A República Romana
-Alea Jacta est!
Desfeito o Triunvirato - Marco Crasso suicidara-se
em Carra e tinham-se extinto os laços familiares entre César e Pompeu -, a
guerra civil era inevitável. César, o jovem estroina que tinha uma ideia para a
República, distinguira-se brilhantemente em Espanha e na Gália e ameaçava o
poder de Pompeu, senhor de Roma. Num turbilhão de sentimentos César, desde o seu Quartel-General em Ravena, decidiu atravessar o pequeno rio Rubicão com as suas
nove legiões, e, ao fazê-lo, sabia que não haveria retrocesso; os dados estavam
lançados: "Alea Jacta est!"
A entrada em Arímino
surpreendeu os habitantes; os soldados iam desarmados e não se preocupavam com o saque. César, magnânimo, sorridente, proibira-o, incorporou os soldados prisioneiros
e deixou os oficiais inimigos escolherem o seu destino. Enquanto Pompeu tinha
declarara que quem não fosse por ele seria contra ele, César fez saber que seria por ele quem
não fosse contra ele. Desta forma sagaz tranquilizou os inimigos mostrando-se disponível para acolher a todos.
César tinha por ele a Itália superior, os transpadanos - a quem atribuíra o
foro romano -, e a plebe da capital. Por Pompeu, o homem sério, o homem da ordem,
rei na metrópole que beneficiava dos recursos da República, estavam todo o centro
e sul de Itália, bem como a classe média e senadores, receosos do regresso aos
tempos de Mário, Sila e Cina; dispunha de dez legiões, duas das quais, de
transpadanos, cedidas anteriormente por César, que ameaçavam a homogeneidade das
tropas.
Optou César por marchar sobre Lucéria, onde acampavam as tropas de
Pompeu, em vez de ocupar Roma deserta. Abertas negociações de paz propôs ao Senado o desarmamento
de Itália e o regresso de Pompeu ao governo da Espanha. Pela sua parte
entregaria a Gália à ordem do Senado, licenciaria o exército e candidatar-se-ia
ao consulado. César preferia fazer a revolução a partir do Senado
do que através da guerra. Rejeitou o Senado exigindo que saísse de
Itália, gorando-se assim a última possibilidade de paz.
Perante o avanço dos decididos quarenta mil homens de César pela estrada Popólia, varrendo tudo pelo
caminho, o timorato Pompeu abandonou Itália com os seus vinte e cinco mil efetivos com deswtino à Macedónia, onde pretendia reorganizar as suas forças e prosseguir a guerra; a fina flor de Roma estava com ele; aristocracia, alta burguesia, doutrinários
- Catão e Favónio - toda a sociedade, incluindo o exímio orador Cícero, apesar de contrafeito.
A República continuava a partir da Grécia. Apesar das marchas forçadas das suas tropas, César não conseguira impedir a fuga de Pompeu e não dispunha de frota.
Dois meses bastaram para César dominar toda a Itália sem derramar uma
gota de sangue. Porem, não lhe faltando tropas, necessitava de frota para abastecer a península de bens alimentares e outros. Os fartos tributos das
províncias e a demagogia política dos senadores e consules, conduziram à abolição de impostos, à
distribuição de bens nacionais e ao abandono das terras. A dependência alimentar
do exterior era total, bem como o financiamento público. Pompeu contava vergar
César pela fome, cortando-lhe, com a sua frota, os abastecimentos por mar
Pairava no espírito de todos outra orgia de sangue como a de Cina. A devassa
dos capitães cesaristas fazia temer o pior; o saque de Roma pelos
gauleses. César porém revelou um comportamento oposto, conquistando a simpatia
da maioria pacífica da população; atendia todas as reclamações, era justo e bom,
não confiscava bens e restituira aos respetivos donos os que encontrara no
acampamento de Brundísio. A despesa pública corrente era financiada com empréstimos dos seus amigos. Os senadores que pensavam emigrar acabaram por desistir e
aderir ao seu projeto.
Tendo entrado em Roma em 48 a.C., falhando a investidura pelo Senado -
sem a eloquência de Cícero não conseguira convencer a maioria a fazê-lo -, César investiu-se
a si próprio - gesto repetido por Napoleão Bonaparte em 1804. Entregou a
prefeitura a Marco Emílio Lépido, distribuiu os governos das províncias e
preparou-se para continuar a guerra.
Sem dinheiro, perante a omissão do Senado, dirigiu-se com um grupo de
soldados ao Templo de Saturno - onde se guardava o tesouro público - e arrombou
a porta à machadada. Perante a oposição do Tribuno Metelo, fuzilando-o com o
olhar disse-lhe: - E repara que me é mais fácil matar-te que ameaçar-te.
Se dúvidas houvessem foram dissipadas naquele momento; Roma tinha novo dono.
(Continua)
Créditos: História da República
Romana - Oliveira Martins
De Corfínio a Brundísio - trajeto das forças de Júlio César na II Guerra Civil Romana
Peniche, 17 de Setembro de 2022
António
Barreto
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