Insultos
ao Benfica
Os insultos ao Benfica proferidos por
jogadores do Futebol Clube do Porto (FCP) em plena comemoração da vitória no recente
campeonato resultam da consciência do seu imerecimento e do complexo de
inferioridade que os atormenta relativamente ao clube da Luz.
De facto, após cerca de 40 anos de
supremacia futebolística seria de esperar a atitude cordial própria dos
vencedores, de que são exemplo o próprio Benfica e todos os grandes clubes por
essa Europa fora.
Porém, esse tipo de grandeza provém não da
quantidade de vitórias alcançadas mas da forma como foram obtidas. O traço
comum dos grandes clubes reside no confronto leal, no respeito pelo adversário,
antes, durante e depois do embate desportivo.
Se há algo que caracteriza o FCP moderno é
precisamente o oposto; uma cultura de hostilidade, de agressividade, de intimidação,
numa atitude de afirmação regional, não apenas aos adversários, mas também dos
agentes da tutela desportiva e até dos governos.
A supremacia desportiva do FCP no atual
regime foi alcançada através do controlo que adquiriu nas estruturas do futebol,
que lhe permitiu beneficiar, explícita e implicitamente, de decisões dos
respetivos órgãos, nos jogos, e nas áreas normativa e jurisdicional.
Paradoxalmente, quando, no 25 de Novembro, o
país conquistou a liberdade política, sob a capa da democratização
estabeleceu-se uma ditadura inamovível no desporto em geral e no futebol em
especial, decorrente da maior densidade demográfica no norte do país, e, no
caso do futebol, dominada pela Associação de Futebol do Porto.
No plano formal, tudo se tem feito para
diluir esse poder, sempre sem sucesso.
Constituiu-se a Liga Portuguesa de Futebol
Profissional (LPFP) dispersando o direito de voto por todos os intervenientes
desportivos, mas a verdade é que esta só funciona quando os seus dirigentes são
do agrado do FCP.
Instituiu-se o vídeo-árbitro (VAR) com o
propósito de apoiar as decisões dos árbitros, e o que temos assistido é ao seu
uso em benefício direto ou implícito do FCP.
Nos espaços desportivos e nos meios de
comunicação social, instala-se uma espécie de guerra civil sempre que o FCP não
ganha, numa militância transversal, acérrima e incondicional dos seus adeptos,
vinculados ou não ao clube, sendo correntes os rumores de ameaças a árbitros e
seus familiares por meliantes inimputáveis que gravitam na órbita do clube.
Deixando de lado, o episódio do Apito
Dourado, que expôs publicamente à saciedade, os métodos espúrios que levaram à
condenação do clube nas instâncias desportivas, basta-nos um olhar para os dois
últimos campeonatos.
No penúltimo deles, em 34 jogos, o FCP teve
a seu favor 16 penaltis assinalados enquanto o Benfica teve dois depois de
decidido o vencedor! Catorze penaltis de diferença podem significar algo entre
14 e 42 pontos!
No último verificou-se algo idêntico, 12
penaltis para o FCP e 5 para o Benfica; 7 de diferença que poderão representar
entre 7 e 21 pontos! Acresce o tempo de jogo em superioridade numérica que,
segundo consta, foi de cerca de 8 horas para o FCP!
Como é possível que tal não tenha provocado a
indignação geral e suscitado a investigação do Ministério Público?
Como é possível que a PJ não tenha convocado
de imediato o VAR do último jogo Benfica-Porto, para que este se explicasse d
razão pela qual o fora-de-jogo de 2 cm parece ter sido tirado no momento
errado?
Como é possível que as autoridades não
investiguem a LPFP e a FPF pedindo esclarecimentos para estas e outras
ocorrências do género?
Não sei, mas o que me parece é que há o consentimento
tácito institucional e dos agentes políticos dominantes para o “sucesso” do
FCP!
As razões, quanto a mim, prendem-se, por um
lado, com a necessidade de garantir a paz social dos adeptos do clube, e, por
outro lado, com a instrumentalização política deste com vista à criação de uma
identidade regional em seu torno e à predisposição para a regionalização,
objetivo comum ao partido donde emana o atual Governo.
Finalmente julgo que se estabeleceu um
consenso entre a comunidade política e algumas elites no sentido de favorecer
uma mudança de paradigma no desporto, como sinal da efetiva mudança do regime autocrático
para o democrático.
Para estes, o Benfica é um símbolo do
salazarismo e do centralismo que, por isso mesmo, tem de ser impedido de
ganhar. Não importa se tal é ou não verdade, o que importa é que pareça ser
verdade.
Afinal, o Benfica é a maior Associação
desportiva do país, com adeptos e admiradores nas “sete partidas do mundo” e
isso parece suscitar receios em certas comunidades que, paradoxalmente, se apresentam
como defensoras indefetíveis da liberdade.
Não me parece que tenha sido por acaso que
dois Presidentes do Benfica, foram parar aos calabouços - um logo após a saída
do cargo, outro em funções -, ambos ainda a braços com a justiça, um deles,
Vale e Azevedo, que mais parece ter sido condenado a prisão perpétua tal é a
sanha persecutória que se percebe em torno do caso.
Apesar de tudo isto, a grande maioria dos benfiquistas
parece considerar que não se deve misturar a política com futebol, indiferente
à missão política do seu, de momento, maior rival.
Peniche, 22 de Maio de
2022
António
Barreto
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