Quem traiu o 25 de
Abril?
Mostra-nos a História que, em geral,
os vencedores contam-na à sua maneira, invariavelmente enaltecendo os seus
feitos contra as forças do mal, inevitavelmente defendidas pelos vencidos,
ocultando as suas próprias fraquezas e os eventuais méritos daqueles.
A independência
incondicional das Províncias e Estados ultramarinos portugueses, era uma
solução possível entre outras, dependente da escolha das populações.
Ora vejamos o que pensavam alguns dos protagonistas do pós-25
de abril:
Almeida Santos;
Ministro da Coordenação Interterritorial, 21/5/1974, República:
“Lourenço Marques, 21, O Ministro Português da Coordenação
Interterritorial, António de Almeida Santos, que a independência será uma das
opções de um referendo as realizar em Moçambique dentro de um ano.
Disse que o
referendo que vai ser organizado em cada um dos territórios ultramarinos dentro
de um ano seria “mais ou menos baseado no princípio de um homem, um voto”.
Depois de informar
que os menores de 18 anos não votariam, acentuou que não se trataria de um
referendo adequado caso fosse seguido o sistema anterior de apenas votarem as
pessoas que sabem ler e escrever.
A respeito da luta que há dez anos grassa no território contra os
guerrilheiros da Frelimo, o dr Almeida Santos afirmou estar “absolutamente
fora de questão”, admitir a possibilidade de não se chegar a acordo com os
dirigentes da Frelimo.”
(O sublinhado é meu)
Mário Soares, Ministro
dos Negócios Estrangeiros, O Século, 23/5/1974:
“Mário Sares sublinhou que Portugal pretende a descolonização
(e não o neocolonialismo) e que procura contactos bilaterais com os movimentos
africanos, a fim de acelerar o processo para a autodeterminação.”
Palma Carlos,
Primeiro-Ministro, em entrevista a La
Vanguardia, Diário de Notícias, 18/5/1974:
“Barcelona, 17. “A criação de um estado federal é uma solução
óptima a considerar, mas tal fórmula depende das circunstâncias. (…)
É um problema muito
delicado, em que o Gabinete começou já a trabalhar e a seu tempo poderemos dar
a resposta.”
General Costa Gomes, em
Antuérpia, 7/6/1974, Diário de Notícias:
“Antuérpia, 6 – “Estou convencido de que Angola decidirá
continuar portuguesa. Em Moçambique a situação é mais complicada, mas o espírito
português será decisivo”, declarou o general Costa Gomes em entrevista a To The Point International, revista de
expressão inglesa publicada em Antuérpia.”
Estas declarações ajudam-nos
a perceber melhor as causas da demissão de Palma Carlos Primeiro Ministro do I
Governo Provisório e do descalabro das unidades militares enviadas para os
territórios ultramarinos nesse período; Portugal ficou sem poder negocial, por
sua própria iniciativa.
Os ideais do primitivo MFA foram defraudados pela dinâmica partidária de esquerda que prevalecia na época, com a população eufórica e embevecida com o fim do “fascismo” e o advento da “liberdade” e “prosperidade”.
Peniche, 22 de Outubro de 2022
António Barreto
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