A República Romana
O sétimo e último período da República Romana
é o do cesarismo, dura cerca de 30 anos (de 59 a. C a 29 a. C) e faz a
transição para a Monarquia Imperial. As sucessivas revoluções sociais dos períodos
precedentes - de Cina e de Sila - deixaram a sociedade romana ávida de
segurança e estabilidade, pronta para acolher quem mostrasse capacidade de
impor a lei e a ordem. César foi esse homem.
César, o jovem, culto, elegante, alto, de olhos negros, calvo, efeminado,
“o homem de todas as mulheres e marido de todos os homens”, o devasso endividado
até “à ponta dos cabelos”, tinha uma ideia para a República em dissolução. Mais
que o exercício do poder pessoal César quis unir todo o império e refundar a
República. Ao atribuir o foro romano a todos os transpadanos - súbditos residentes
além do rio pó - e com a conquista das Gálias, César iniciou um processo que culminou
no ano de 212 a. C. quando Caracala atribuiu o foro romano a todos os súbditos
do império.
Enriqueceu em Espanha, onde foi cônsul, graças aos tributos e confiscos,
desendividando-se e iniciando a habitual estratégia de corrupção de senadores e
figuras públicas, seduzindo o povo com festas opíparas, pagando dívidas alheias
e emprestando dinheiro sem juros. Com o financiamento da República, César foi
construindo as legiões de que necessitava para tomar o poder em Roma, e, com
elas, adquiriu os meios para reconfigurar o senado com aliados e correligionários.
Membro do primeiro Triunvirato de que faziam parte o sogro, Pompeu, e Marco
Crasso, coube-lhe o governo das Gálias, tendo ficado Pompeu com o da Itália e Marco
Crasso com o do Oriente.
Contra as espectativas gerais, em especial de Pompeu que o considerava
incapaz de qualquer rasgo de bravura, o jovem estroina ganhava batalhas sobre
batalhas. Geralmente em inferioridade numérica conseguiu inverter a sorte da
batalha sempre que a derrota parecia eminente, com ideias geniais. Venceu
gauleses, bretões, belgas e germanos, pacificando toda a Gália em tempo
recorde. Ciente da importância da propaganda, de tudo fazia relatórios
romanceados que enviava para Roma, onde eram profusamente difundidos,
construindo perante os romanos a ideia de herói da República.
Após a morte do triúnviro Marco
Crasso, que se suicidou, na sequência da derrota de Carra - Mesopotâmia - onde
a sua legião foi chacinada pelos partos, liderados por Surena, e seu filho
Públio Crasso morto, a rutura entre César e Pompeu era inevitável.
Desfeitos os elos familiares por morte de Júlia, filha de César e mulher
de Pompeu, e do filho destes, esfriaram as relações entre ambos. Fazendo as
legiões de Itália jurar-lhe fidelidade, Pompeu afirmou-se como ditador, cônsul único
e absoluto senhor do Senado. Faltou-lhe porém a coragem de demitir César do
comando da Gália. Tal revelar-se-lhe ia fatal.
O partido conservador, reunindo nobres, cavaleiros, catonianos (fiéis de
Catão) e oligarcas, reuniu-se em torno de Pompeu apesar de não confiar nele. César
tinha do seu lado os democratas radicais, os transpadanos, que fizera cidadãos
de Roma, e as suas legiões; sobre as ruinas da inconvertível república iria
erguer o principado democrático e socialista.
César,
congeminando neutralizar Pompeu com honrarias logo que assumisse o Consulado, decidiu-se
pela guerra ao perceber que os catonianos tinham um plano para o afastar; acusá-lo-iam
no interregno de funções, tornando-o inelegível ao consulado - em exercício de
funções os magistrados eram inimputáveis. Tão exímio na intriga política como
genial na guerra, César conduziu o Senado a tomar decisões que levaram Pompeu a
colocar-se fora da lei e sair de Roma para se colocar à frente do seu exército,
numa implícita declaração de guerra.
O futuro tirano sabia que tinha de agir com rapidez; Pompeu tinha meios
para reunir um exército triplo do seu. Com um ultimato, César dividiu o Senado em
catonianos, fieis a Pompeu, e cesaristas, fieis a César. Ravena, situada na
Cisalpina, província sob sua jurisdição, foi o seu quartel-general. Aqui se
juntaram os tribunos populares que lhe eram fieis e as suas legiões, prontas a
marchar sobre Roma. Paradoxalmente, iria destruir a constituição…cumprindo a
lei! É o jesuitismo na política.
“ O cesarismo que perverte a noção clara das coisas, que torce a
justiça, que corrompe a moral, que esmaga com a Razão-de-Estado as
constituições e as leis, começa por ser a vitória da intriga sobre a franqueza
para depois se tornar na vitória da força sobre o direito – vitória todavia inevitável
quando as sociedades chegam ao ponto a que chegara a romana em que moral,
justiça, direito, constituição, leis, são para o comum da gente ficções apenas
e só realidades para a minoria mínima dos retrógrados visionários à maneira de
Catão.” (Oliveira Martins)
Reunindo em Ravena a sua 13ª legião, César dirigiu-se aos soldados com
tal retórica que os convenceu, não só a aderir entusiasticamente à sua causa,
mas a fazê-lo gratuitamente e até a financiar a campanha, num modelo em que os Centuriões
mais ricos pagavam os encargos dos outros. Confiantes no farto saque sobre a cidade,
não suspeitavam sequer que tal seria interdito pelo Procônsul bem como
violentar as populações das cidades tomadas.
Num turbilhão de sentimentos e dúvidas, César decidiu-se a passar o
pequeno rio Rubicão com as suas tropas exclamando: “- Alea Jacta est” (os dados
estão lançados).
(Continua)
Cneu Pompeu Magno
Peniche, 11 de Setembro de 2011
António
Barreto
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