Desporto

sábado, 1 de outubro de 2022

Um Pouco de História (XI)

 

De llerda a Farsália

 

    Tomada Itália, César decidiu ir no encalço de Pompeu que fizera Quartel-General na Grécia, mas tinha forças consideráveis em Espanha e em África.

    César decidiu começar pela Espanha; concentrou no Ródano nove legiões e cinco mil cavalos e seguiu para Massília - atual Marselha -, que se tinha declarado por Pompeu, pondo-lhe cerco com parte das forças, avançando com as restantes para os Pirinéus tomando posição de combate em llerda - atual Lérida.

   As forças de Pompeu, consideravelmente superiores, eram constituídas por cinco legiões, quarenta mil infantes celtiberos, cinco mil cavaleiros lusitanos e as duas legiões de Varo.

   César ganhou em llerda graças ao seu engenho; encurraladas pelos cursos de água devido ao mau tempo, que destruíra a única ponte de retirada, fragilizadas pela fome e doenças, ante a inépcia de Pompeu, César improvisou uma nova ponte e, carregando sobre o acampamento inimigo impôs-lhe a retirada para a direita do Ebro.

   Com as cidades da margem esquerda dominadas, César perseguiu o inimigo e aceitou a capitulação; libertou os oficiais e mandou os soldados, desarmados, para suas casas, os espanhóis, e para a fronteira da Gália, os italianos. As cidades pompeianas da Espanha Ulterior entregaram-se-lhe, tal como uma das legiões de Varo e, finalmente, Massília.

   Tomada Espanha seguiram-se a Sardenha e a Sicília donde Itália se abastecia de cereais. O plano de Pompeu de submeter César pela fome, fracassara.

   Cúrio o General cesarista que tomara a Sicília, seguiu para África desembarcando duas legiões e quinhentos cavalos em Adrumeto para dar combate a Varo, General de Pompeu que escapara de Espanha com a segunda legião e acampara em Utica.

   Depois de bater Varo e pôr cerco a Utica, as forças cesaristas foram derrotadas por Juba, que acorrera em socorro daquele. Cúrio, o janota de Roma, braço direito de César, que se revelara talentoso general morreria na batalha.

   Perdidas Espanha, Sardenha e Sicília, Pompeu mantinha o domínio em África e da costa oriental de Itália; no mar Adriático derrotara a esquadra cesarista de Públio Dolabela e na Ilíria forçara a capitulação de Caio António, fazendo prisioneiras quinze coortes (uma coorte era a décima parte de uma legião).

   Tomadas as providências urgentes em Roma, de que fora nomeado ditador pelo Senado, César reuniu as suas forças em Brundísio, decidido a dar batalha a Pompeu na Macedónia. Com os navios que, entretanto, mandara construir, atravessou o mar Adriático com seis legiões e seiscentos cavalos com destino a Dirráquio, que pretendia atacar logo que chegassem as restantes legiões de Brundísio.

   Porém, O filho de Pompeu - Pompeu o Jovem -, que comandava a frota deste, destroçou os navios cesaristas ao regressarem a Brundísio ficando César isolado de Itália com metade das suas legiões, com as quais pretendia atacar Dirráquio.

   Porém, Pompeu com forças duplas das de César, chegou a tempo de defender Dirráquio, deixando aquele em situação crítica, mas resolveu acampar nas proximidades aguardando reforços da Síria, considerando certa a vitória.

   Vieram sim, quatro legiões e oitocentos cavalos reforçar as tropas de César, graças ao arrojo de Marco António que as trouxe de Brundísio apesar do mau tempo e das forças pompeianas.

   Recusando-se a perseguir as tropas cesaristas em retirada convencido que se tratava de uma emboscada, Pompeu resolveu acampar, aguardando reforços e o enfraquecimento do inimigo pela fome.

   Contudo, os reforços continuaram a chegar mas para César, vindos de Itália, Quinto Cornifício juntou-se-lhe pela rota da Ilíria tal como a divisão de Calvino.

   As forças cesaristas cercaram o acampamento inimigo cortando-lhe o abastecimento de água, ao desviar o curso dos ribeiros, deixando os pompeianos desesperados. Estes investiram no litoral destruindo todos os navios de César que lá se encontravam, deixando-o ainda mais isolado. Desesperado, este, levou tudo e todos a ferro e fogo, resolvendo o problema dos abastecimentos.

   Pompeu, não percebendo o que estava a suceder, enviava mensagens triunfais para a sua esposa Cornélia. Os seus correligionários, a fina-flor de Roma, sentiam-se já livres de César embora não confiassem em Pompeu; não lhe perdoavam ter sido aliado de César e por ter restaurado o poder dos Tribunos - em 69 a. C. Bruto odiava-o por lhe ter assassinado o pai.

   A euforia era geral. Compravam-se casas em Roma com vista ao próximo ato eleitoral. Mas Favónio, que ficara a defender Dirráquio exclamava: “ Meus amigos, não será ainda este ano que comeremos os figos de Túsculo”.

   E estava certo. Era Agosto do ano 47 a. C. Os dois exércitos perfilaram-se com o ribeiro Enipeu de permeio. Quarenta e sete mil homens e sete mil cavalos de Pompeu, contra vinte e dois mil e um batalhão de cavalaria germânica de César; a fome, as doenças e as marchas forçadas tinham-lhe reduzido a metade as suas oito legiões. A batalha de Farsália, decisiva para os destinos da República, iria consumar-se.

   Iniciada a batalha, quando a sorte caía para as forças de Pompeu graças à sua cavalaria que ameaçava aniquilar a de César, este deslocou dois mil legionários veteranos que, de forma imprevista, carregaram sobre o inimigo de lanças em riste. Surpreendida, a cavalaria pompeiana de Labieno foi desbaratada. Dizimando sem dificuldade o corpo de besteiros inimigo e contornando a infantaria, os legionários cesaristas caíram sobre a retaguarda das legiões de Pompeu que tinham pela frente o grosso das tropas de César, decidindo a batalha em favor de César-

   Pompeu, sozinho e triste, retirou-se para o acampamento donde fugiu em busca de um navio que o salvasse. Decapitadas, as suas legiões, quase intactas, retiraram-se para o acampamento, resistindo e fugindo, acabando cercadas e submetidas por César nos montes de Escotussa.

    Assim terminou a batalha de Farsália. No teatro de guerra jaziam, entre mortos e feridos, quinze mil homens de Pompeu. Os vinte mil restantes entregaram as armas na manhã seguinte.

  Duzentas foram as baixas de César, vinte mil as de toda a campanha. A habitual clemência deu lugar à vingança para exemplo dos indecisos; incorporaram-se os soldados prisioneiros, executaram-se senadores e cavaleiros, em geral, e confiscaram-se os bens dos ricos.

   Reis e cidades entregaram-se. Parte dos vencidos pediram clemência, como Bruto, filho de Servília, amante de César; outros fugiram para Itália, como Cícero, salvo por Catão de ser executado como traidor; outros ainda, fiéis à República mas cientes da vitória da monarquia, seguindo voluntariamente Catão, exilaram-se em África onde planeavam reunir as forças dispersas de Pompeu.

A Batalha de Farsália, 48 a. C. (Adam Hook)

(Continua)

Peniche, 01 de Outubro de 2022

António Barreto

Sem comentários:

Enviar um comentário