De llerda a Farsália
Tomada Itália, César decidiu ir no
encalço de Pompeu que fizera Quartel-General na Grécia, mas tinha forças
consideráveis em Espanha e em África.
César
decidiu começar pela Espanha; concentrou no Ródano nove legiões e cinco mil
cavalos e seguiu para Massília - atual Marselha -, que se tinha declarado por
Pompeu, pondo-lhe cerco com parte das forças, avançando com as restantes para
os Pirinéus tomando posição de combate em llerda
- atual Lérida.
As forças de Pompeu, consideravelmente
superiores, eram constituídas por cinco legiões, quarenta mil infantes
celtiberos, cinco mil cavaleiros
lusitanos e as duas legiões de Varo.
César ganhou em llerda graças ao seu engenho;
encurraladas pelos cursos de água devido ao mau tempo, que destruíra a única
ponte de retirada, fragilizadas pela fome e doenças, ante a inépcia de Pompeu,
César improvisou uma nova ponte e, carregando sobre o acampamento inimigo
impôs-lhe a retirada para a direita do Ebro.
Com as cidades da margem esquerda dominadas,
César perseguiu o inimigo e aceitou a capitulação; libertou os oficiais e
mandou os soldados, desarmados, para suas casas, os espanhóis, e para a
fronteira da Gália, os italianos. As cidades pompeianas da Espanha Ulterior
entregaram-se-lhe, tal como uma das legiões de Varo e, finalmente, Massília.
Tomada Espanha seguiram-se a Sardenha e a Sicília
donde Itália se abastecia de cereais. O plano de Pompeu de submeter César pela
fome, fracassara.
Cúrio o General cesarista que tomara a
Sicília, seguiu para África desembarcando duas legiões e quinhentos cavalos em
Adrumeto para dar combate a Varo, General de Pompeu que escapara de Espanha com
a segunda legião e acampara em Utica.
Depois de bater Varo e pôr cerco a Utica, as
forças cesaristas foram derrotadas por Juba, que acorrera em socorro daquele. Cúrio,
o janota de Roma, braço direito de César, que se revelara talentoso general
morreria na batalha.
Perdidas Espanha, Sardenha e Sicília, Pompeu
mantinha o domínio em África e da costa oriental de Itália; no mar Adriático
derrotara a esquadra cesarista de Públio Dolabela e na Ilíria forçara a
capitulação de Caio António, fazendo prisioneiras quinze coortes (uma coorte
era a décima parte de uma legião).
Tomadas as providências urgentes em Roma, de
que fora nomeado ditador pelo Senado, César reuniu as suas forças em Brundísio,
decidido a dar batalha a Pompeu na Macedónia. Com os navios que, entretanto,
mandara construir, atravessou o mar Adriático com seis legiões e seiscentos
cavalos com destino a Dirráquio, que pretendia atacar logo que chegassem as
restantes legiões de Brundísio.
Porém, O filho de Pompeu - Pompeu o Jovem -,
que comandava a frota deste, destroçou os navios cesaristas ao regressarem a Brundísio
ficando César isolado de Itália com metade das suas legiões, com as quais
pretendia atacar Dirráquio.
Porém, Pompeu com forças duplas das de
César, chegou a tempo de defender Dirráquio, deixando aquele em situação
crítica, mas resolveu acampar nas proximidades aguardando reforços da Síria,
considerando certa a vitória.
Vieram sim, quatro legiões e oitocentos
cavalos reforçar as tropas de César, graças ao arrojo de Marco António que as
trouxe de Brundísio apesar do mau tempo e das forças pompeianas.
Recusando-se a perseguir as tropas
cesaristas em retirada convencido que se tratava de uma emboscada, Pompeu resolveu
acampar, aguardando reforços e o enfraquecimento do inimigo pela fome.
Contudo, os reforços continuaram a chegar
mas para César, vindos de Itália, Quinto Cornifício juntou-se-lhe pela rota da
Ilíria tal como a divisão de Calvino.
As forças cesaristas cercaram o acampamento inimigo
cortando-lhe o abastecimento de água, ao desviar o curso dos ribeiros, deixando
os pompeianos desesperados. Estes investiram no litoral destruindo todos os
navios de César que lá se encontravam, deixando-o ainda mais isolado.
Desesperado, este, levou tudo e todos a ferro e fogo, resolvendo o problema dos
abastecimentos.
Pompeu, não percebendo o que estava a
suceder, enviava mensagens triunfais para a sua esposa Cornélia. Os seus
correligionários, a fina-flor de Roma, sentiam-se já livres de César embora não
confiassem em Pompeu; não lhe perdoavam ter sido aliado de César e por ter
restaurado o poder dos Tribunos - em 69 a. C. Bruto odiava-o por lhe ter
assassinado o pai.
A euforia era geral. Compravam-se casas em
Roma com vista ao próximo ato eleitoral. Mas Favónio, que ficara a defender
Dirráquio exclamava: “ Meus amigos, não será ainda este ano que comeremos os
figos de Túsculo”.
E estava certo. Era Agosto do ano 47 a. C.
Os dois exércitos perfilaram-se com o ribeiro Enipeu de permeio. Quarenta e
sete mil homens e sete mil cavalos de Pompeu, contra vinte e dois mil e um
batalhão de cavalaria germânica de César; a fome, as doenças e as marchas
forçadas tinham-lhe reduzido a metade as suas oito legiões. A batalha de
Farsália, decisiva para os destinos da República, iria consumar-se.
Iniciada a batalha, quando a sorte caía para
as forças de Pompeu graças à sua cavalaria que ameaçava aniquilar a de César,
este deslocou dois mil legionários veteranos que, de forma imprevista,
carregaram sobre o inimigo de lanças em riste. Surpreendida, a cavalaria
pompeiana de Labieno foi desbaratada. Dizimando sem dificuldade o corpo de
besteiros inimigo e contornando a infantaria, os legionários cesaristas caíram
sobre a retaguarda das legiões de Pompeu que tinham pela frente o grosso das
tropas de César, decidindo a batalha em favor de César-
Pompeu, sozinho e triste, retirou-se para o
acampamento donde fugiu em busca de um navio que o salvasse. Decapitadas, as
suas legiões, quase intactas, retiraram-se para o acampamento, resistindo e
fugindo, acabando cercadas e submetidas por César nos montes de Escotussa.
Assim
terminou a batalha de Farsália. No teatro de guerra jaziam, entre mortos e
feridos, quinze mil homens de Pompeu. Os vinte mil restantes entregaram as
armas na manhã seguinte.
Duzentas foram as baixas de César, vinte mil as
de toda a campanha. A habitual clemência deu lugar à vingança para exemplo dos
indecisos; incorporaram-se os soldados prisioneiros, executaram-se senadores e
cavaleiros, em geral, e confiscaram-se os bens dos ricos.
Reis e cidades entregaram-se. Parte dos
vencidos pediram clemência, como Bruto, filho de Servília, amante de César; outros
fugiram para Itália, como Cícero, salvo por Catão de ser executado como
traidor; outros ainda, fiéis à República mas cientes da vitória da monarquia,
seguindo voluntariamente Catão, exilaram-se em África onde planeavam reunir as forças
dispersas de Pompeu.
(Continua)
Peniche, 01 de Outubro de
2022
António
Barreto
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