Um Pouco de História (3)
“O segundo período
protrai-se até ao fim do V século romano (490: 263 a.C.), iniciando-se ainda
antes de encerrado o antecedente, com a primeira guerra importante contra os Équos
e Volscos em 323 (430 a.C.): abrange pouco mais de século e meio. Durante ele a
democracia militar regida por uma aristocracia - tal é o carácter da sociedade
romana nesta época – exercendo já em todo o Lácio uma hegemonia que tende a
transformar-se em unificação, apresenta o espetáculo de um corpo social
homogéneo, equilibrado, forte, e por tudo isso expansivo. A sociedade latina,
tendo a sociedade romana por capital, obedece às leis naturais da propagação e
expansão, leis comuns a todas as sociedades de todos os tempos, e tão óbvias
que escusado é insistirmos em demonstrá-las. A população cresce, e, numa
república de pequenos lavradores, esse crescimento ocasiona guerras só
evitáveis pela emigração, fenómeno todavia mais geral em épocas mais
adiantadas.
Expandindo-se, a República Romana submete ao seu domínio a Itália
inteira, e a invasão dos epirotas de Pirro precipita o movimento de anexação -
facto tão frequente nos tempos antigos e modernos, que a intervenção eficaz das
invasões estrangeiras no sentido de determinarem as unificações de povos
pequenos e rivais se pode considerar uma lei de dinamismo internacional.
Mas o traço singular e eminente da história romana, neste período, é a
invenção de um tipo novo de agregação social, tipo sem precedentes nas
sociedades indo-europeias. O tipo federal e o tipo imperial - isto é, as ligas
de cidades autónomas e o regime pessoal e militar congregando povos sem outro
laço de união além da obediência comum a um soberano e de um imposto universal –
tinham sido até aí os moldes em que se vazara a força expansiva das sociedades.
…
Ora no seio de um mundo que todo ele girava em torno de duas ideias de
agregação social, a federal e a imperial, Roma teve esta fortuna incomparável
de conceber espontaneamente, e como dedução óbvia da suas instituições
abstratas primitivas uma ideia nova – a de Nação; ideia que gerou um sentimento
também até aí desconhecido - o Patriotismo; ideia e sentimento abstratos, sem
relação fixa com o solo nem com o sangue. Romano era todo o habitante da cidade
legal, fosse qual fosse a sua estirpe: o patriciado dos quirites tornara-se já obsoleto. Roma era, não só a cidade do Tibre
como todas as do Lácio a que o foro
romano se transmitira. A Pátria e o patriotismo tinham assim como base, não uma
terra ou um sangue comum, mas sim uma comunidade de direitos e aspirações. A
Terra deixou de significar a Pátria, desde que a abstração inventava mais de
uma Roma; o sangue deixou de a encarnar também, desde que na cidade generalizada, todos, até o estrangeiro,
eram cidadãos.
…
A invenção de um semelhante estado mental é uma obra tão prodigiosa que,
a vinte e cinco séculos de distância, todos nós, europeus – os iberos e os
celtas latinizados, os teutões e mais os eslavos – vivemos socialmente dos
sentimentos elaborados em Roma e somos sem dúvida romanos.
…
Criada assim, no campo das ideias e dos sentimentos, mas não ainda no
das instituições, a Pátria romana, e abrangendo no seu seio a Itália peninsular
ítalo-grega, o progresso da expansão não pára. A área da nação novíssima abrange
inteira uma região, e desde que se estende a toda essa região que é marítima, e
desde que se estende a toda essa região que é marítima, o mar chama-a, pondo-a
em contacto e portanto em conflito com a Inglaterra de então - Cartago, ao
tempo a senhora de todo o mediterrâneo.”
História da República Romana
Oliveira Martins
Peniche, 16 de Junho de 2022
António
Barreto
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