação da estrutura encarnada revelando total
incapacidade de terçar armas no espaço público, onde se joga grande parte do
sucesso ou insucesso desportivo. A saída de João Gabriel deixou um grande vazio
na área da comunicação.
No campo dos direitos desportivos, o aparecimento de um novo player, a Eleven Sports, consolida a minha convicção de que o negócio com a
NOS foi um erro; “entregou-se o ouro ao bandido”! Uns meses mais e a receita
poderia ter sido bem superior e, sobretudo, não se teria facilitado a
restauração do poder do rival. Agora temos o deserto pela frente.
Olhando mais para trás, sendo certo que, como diz o bom povo, “o que não
tem remédio remediado está”, à luz dos recentes eventos, merecem-me breves
considerações alguns outros casos.
A tomada de decisões numa instituição do tipo do Benfica, sujeita a
abundante escrutínio público, onde, muitas vezes, a emotividade se sobrepõe à
racionalidade, é problemática. Num universo tão vasto e heterogéneo de
funcionários, atletas, jogadores e adeptos, a unanimidade é quase impossível de
obter exceto quando se ganha. Daí a
importância da colegialidade da tomada de decisão, sem prejuízo do papel
mobilizador, moderador e decisório do líder. Por outro lado as plataformas de
comunicação disponíveis devem abrir-se aos adeptos para que possam, livremente,
expressar as suas opiniões e fazer o seu escrutínio. Este processo, se
autêntico, induz novas ideias e ajuda a “calibrar” os assuntos em discussão. O
oposto do que atualmente se pratica no universo encarnado.
No lote dos temas fracionários situa-se o caso do novo Estádio. Recordo o
saudoso Jorge de Brito ter referido, a certa altura do seu mandato, que
preferiria um Estádio mais pequeno e mais confortável. Lembro o contexto em que
se avançou para a construção dos novos Estádios - o da realização do europeu de
2004. O Benfica parecia irremediavelmente afastado do processo. Temia-se,
creio, o desânimo dos adeptos encarnados. Hoje parece-me claro que todo o
processo do euro 2004 foi conduzido para dar resposta ao projeto Roquete.
Temos um Estádio moderno, confortável, bonito, talvez mais económico,
mas, mais pequeno, de série, sem memória, sem história, sem o “terceiro anel”.
Temos também uma dívida que retirou - e retira - competitividade à equipa. O
Estádio está pago - anunciou o Presidente. Não sei se “se pagou a si próprio”
nos doze anos previstos. Não sei se alguma vez pagará todos os custos não financeiros
decorrentes.
Os factos ajudam-nos a perceber melhor o outro lado das consequências
desta opção; a Direção anterior tinha pronto um projeto de recuperação e
modernização do velho Estádio, da autoria do mais conceituado arquiteto da
época - Tomás Taveira - que custava quatro milhões de contos - cerca de vinte
milhões de euros. Teria sido possível investir de imediato na competitividade
da equipa. Em contrapartida a opção adotada gerou uma dívida que implicou uma
longa travessia no deserto que ameaça agora prolongar-se após o breve
interregno do “tetra”.
Mário Dias, nas suas esporádicas, escassas e sóbrias entrevistas, levantou
a ponta do véu ao dizer que os bancos financiavam a construção do novo Estádio
mas não a restauração e modernização do velho. O velho Estádio dos afetos,
construído com o apoio dos benfiquistas, em dinheiro, materiais e mão-de-obra.
O Estádio da exigência implacável do terceiro anel de que tanto se tem falado -
exigência essa que, recentemente, se converteu em conformismo e resignação -, um
Estádio único, testemunho dos maiores feitos históricos do clube, admirado e
respeitado pelos grandes atletas que o conheceram. O velho Estádio era o Estádio
dos adeptos. Tinha alma. O novo é o Estádio dos banqueiros, e estes, não consta
que a tenham. Com a demolição do velho Estádio da Luz ruiu uma parte do velho e
glorioso Benfica.
A união dos adeptos é necessária, o entusiasmo exigente impulsiona
jogadores, treinador e atemoriza adversários, contudo, a união constrói-se, não
se pede. Constrói-se com competência, transparência, respeito, diálogo e
humildade. O Presidente, nos últimos tempos, tem-se empenhado em fazer o
oposto.
Para os adeptos do Benfica, há uma espécie de “pecado original”
relacionado com as alegadas “velhas amizades” do Presidente com confessos inimigos.
Vejamos:
Correm rumores, de, num tempo não muito distante, entre os atuais Presidentes
do Benfica e do Porto ter havido um relacionamento de grande proximidade. Sei
que as pessoas mudam e, como diz o bom Povo, “por um burro dar um coice não se
lhe corta a pata” (salvo seja), mas não se é amigo de Pinto da Costa
impunemente. Quem sabe se o Benfica não estará, hoje, a pagar o preço dessa
velha amizade.
Outro caso é o da “eterna” gratidão do Benfica a Joaquim Oliveira, o
grande estratega do Porto - seu clube dileto -, junto da Comunicação Social,
dos Governos - do socialista em particular -, dos bancos - consta que o Porto
reestruturou a dívida do seu Estádio alargando a amortização do empréstimo por
50 anos -, do aparelho judicial - veja-se a origem do Presidente executivo da Sport
TV -, de todas as SAD - Joaquim Oliveira tem participações em todas elas,
incluindo, paradoxalmente, na do Benfica - e junto de investidores externos de
referência - sobretudo angolanos.
Este poder foi construído a partir da exclusividade da aquisição, pela
Olivedesportos, dos direitos desportivos dos clubes nacionais - apesar de,
alegadamente, irregular -, graças a cumplicidades bem conhecidas da opinião
pública. Ao reverter a resolução unilateral do contrato dos direitos do Benfica
com a Olivedesportos decidida pela Direção de Vale e Azevedo, Manuel Vilarinho
viabilizou a estratégia de domínio portista, que se concretizou, e mantém, após
o breve interregno do tetra. Como se vê é Joaquim Oliveira que deve estar grato
ao Benfica e não o contrário.
Hoje, com os direitos na mão e um governo amigo, o Porto faz o que quer
no campeonato - tal como nos velhos tempos do Apito Dourado. Mais grave, estas
anormalidades passaram a ser aceites pela sociedade e a generalidade da
comunicação social, como uma espécie de nova ordem; para estes o Benfica
representa o velho regime e o Porto é o símbolo do novo. Apesar da falsidade,
esta narrativa impôs-se e os políticos aceitam-na “deixando passar o andor” ou
ajudando mesmo a transportá-lo. Por tudo isto não fica nada bem ao Presidente
do Benfica afirmar aos seus adeptos o dever de gratidão a quem tanto mal tem
feito ao seu clube. O futuro do Benfica passa por inverter este discurso.
Outro caso polémico que deixa os adeptos “de pé atrás” é o dos alegados
“submarinos” no clube. Gente que pertence aos quadros do Benfica mas tem
vínculo clubístico diferente. A pertinência do argumento da prevalência da
competência sobre o da simpatia clubística está condicionada ao efetivo
escrutínio daquela e à despistagem dos antecedentes, nomeadamente do
envolvimento em ações hostis ao clube. Não é razoável integrar nele gente que
lhe tenha causado, voluntariamente, danos graves. Ao primeiro revés brota o fraccionismo.
Dá a ideia que o Presidente não se sente confortável com os benfiquistas. Não
sei. Até percebo que há certos benfiquistas que se acham com um injustificado
estatuto especial. No entanto, primeiro os benfiquistas.
Neste mesmo contexto cabe referir o caso do motorista do Presidente, a
contas com a justiça por alegado envolvimento num caso de tráfico de droga. Segundo
veio a público, os alegados traficantes teriam acesso às instalações do Estádio
e, no trabalho operacional, era utilizada uma viatura do Benfica. Se é certo
que nenhum envolvimento foi imputado pelas autoridades ao Presidente este,
perante os adeptos, não pode eximir-se à responsabilidade da escolha de um
colaborador inidóneo.
O mesmo se aplica ao assessor para a área jurídica. Apesar das bagatelas
conhecidas e ainda que o Presidente não tenha tido conhecimento dos casos
cabe-lhe a responsabilidade da escolha e da falta de acompanhamento eficaz.
Imprudência também se imputa ao caso dos vouchers, que tantos incómodos
têm causado. Abriu-se o flanco ao adversário, desnecessariamente. Durante anos,
a comunicação social afeta aos rivais não cessou de massacrar o Benfica,
provocando-lhe danos de imagem assinaláveis. Era previsível e escusado.
Noutro contexto, alguma aparente promiscuidade que se tem verificado
entre a atividade profissional particular do Presidente e do Benfica, contribui
para alimentar a reserva dos adeptos. Os casos que vieram a público
relacionados com a fiscalidade e com operações financeiras envolvendo as mesmas
entidades bancárias, deveriam ter sido evitados. Total separação de interesses
é um requisito da transparência.
Outro caso é o das frequentes referências a Vale e Azevedo. É tempo de
acabar com isso. Vale e Azevedo foi acusado, julgado e condenado (alegadamente,
por um juiz portista e dragão de ouro). Cumpriu pena de prisão correspondente
ao cúmulo jurídico de 17,5 anos, sem beneficiar de liberdade condicional. Pagou
pelos seus erros. É um homem livre, mas continua a ser perseguido como um
animal selvagem. Chega. Convidem-no a defender-se quando quiserem acusá-lo.
Apesar de tudo foi Presidente do Benfica, e há adeptos, como eu, que não gostam
de o ver maltratar.
Outro caso ainda é o da saída de Jorge Jesus do Benfica, traumatizante
para os respetivos adeptos, os quais, ainda hoje não percebem o que efetivamente
se passou e se perguntam se não poderia ter sido evitada toda a turbulência
deplorável a que assistimos. Um eventual regresso poderá fomentar a divisão dos
adeptos. Estes foram desrespeitados, sem razão, por Jorge Jesus. Muitos
continuam magoados e não o aceitarão sem uma retratação pública. De duas coisas
estou certo; se vier, no mesmo dia a equipa passará a jogar o dobro ou o triplo
do que joga atualmente, e não faltam bons treinadores por aí, dentro e fora do
país (Marco Silva, Miguel Cardoso, Abel Ferreira, Vítor Oliveira, Paulo
Fonseca, etc.).
Para terminar assinalo o caso da alteração dos estatutos no âmbito dos
requisitos para a candidatura à presidência; a imposição dos 25 anos de
associado ao candidato é um exagero que vai sair caro. O tempo de associado não
é garantia de competência, nem é certo que seja suficiente para afastar
arrivistas mal-intencionados. A competência e a lealdade não escolhem idade.
Esta matéria deveria ser revista quanto antes.
O Sr. Presidente Luís Filipe Vieira fez um trabalho notável no clube, e
é, sem dúvida, um dos melhores desde a sua fundação, mas no contexto aqui
referido, sinto que o seu projeto está exaurido. Teimosamente preso a um
Treinador cuja equipa apresenta um futebol insuficiente - com jogadores
tristonhos, descrentes -, indiferente aos avisos e recomendações - agora
confirmadamente pertinentes -, e aos enxovalhos públicos a que a equipa e
adeptos têm sido sujeitos, hostilizando os adeptos dissidentes, abdicando do
espaço público - com uma BTV sensaborona e laudatória -, o Presidente impõe uma
gestão autocrática, messiânica - “antes de mim o deserto, depois de mim o
dilúvio” -, que é contrária à identidade do grande Benfica.
Considero que chegou a hora de um novo ciclo para o meu clube; um ciclo
que corrija alguns equívocos aqui apontados e tenha como prioridade, o
desendividamento, a otimização do trabalho da formação, a reestruturação da
superestrutura desportiva do clube-SAD - privilegiando a capacidade prospetiva
e o fortalecimento da competitividade da equipa principal rumo ao mais alto
patamar europeu e mundial, com a integração inteligente de elementos da
formação sem exclusão dos de outras origens.
Last but not the least, perante
o descalabro a que assistimos no futebol, à semelhança do que fazem os
Dirigentes do rival do norte, é tempo de os Dirigentes do Benfica perceberem a
natureza eminentemente política do futebol em Portugal e “convidarem”, ainda
que em abstrato, Governo e Partidos a definirem-se publicamente. Algo que, a
meu ver, o Presidente tem descurado.
Peniche, 18 de Dezembro de 2018
Com os meus respeitosos
cumprimentos,
António José Rodrigues Barreto
VIVA O BENFICA!
Tudo isto agravou a tarefa do Treinador
que, penosamente, lá conseguiu restaurar algum equilíbrio numa equipa desencantada,
que declinou, sem apelo, na sequência da saída de Jonas. As extraordinárias
circunstâncias motivacionais dos anos precedentes tinham desaparecido; nem o
repetido anúncio da “inevitabilidade” do penta campeonato foi estímulo
suficiente. Houve um claro relaxamento da estrutura e, mais grave, as carências
táticas da equipa, no posicionamento e na dinâmica coletiva persistiram até
final da época e seguinte. Não há equipas ganhadoras com treinadores medrosos;
o paradigma da época foi o do jogo na luz com o Porto.
Não dei crédito aos rumores que corriam, e ainda correm, sobre alguns
aspetos da sua vida anterior ao seu consulado no Benfica; tive-os por conta da
doentia e persistente guerra de descrédito movida ao nosso clube pelos rivais,
com a cumplicidade de alguns setores políticos.
Acreditei no seu projeto para o Benfica e
defendi-o desde a primeira hora junto de alguns dos seus detratores, quer nas
redes sociais, de onde saíram alguns dos anteriores e atuais candidatos
opositores, quer junto da Direção do Correio da Manhã, e posso prova-lo.
Reconheço que tem feito um trabalho fantástico à frente do clube e da
SAD; nos domínios das infraestruturas, da formação, do ecletismo, do
desenvolvimento económico, da expansão dos associados, da expansão e
consolidação das casas, da criação da BTV e do Museu, do financiamento do clube
e SAD, etc., inovando e dando o exemplo aos dirigentes de outros clubes. Considero-o
um dos melhores presidentes de sempre do Benfica e do futebol nacional.
Posto isto, à luz da realidade atual, impõe-se uma retrospetiva crítica
ainda que sumária e discutível, com o propósito de descortinar os caminhos do
futuro.
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